Somente na primeira semana de 2023, o Distrito Federal registrou a mesma quantidade de feminicídios que todo janeiro do ano passado. Quantidade e crueldade alarmantes

 Metrópoles

Na fotografia colorida, o homem aparece na frente ameaçando agredir a mulher que tenta se proteger no chão
Hugo Barreto/Metrópoles
 

O início de ano traz números alarmantes sobre a violência contra mulheres do Distrito Federal, em comparação ao ano passado. Somente na primeira semana, a capital do país soma — com dois registros — a mesma quantidade de feminicídios que todo janeiro de 2022. Se, comparado até março, são 50% das mortes, quando 4 havia sido notificadas.

Os dados são apurados e divulgados mensalmente pela Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF).

Nas duas ocorrências de 2023, as vítimas tiveram suas vidas encerradas friamente ao serem enforcadas pelos companheiros. Na madrugada de domingo (1º/1), Fernanda Letícia da Silva, de 27 anos, foi asfixiada pelo namorado Maxwel Lucas Rômulo Pereira de Oliveira, 32, na QNP 17, em Ceilândia.

Por volta das 21h, o casal se encontrou na casa de Maxwel. Lá, Fernanda o convidou para comemorar a virada do ano. No entanto, o namorado não aceitou e falou para a mulher ficar em casa. O comentário levou a uma discussão e, em seguida, a agressões físicas entre o casal.

O namorado relatou que Fernanda teria pegado uma faca e o atingido no pescoço e no rosto. Ele tomou o objeto, disse que “apertou o pescoço” da vítima e a matou. Maxwel Lucas se apresentou à 23ª Delegacia de Polícia (Ceilândia) acompanhado de um advogado. O investigado narrou os fatos e, após os procedimentos legais, foi levado para a carceragem da PCDF.

“Falei que mataria”

Informações iniciais da investigação dão conta de que o assassinato ocorreu quando o irmão do autor estava em casa; por isso, a suspeita é de que Maxwel Lucas tenha tapado a boca da vítima, para que ela não gritasse por ajuda.

Após cometer o feminicídio, o assassino chamou os parentes e confessou o crime. Maxwel Lucas disse para a mãe que a companheira estava com a boca roxa. Antes de fugir, ainda pediu para a família “chamar a polícia para buscar o corpo”. Depois de a família constatar a morte, o criminoso chegou dizer: “Matei a Fernanda. Não acredita? Vem ver! Falei que mataria”. A extrema frieza do assassino chocou os parentes que estavam na casa.

 

Maxwel Lucas tinha histórico de violência contra a companheira. Fernanda Letícia havia denunciado o namorado à polícia em março de 2022. Testemunhas relataram que, em diversas ocasiões, o assassino batia na jovem, que desmaiava ou fingia, para tentar pôr fim às agressões.

“Não imaginávamos que acabaria assim”

A segunda vítima é a cabeleireira Mirian Alves Nunes, 26, assassinada na segunda-feira (2/1), ao ser enforcada pelo marido, André Muniz, 52, dentro de casa, em Ceilândia. Mirian deixou duas filhas, de 8 e 6 anos, além de uma recém-nascida de 1 mês, fruto do relacionamento com André e que presenciou o feminicídio.

Irmã de Mirian, Márcia Alves dos Santos, 31, contou que a cabeleireira não entrava em contato com a família havia alguns meses. “Ela saiu de casa muito jovem, para viver a vida que ela escolheu. Não imaginávamos que acabaria assim, com tanta violência. Queremos que o assassino pague pelo que fez”, cobra.

As duas filhas mais novas da vítima estão sob cuidados da família materna. A mais velha ficou com os parentes de André Muniz. “Eu gostaria muito de pedir ajuda para as filhas da minha irmã, pois uma delas está sem nada de roupas, porque ficou na casa do assassino, e não podemos ir buscar”, relata Márcia.

O autor se entregou à polícia na quarta-feira (4/1). O casal estava junto havia quase um ano, e Mirian tinha denunciado o companheiro por outras agressões. Em novembro de 2022, ele chegou a cortar os cabelos da vítima, após uma discussão motivada por ciúmes. Durante a gravidez, André violentou Mirian sexualmente, após ela dizer que iria embora de casa.

A vítima registrou boletim de ocorrência e ficou em uma Casa Abrigo, mas saiu para dar à luz a filha e reatou o relacionamento com André. No dia do assassinato, o criminoso usou um fio de varal para enforcar a vítima.

 

Mulher Mais Segura

Com foco na proteção da mulher, entre as ações do programa está o Dispositivo Móvel de Proteção à Pessoa (DMPP), mecanismo de acompanhamento, que monitora, simultaneamente, vítima e agressor, em tempo real, estabelecendo distância segura entre eles.

A partir da determinação do Judiciário local, a mulher vítima de violência recebe um dispositivo que informa a ela sobre a aproximação do agressor. Além disso, o dispositivo pode ser acionado sempre que a vítima se sentir em perigo.

Já o homem recebe uma tornozeleira eletrônica. Ambos são monitorados de forma simultânea, diretamente do Centro Integrado de Operações de Brasília (Ciob). Até o momento, 104 agressores passaram pelo monitoramento, além de 287 vítimas acompanhadas, sendo 121 pela Diretoria de Monitoramento de Pessoas Protegidas (DMPP) e 166 pelo programa Viva Flor.

Indicadores

Estudo realizado pela Câmara Técnica de Monitoramento de Homicídios e Feminicídios (CTMHF) aponta que, desde março de 2015, quando entrou em vigor a “Lei do Feminicídio”, até novembro de 2022, 74% dos casos ocorreram dentro de residências.

Os dados revelam ainda que em 86,6% dos casos a motivação foi o sentimento de posse, ciúme ou não aceitação do término do relacionamento. De março de 2015 a outubro de 2022, 71,5% das vítimas não haviam registrado ocorrências anteriores de violência doméstica pelo mesmo autor.

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     fonte: https://www.metropoles.com/distrito-federal/semana-df-feminicidios-janeiro

     

    Rio: Favela da Rocinha registra quatro feminicídios em 12 dias

    Duas prisões foram convertidas em preventiva nesta terça

     

    Publicado em 10/01/2023 - 22:55 Por Douglas Corrêa - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

    ouvir:

    A comunidade da Rocinha, na zona sul do Rio, registrou, nos últimos 12 dias, quatro crimes de feminicídio. Hoje (10), em audiência de custódia, a juíza Mariana Tavares Shu, converteu de prisão em flagrante para preventiva de Rios Loureiro de Souza Sablich, acusado pelo crime de feminicídio contra a ex-mulher Daniela Barros Soares, de 29 anos. O crime ocorreu na madrugada de ontem (9), na casa de Daniela, na Travessa Gonçalves Marinho, na favela da Rocinha. De acordo com o inquérito policial, Sablich, que, após a separação passou a morar na parte de trás da residência, atirou na cabeça de Daniela.  

    Já em outro crime, na mesma comunidade, Wendel Luka da Silva Virgílio, também em audiência de custódia realizada nesta terça-feira (10), teve a prisão em flagrante convertida em preventiva pela juíza Rachel Assad da Cunha. No domingo (8), Virgílio matou a golpes de faca a namorada Carmem Dias da Silva, na casa dela, após uma discussão. 

    Na decisão de Sablich, a juíza Mariana Tavares Shu, negou o pedido de liberdade provisória apresentado pela defesa, acolhendo o posicionamento do Ministério Público estadual pela conversão da prisão em flagrante em preventiva.  

    A juíza considerou, ainda, a crueldade e a gravidade do crime cometido na frente de um dos quatro filhos da vítima, destacando o depoimento do irmão de Sablich, Mario Andrés Sablich, no auto de prisão em flagrante do acusado.  “A gravidade da conduta é extremamente acentuada. A crueldade da ação indica a mais absoluta inadequação do custodiado ao convívio social, já que efetuou um disparo de arma de fogo contra a cabeça da vítima, a qual possuía 4 filhos, sendo dois com 3 anos, um com 7 e outro com 13 anos. Ressalte-se que o filho da vítima de 13 anos teria presenciado o delito e avisado ao tio acerca dos fatos, não havendo dúvidas de que a situação narrada causará inegáveis traumas às crianças. ”  

    Na audiência do réu Wendel Luka da Silva Virgílio, a juíza Rachel Assad da Cunha destacou a crueldade do ato cometido pelo réu como razão suficiente para manutenção da sua prisão.  

    “Consta do auto de prisão em flagrante que a vítima era companheira do custodiado e, após uma discussão, ele desferiu diversos golpes de faca contra ela, causando a sua morte. Uma testemunha chegou ao local no exato momento da prática do crime, acionando policiais militares”, escreveu a juíza. “A crueldade da ação indica a mais absoluta inadequação do custodiado ao convívio social, já que matou a própria companheira com diversos golpes de faca.”  

    Além dos crimes de feminicídio praticados contra Daniela e Carmem, Francisca Analice Mendes e Stephany Paiva foram encontradas mortas, no dia 29 de dezembro, após serem atingidas por golpes de facas. Suspeito de ter cometido os crimes, Armando Mendes, marido de Analice, foi preso no dia 30 de dezembro.  

    Edição: Fábio Massalli

    fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2023-01/rio-favela-da-rocinha-registra-quatro-feminicidios-em-12-dias

     


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