Mulheres de Fortaleza pedem por justiça no maior julgamento de violência policial do ano

Começa no dia 20 de junho o julgamento dos 34 policiais militares acusados de matar 11 pessoas na Chacina do Curió, ocorrida em 2015, na Grande Messejana, periferia de Fortaleza. Desde então, mães e familiares da vítimas lutam por justiça, articuladas com movimentos de mulheres de todo o país. Depois de sete anos e meio, elas estarão frente a frente com os executores de seus filhos, maridos, irmãos. Esse será o maior julgamento do ano no país e o que tem o maior número de militares no banco dos réus desde o massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido em 2006, no Pará

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Famílias enlutadas choram perdas e tentam lidar com os traumas e a saudade

Darcianne Diogo
Carlos Silva*
Mila Ferreira
postado em 12/02/2023 06:00 / atualizado em 12/02/2023 00:00 - Correio Braziliense
 
 
 (crédito: Fotos: Arquivo pessoal)
(crédito: Fotos: Arquivo pessoal)
 

Na capital do país os feminicídios deixam, em média, 41 órfãos por ano. Nos primeiros 35 dias de 2023, no entanto, essa média ficou bem acima da registrada: nove filhos e filhas já perderam as mães, assassinadas em razão de gênero. Os dados são resultado do cruzamento das estatísticas do governo e levantamento de reportagens sobre os casos mais recentes ocorridos no DF. 

Aos 49 anos, Jaqueline Guimarães custou a se dar conta de que estava enterrando a irmã caçula, Izabel Guimarães, 36, assassinada com um tiro na cabeça disparado pelo namorado. A sobrinha dela, de apenas 10 anos, assistiu à barbárie. "Por mais que a amemos, ela (filha de Isabel) nunca vai esquecer a violência vivida. Vai sempre se lembrar de ter ficado abraçada ao corpo ensanguentado da mãe", lamentou, aos prantos, em tom de revolta.

O depoimento de Jaqueline ao Correio é entrecortado por pausas, como se ela buscasse as palavras mais apropriadas para expressar a extensão do vazio e da preocupação com a sobrinha. "As pessoas ficam dizendo para (eu) ser forte, que a vida continua. Eu não quero ser forte. Eu não consigo ser forte. É tudo muito injusto e, ainda que esse assassino pegue pena máxima, essa dor jamais vai passar."

Traumas antes e depois

A psicóloga Jhanda Siqueira explica que o trauma da violência contra a mulher antecede o feminicídio e também pode gerar sequelas para a vida toda. Nas palavras dela, ninguém passa ileso por uma violência, fato que gera em crianças, adolescentes e jovens, sensação de abandono e solidão porque as pessoas que deveriam estar passando segurança estão mostrando agressão.

Quando as agressões psicológicas, verbais e físicas culminam com o assassinato da mãe e esse filho presencia o crime, o trauma ocorre em diversos níveis. "A criança sente que não tem valor, pois ao ver o pai matando a mãe, sente que o pai, de certa forma, também está matando a sua existência. O luto da criança tem vários sentimentos envolvidos: medo de todos, falta de vínculo seguro na vida, entre outros. Entre as consequências, estão o risco de depressão, ansiedade ou o Transtorno do Deficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Ela também pode se tornar agressiva", acrescenta a psicóloga.

A profissional explica ainda que o ideal é que as crianças que passam por esse tipo de trauma tenham acompanhamento psicológico e psicopedagógico até a vida adulta para que não se tornem adultos disfuncionais. "A tendência é que o trauma gere dificuldade de confiar nela mesma e nos outros. Pode também se transformar em uma pessoa abusiva, por espelhar o comportamento do pai. Elas se identificam com o agressor como forma de defesa, o que pode fazer com que nunca se relacionem de forma equilibrada", destaca Jhanda.

Para a copeira Márcia Santos, 33, a dor de perder a irmã Mirian Nunes, 26 anos, morta, asfixiada, pelo ex-companheiro Maxwel Lucas Rômulo Pereira de Oliveira, 32, é um fardo pesado demais para a família. "Eu e meu irmão estamos tentando ajudar minha mãe a seguir. Ela está vivendo um dia de cada vez e busca forças nos filhos e netos. Posso dizer que um pedaço dela foi embora (com Mirian)", descreveu.

Mirian teve três filhas: Lara Sofia, 6, Ana Mikaela, 8, e Maria Alice, 2 meses. Com um fio de voz, a tia das crianças conta que elas ainda não conseguiram processar que a mãe não voltará mais para casa. A mais velha, Mikaela, fez um desenho da mãe no caixão. A do meio, Sofia, não consegue se referir à mãe no passado. "Dia desses, ela falou algo que me marcou muito. Disse que não podia ficar longe da mãe, pois poderia adoecer. Tive que explicar que a Mirian não está mais aqui. Agora, vive no céu", relatou aos prantos. O Correio tentou contato com os familiares de Jeane, Giovana e Fernanda, mas eles preferiram não se manifestar.

O aumento das estatísticas comprova que, por mais que o governo anuncie medidas para conter os assassinatos de mulheres em razão de gênero, elas não têm dado respostas concretas para conter o avanço desse tipo de crime. Entre 2015 e novembro de 2022, houve 152 feminicídios no DF.  

 

fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/cidades-df/2023/02/5072851-orfaos-dos-feminicidios-em-media-41-criancas-e-adolescentes-ficam-sem-maes-no-df.html


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