A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) teve um papel relevante na trajetória de vida de duas mulheres indígenas que acabam de ser indicadas para cargos importantes no recém-criado Ministério dos Povos Indígenas (MPI)

23/01/2023 - UFSC

Joziléia, Sonia Guajajara e Kerexu em aula magna da Licenciatura Intercultural Indígena (Foto: Henrique Almeida / Agecom-UFSC)

 

A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) teve um papel relevante na trajetória de vida de duas mulheres indígenas que acabam de ser indicadas para cargos importantes no recém-criado Ministério dos Povos Indígenas (MPI). Joziléia Kaingang será a Chefe de Gabinete e Kerexu Yxapyry assumiu o cargo de Secretária de Direitos Ambientais e Territoriais Indígenas.

Joziléia é doutoranda e mestre em Antropologia Social e foi coordenadora pedagógica da Licenciatura Intercultural Indígena (2016-2020). Participou da decisão importante de aprovar o uso das línguas indígenas brasileiras para acesso à pós-graduação, atuou em defesa da comunidade indígena e da universidade pública e gratuita para todos. É ativista dos direitos das mulheres indígenas e co-fundadora da Articulação Nacional das Mulheres Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA).

A representante do povo Kaingang conta sobre sua participação no Ministério e quais desafios tem pela frente. “Sobre a minha presença aqui no ministério, nós já temos as formações das secretarias e gabinete. O nosso pensamento é o de ter a diversidade dos povos indígenas, das regiões, biomas, territórios indígenas dentro da pasta. Para nós esse momento que vivemos de pensar as secretarias do ministério, as ações, a composição e o alinhamento com o governo atual é muito importante”, afirma a chefe de gabinete.

Joziléia fala como foi o processo de ingresso na UFSC e conta como ajudou a adicionar as línguas indígenas brasileiras no processo de ingresso à pós-graduação.  “A UFSC é parte da minha vida. Eu ingressei em 2014 após procurar as universidades do sul do país que tivessem vagas de ações afirmativas para a pós-graduação em Antropologia Social. Após entrar com o pedido eles disponibilizaram uma vaga para  indígena e uma para negros. Eu fiz a prova de proficiência em língua inglesa, mas parei para pensar que muitos dos nossos parentes não têm acesso ao inglês como língua estrangeira, lutamos para acrescentar a língua espanhola e posteriormente as línguas indígenas”, explica a ativista.

A chefe de gabinete do MPI explica a construção de sua carreira na UFSC e a importância da universidade em sua trajetória. “Eu terminei o meu mestrado em 2016, fui convidada para a coordenação pedagógica da Licenciatura Intercultural Indígena, permaneci com a licenciatura até a finalização do curso. Em 2018, eu ingressei no curso da pós-graduação no doutorado em Antropologia Social e estou finalizando. Para mim a UFSC foi muito importante, pois eu venho de uma família Kaingang muito forte no Rio Grande do Sul. Já tô em Santa Catarina há mais de duas décadas. Considero muito importante ter a presença dos  indígenas dessa representação dos três povos indígenas na Universidade Federal de Santa Catarina, nesse curso que forma professores que têm essa responsabilidade de dar esse retorno nas suas comunidades formando os nossos estudantes”, exprime Joziléia. O curso de Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica é voltado para os povos Guarani, Kaingang e Laklãnõ-Xokleng.

Momento ímpar

 

Jozileia e Kerexu (Foto: arquivo pessoal Kerexu)

Kerexu Yxapyry é professora e gestora ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), tendo ingressado na primeira turma do curso de Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica e concluído o curso em 2015. Em 2011, cursou o Magistério Bilíngue Kuaa mbo’e (Conhecer e Ensinar) na Escola Ivo Silveira, em Palhoça. Mais recentemente, tornou-se também pesquisadora, mestranda em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Socioambiental na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) desde 2021. Nas eleições de 2022, Kerexu se apresentou como a primeira mulher indígena candidata a deputada federal por Santa Catarina e obteve 35 mil votos.

A representante do povo Guarani fala o que sentiu ao assumir a nova pasta. “Assumir o Ministério dos Povos Indígenas está sendo uma experiência muito emocionante. Eu ainda estou nessa transição da aldeia para o ministério. Estamos entendendo a estrutura das políticas do governo e está sendo um momento ímpar. Precisamos dar nosso melhor para que esse seja só o início de um ministério que vá durar um bom tempo”, expõe a secretária.

Kerexu segue explicando como a UFSC ajudou na construção da sua carreira. “Sim, eu acredito que a universidade foi uma oportunidade que me ajudou a trilhar minha carreira. É um dos espaços que me trouxe esse currículo para que eu conseguisse chegar onde cheguei. Esse diploma da Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica é muito simbólico para a minha vida e para a vida de todas as lideranças que lutaram para conseguir esses espaços. É muito importante na minha vida estar hoje dentro do governo”, declara a professora.

A gestora ambiental apresenta as prioridades da gestão e explica como funciona a sua secretaria. “A secretaria que  comando tem a função de fazer o planejamento e coordenar as políticas de demarcação de territórios das terras indígenas. Essa articulação vai ser trabalhada diretamente com a Funai. Vamos fazer o diálogo com os órgãos e entidades de administração pública e cuidar da questão de vigilância, monitoramento, fiscalização e prevenção de conflitos em terras indígenas. Nós vamos prezar também pela transversalidade com os outros ministérios. O que estamos vivenciando é um marco histórico na nossa luta. Os objetivos continuam sendo os nossos territórios e a demarcação de terras indígenas”, esclarece a representante.

Vitórya Navegantes/Estagiária da Secretaria de Comunicação/UFSC

fonte: https://noticias.ufsc.br/2023/01/ufsc-ajudou-a-formar-indigenas-que-vao-atuar-no-ministerio-dos-povos-indigenas/

 


Inscreva seu email

Cfemea Perfil Parlamentar

logo ulf4

Aborto Legal

aborto legal capa

Direitos Sexuais e Reprodutivos

logo ulf4

Cfemea Perfil Parlamentar

logo ulf4

Tecelãs do Cuidado - Cfemea 2021

Violência contra as mulheres em dados

Rita de Cássia Leal Fonseca dos Santos

Ministério do Planejamento
CLIQUE PARA RECEBER O LIVRO (PDF)

marcha das margaridas agosto 2023

Estudo: Elas que Lutam

CLIQUE PARA BAIXAR

ELAS QUE LUTAM - As mulheres e a sustentação da vida na pandemia é um estudo inicial
sobre as ações de solidariedade e cuidado lideradas pelas mulheres durante esta longa pandemia.

legalizar aborto

Artigos do Cfemea

Mulheres do Distrito Federal se preparam para receber a Marcha das Margaridas. Cfemea presente!

Dezenas de ativistas do Distrito Federal se reuniram em Plenária para debater e construir a Marcha das Margaridas. A marcha já é um dos maiores eventos feministas antirracistas do Brasil.

Congresso: feministas mapeiam o conservadorismo

Pesquisa aponta: só mobilização pode superar conservadorismo do Congresso. Lá, 40% alinham-se ao “panico moral”; 57% evitam discutir aborto; 20% são contra atendimento às vítimas e apenas um em cada cinco defende valores progressistas

Eleições: O “feminismo” de fundamentalistas e oligarcas

Candidaturas femininas crescem no país, até em partidos conservadores. Se o atributo de gênero perde marcas pejorativas, desponta a tentativa de passar ao eleitorado uma receita morna de “defesa das mulheres” – bem ao gosto do patriarcado

A pandemia, o cuidado, o que foi e o que será

Os afetos e o cuidar de si e dos outros não são lugar de submissão das mulheres, mas chave para novas lutas e processos emancipatórios. Diante do horror bolsonarista, sangue frio e coração quente são essenciais para enfrentar incertezas, ...

Como foi viver uma Campanha Eleitoral

ataques internet ilustracao stephanie polloNessa fase de campanha eleitoral, vale a pena ler de novo o artigo que Iáris Cortês escreveu uns anos atrás sobre nossa participação em um processo eleitoral

Dezesseis anos da Lei 11.340, de 07/08/2006, Lei Maria da Penha adolescente relembrando sua gestação, parto e criação

violencia contra mulherNossa Lei Maria da Penha, está no auge de sua adolescência e, se hoje é capaz de decidir muitas coisas sobre si mesma, não deve nunca esquecer o esforço de suas antepassadas para que chegasse a este marco.

Como o voto feminino pode derrubar Bolsonaro

eleicoes feminismo ilustracao Thiago Fagundes Agencia CamaraPesquisas mostram: maioria das mulheres rechaça a masculinidade agressiva do presidente. Já não o veem como antissistema. Querem respostas concretas para a crise. Saúde e avanço da fome são suas principais preocupações. Serão decisivas em outubro. (Ilustração ...

Direito ao aborto: “A mulher não é um hospedeiro”

feministas foto jornal da uspNa contramão da América do Sul, onde as mulheres avançam no direito ao próprio corpo, sociedade brasileira parece paralisada. Enquanto isso, proliferam projetos retrógrados no Congresso e ações criminosas do governo federal

As mulheres negras diante das violências do patriarcado

mulheres negras1Elas concentram as tarefas de cuidados e são as principais vítimas de agressões e feminicídios. Seus filhos morrem de violência policial. Mas, através do feminismo, apostam: organizando podemos desorganizar a ordem vigente

Balanço da ação feminista em tempos de pandemia

feminismo2Ativistas relatam: pandemia exigiu reorganização política. Mas, apesar do isolamento, redes solidárias foram construídas – e o autocuidado tornou-se essencial. Agora, novo embate: defender o direito das mulheres nas eleições de 2022

nosso voto2

...