Os vestígios do 8 de janeiro ainda assombram a Esplanada, mas o governo faz um aceno para a reconstrução do Brasil. Em encontro com representantes da mídia independente, Lula diz que quem derrota o fascismo é o povo organizado.

 

Café da manhã com Mídia Independente e Alternativa. Palácio do Planalto. Brasília - DF. Foto: Ricardo Stuckert/PR

 

POR MARCOS QUEIROZ - Jacobin

Ao se aproximar do Palácio do Planalto, é possível ver o estrago causado pela tentativa de golpe ocorrida no início do ano. Vidros quebrados, faixas sinalizando áreas interditadas, banheiros destruídos, pias e vasos sanitários arrancados e reforço na segurança. De alguma forma, percebida no semblante de funcionários ou de visitantes, paira a lembrança do levante fascista. A memória recente ainda impregna o ambiente.

Para um neto de retirante nordestino que trabalhou na construção de Brasília como candango, ver toda aquela destruição causa um amargo particular. Mais do que sedes dos três poderes, os prédios da Esplanada representam a história da luta por democracia e soberania, com suas contradições, dissabores e utopias. Edifícios que ganharam vida não só com os figurões que ali desfilam de terno e gravata cotidianamente, pois também foram erguidos pelos sonhos e a força da classe trabalhadora brasileira. Mais do que danos materiais, a fúria do 8 de janeiro tentou vilipendiar a potência de outro futuro, inscrita no concreto da capital federal e intrínseca a todo regime democrático.

Com a intenção de afastar a pesada nuvem autoritária que permeou a relação do Palácio do Planalto com a imprensa nos últimos quatros anos, o presidente Lula realizou na manhã de hoje um encontro com representantes da mídia independente. Lá estavam veículos de comunicação que expressavam pluralidade de pautas: população negra, periferias, questão agrária, cobertura do Congresso, segurança pública, orçamento participativo, democratização da imprensa e outras mais. Veículos e temas que, nos últimos tempos, encontraram não só portas fechadas no Planalto, mas também de lá receberam os mais infames ataques. Ao abrir sua fala, o presidente ressaltou a disposição para o diálogo e o anúncio de novos tempos no contato do poder executivo com jornalistas. Da mesma forma, diante da escalada autoritária, enfatizou o papel exercido pela comunicação alternativa na defesa da democracia.

Entre perguntas sobre independência do Banco Central, reversão de privatizações, relação com parlamentares envolvidos na sua perseguição política e o papel das Forças Armadas, Lula insistiu que apesar de importante, um governo por si só não é capaz de derrotar a extrema direita. “Não se derrota o fascismo do dia para a noite. O papel não é de Lula, mas da sociedade. Que não se pode acomodar. A luta continua até a vitória”.

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Marcos Queiroz, editor da Jacobin Brasil, com a quinta edição da revista e o presidente Lula.

Particularmente no campo da comunicação social, o presidente destacou três aspectos essenciais para reverter o que ele chamou de “criação de uma humanidade desumana” em decorrência das fake news e do ódio: controle das empresas de aplicativo para que não circulem mensagens falsas; responsabilização e exposição daqueles que praticam e financiam a violência política gratuita; e construção de narrativas contra-hegemônicas, capazes de impregnar valores emancipatórios na população.

Dialogando com o questionamento de Matheus Alves, do Alma Preta, que indagou qual a contrapartida do Estado brasileiro em relação ao papel cumprido pela mídia alternativa na defesa da democracia, Paulo Pimenta, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (SECOM), anunciou o retorno das políticas de fomento. Em certa sintonia com a entrevista de Célio Turino publicada ontem pela Jacobin, a fala do ministro destacou a importância de recursos públicos para auxiliar redes de veículos independentes, enraizadas nos territórios e pautadas pela cultura cidadã. Recursos importantes tanto para necessidades materiais, como para a capacitação de novos comunicadores, diversificando vozes na arena política. 

Na última fala do encontro, Lula reclamou que à exceção de Matheus, mais ninguém exigiu políticas e recursos para a imprensa independente. Talvez a deixa do presidente seja um alerta e um chamado: para que não haja mais outros 8 de janeiro, não basta que a sociedade civil volte a frequentar a Esplanada dos Ministérios. É necessário que os movimentos e organizações cobrem, pressionem e pautem a agenda do Planalto. Pois como o próprio presidente disse e a história recente do Brasil ensina, quem derrota o fascismo não são governos, é o povo.

 

Sobre os autores

 

é editor da Jacobin Brasil e Doutor em Direito pela Universidade de Brasília. Professor do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP).


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