Erika Hilton e Duda Salabert pretendem investir no diálogo para aprovar projetos em um Congresso conservador. Saúde, educação, combate à fome e defesa do meio ambiente são prioridades de seus mandatos.

Por Beatriz Borges e Luiz Felipe Barbiéri, g1 — Brasília


 

Pela primeira vez na história a Câmara tem deputadas transexuais. Erika Hilton (PSOL-SP) e Duda Salabert (PDT-MG) chegaram ao Congresso em fevereiro, com o início da nova legislatura. Ao g1, elas falaram sobre as impressões dos primeiros dias de seus mandatos históricos, a atuação que pretendem ter na Câmara e os desafios que devem encontrar em um ambiente majoritariamente conservador.

Erika era vereadora na cidade de São Paulo. Duda atuava como vereadora em Belo Horizonte. As primeiras semanas no Congresso têm servido para conhecer o novo ambiente de trabalho e traçar estratégias.

Questionadas sobre suas prioridades, as duas deputadas fazem uma ressalva em comum: não querem se ligar exclusivamente às chamadas pautas identitárias.

 
“É curioso, por eu ser uma travesti, por eu ser uma transexual, a sociedade quer me limitar ao debate especificamente LGBT. Eu carrego a pauta LGBT no corpo, mas eu sou uma professora. Eu dou aula há mais de 20 anos, então a principal pauta nossa é educação, junto também a questão ambiental, sou ambientalista”, afirmou Duda Salabert.

“Aqui no parlamento eu estou para construir políticas públicas pautadas nas bandeiras que para mim são caras: educação, meio ambiente e direitos humanos”, acrescentou.

Erika Hilton argumenta que tratar de temas como saúde, educação e combate à pobreza também é uma forma de contribuir para a pauta identitária.

“É preciso se romper com essa ideia de que o tema das identidades estão cristalizados em uma pauta única que é só sobre aquilo. Identidades também estão na comida das pessoas negras, das LGBTs a quem faltam a comida. São elas que são expulsas do ambiente escolar. Então nós temos muitas pautas a serem trabalhadas. A fome é uma pauta prioritária”, defendeu a parlamentar.

Ela pretende dar especial em atenção à saúde, com foco em políticas públicas que levem em conta as particularidades das população.

“O tema da saúde é um tema que para nós tem sido cada vez mais caro. Em São Paulo, consegui junto à prefeitura a criação do primeiro ambulatório de saúde integral da população trans-travestis. Acho que essa tem que ser uma política nacional, discutir a saúde da população e discutir a saúde da população com as suas particularidades”, explicou.

 

Busca por espaços em comissões

A deputada Erika Hilton (PSOL-SP) em discurso no plenário da Câmara no dia 8 de março — Foto: Pablo Valadares/ Câmara dos Deputados

A composição das comissões temáticas da Câmara ainda não está definida. Partidos e parlamentares têm se movimentado nos últimos dias para fechar acordos e ocupar os espaços de poder dentro dos colegiados.

O número de cadeiras de cada partido dentro de uma comissão é definido pelo tamanho da bancada, e a indicação do nome do parlamentar é atribuição das legendas. Cabe às comissões analisar e votar projetos em tramitação na Câmara.

Duda é uma das deputadas que, nos bastidores, disputam a presidência da comissão do Meio Ambiente. Ela também reivindicou ao partido uma vaga nas comissões de Educação e de Segurança Pública, algumas das principais da Casa.

 

Erika também quer uma vaga na comissão de Segurança Pública e um espaço na de Direitos Humanos, que considera “extremamente importante”.

“É uma comissão que se ramifica em muitos outros aspectos. Dá para trabalhar pautas inúmeras dentro da Comissão de Direitos Humanos. Então tenho pensado muito nessa comissão”, relatou.

Embate com o conservadorismo

A deputada Duda Salabert discursa no plenário da Câmara — Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

A exemplo do que já havia acontecido em 2018, em 2022 foi eleita uma Câmara de perfil majoritariamente conservador, o que representa um desafio para a tendência política representada por Erika e Duda.

Para Duda, o problema não é o conservadorismo em si, mas a falta de disposição ao diálogo de alguns políticos.

 

“O problema é quando não conseguimos construir pontes, porque há de um outro lado uma postura autocrática que impossibilita qualquer tipo de diálogo, qualquer tipo de consenso”.

Erika entende que será preciso um certo "malabarismo" para conseguir levar adiante projetos que considera importantes.

“Eu acho que é um pouco também desse malabarismo que a gente faz e precisa fazer mesmo na política para não morrer e para pautas tão importantes não caírem no esquecimento, não serem engolidas. Essa para mim é a missão mais importante: olhar para trás e dizer 'eu deixei alguma coisa”, ressaltou.

Pauta LGBTQIA+

Duda entende que ocupar um espaço no Congresso é o caminho para lutar por políticas públicas que possam tirar o Brasil do primeiro lugar do ranking de assassinatos de travestis e transexuais, posição que o país ocupa há 14 anos consecutivos.

“Nós nunca fomos pauta da esquerda, da direita, do centro, de nenhum lugar. Daí a importância de estarmos aqui para vocalizar esse discurso, essa pauta, essa bandeira historicamente alijada da política pública brasileira”, enfatizou a deputada.

Para Erika, a eleição das parlamentares trans vai ajudar a desmistificar a pauta da comunidade LGBTQIA+ e levar o debate para toda a sociedade.

 

“Eu acho que a minha voz tem um papel importante. Primeiro, de desmistificar, humanizar e consolidar um debate, não apenas com a comunidade, mas com toda a sociedade”, destacou.

 

fonte: https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/03/12/primeiras-deputadas-trans-da-historia-da-camara-nao-querem-se-limitar-a-pautas-identitarias-e-miram-comissoes-da-casa.ghtml

 

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