Quase lá: No Rio, Grito dos Excluídos pede protagonismo para o povo brasileiro

Movimentos sociais defendem outra forma de independência

 
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Rio de Janeiro (RJ), 07/09/2023 – 29º Grito dos Excluídos protesta pelas ruas do centro do Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil© Tomaz Silva/Agência Brasil

 

Publicado em 07/09/2023 - 16:35 Por Bruno de Freitas Moura - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

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Enquanto os últimos militares terminavam o tradicional desfile de 7 de setembro na Avenida Presidente Vargas, umas das principais do centro do Rio de Janeiro, um outro ato tomou parte da via nesta quinta-feira (7). Rostos – na maioria de pessoas negras – representavam os protagonistas da 29ª edição do Grito dos Excluídos e Excluídas.

A manifestação ocorre sempre no feriado da Independência, em todos os estados do país, e leva para as ruas reinvindicações de movimentos sociais, especialmente das minorias políticas. O tema da edição deste ano é “Você tem fome e sede de quê?”.

“Fazer uma pergunta vem da tradição da educação popular. A gente faz a pergunta e isso desencadeia uma reflexão”, explicou à Agência Brasil a economista e educadora popular Sandra Quintela, uma das organizadoras do ato.

Problema da fome

O questionamento chama a atenção para o problema da fome no país. Cerca de 70,3 milhões de pessoas vivem em insegurança alimentar, ou seja, não sabem se vão conseguir comida suficiente, e 21 milhões não têm o que comer todos os dias, de acordo com um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU).

“É muita gente. É quase metade da população que não tem garantido o direito à alimentação”, lamenta Sandra. A organizadora explica que há “outras fomes” da população brasileira, como fome por justiça e por um ambiente sadio.

Povo protagonista

Sandra criticou a militarização do desfile de 7 de setembro. “Como é que se comemora a independência de um país soberano com um desfile militar? A soberania está nos militares ou no povo brasileiro? A gente está dizendo que está no povo brasileiro, por isso que a gente está aqui hoje”, explica. Para ela, o povo precisa de mais protagonismo.

“O Brasil tem que ser construído de baixo para cima. Nós acreditamos que o nosso planalto é a planície, onde está realmente o povo brasileiro, na luta pela sobrevivência e pelo bem-estar”, afirmou, fazendo referência ao Planalto Central, onde fica a capital do país, Brasília.

Entre os temas lembrados pelos manifestantes, bandeiras como a defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), direitos de povos indígenas, igualdade racial, direito à moradia, trabalho digno e educação. Houve espaço também para críticas ao governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro, por causa de operações policiais em favelas, e ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

Mortes nas favelas

A manifestação contou com grupos de mães que perderam os filhos para a violência. Uma das fundadoras do Movimento Mães de Manguinhos, Fátima Pinho levava uma faixa com fotos de jovens mortos. Entre eles, o filho dela, Paulo Roberto Pinho de Menezes, assassinado na comunidade em 2013, aos 18 anos. A família responsabilizou abusos de policiais pela morte do rapaz.

Com o filho Antony Davi, de 3 anos, no colo, Fátima acredita que o ato, além de um pedido de reparação para várias famílias, é importante também para as futuras gerações. “Essa luta é para mantê-lo vivo e para ele entender o porquê da nossa luta. Eu o trago com o maior prazer”, afirmou.

Dados da plataforma Fogo Cruzado mostram que 16 crianças foram baleadas na região metropolitana do Rio, em 2023. Dessas, sete morreram.

"Não haverá independência e soberania enquanto o Estado matar a juventude pobre e negra nas favelas. Favela e periferia não são territórios inimigos", discursou o deputado federal Tarcísio Motta (PSOL-RJ). "Estamos na rua porque sabemos que é o povo na rua e organizado que será capaz de mudar essa realidade. Estamos dizendo que democracia é gente na rua, gente organizada e gente no poder", complementou.

Outras lutas

O pedido por mais representatividade para minorias esteve presente no Grito dos Excluídos.

“A representatividade é um fator primordial, sobretudo, da população negra, quilombola, periférica, favelada. Estar nesse movimento é uma forma de reafirmar a nossa identidade”, avalia Roberto Gomes do Santos, que faz parte da coordenação do Quilombo da Gamboa, na região central do Rio.

Representante da população LGBTQIA+, Katiaa Dami acha que “a importância de estar na manifestação é fazer a voz ecoar, se empoderar” e fazer a sociedade perceber a luta de minorias. “O povo periférico, preto, trabalhador, LGBTQIA+ está na luta, e a gente não pode parar”, completou a moradora do conjunto de comunidades da Maré, na zona norte do Rio.

A aluna de direito Giovanna Almeida, representante do Diretório Central de Estudantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), defende mais participação de estudantes em manifestações populares. “A gente tem feito esse esforço de mobilizar o movimento estudantil para também cumprir esse papel de fazer as denúncias no campo da educação.”

Três décadas de Grito

A um ano de o movimento completar três décadas, a organizadora Sandra Quintela entende que tantas edições realizadas são uma prova de resiliência do ato. Mas sonha com um dia em que o Grito dos Excluídos não seja mais necessário. “A gente luta por um mundo de justiça, no dia que não tiver injustiça, a gente para. Mas vai demorar... Independentemente de qual seja o governo, nós estamos aqui sempre e esperamos que um dia não precisemos mais estar aqui”, vislumbra.

A manifestação desta quinta-feira percorreu cerca de 1 quilômetro e terminou na Praça Mauá.

Edição: Juliana Andrade

fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2023-09/no-rio-grito-dos-excluidos-pede-protagonismo-para-o-povo-brasileiro

Contra a fome e pela prisão de Bolsonaro: Grito dos Excluídos e das Excluídas toma as ruas com atos em todas as regiões do país


Milhares de pessoas levaram bandeiras de luta para as mobilizações em cidades de norte a sul do Brasil nesta quinta (7)



Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) | 07 de Setembro de 2023 às 18:08

 


Milhares de pessoas foram as ruas em municípios de todas as regiões do país nesta quinta-feira, 7 de setembro, para a 29ª edição do Grito dos Excluídos e das Excluídas. Mais uma vez, a manifestação no Dia da Independência fez ecoar a voz de pessoas e organizações marginalizadas.Com o mote comum "Você tem fome e sede de quê?", os manifestantes pediram alimentação digna para todas e todos. Em cada localidade, os grupos agregaram outras pautas e também lutaram por causas que afligem suas populações.

Além disso, no primeiro Grito após o fim do governo de Jair Bolsonaro (PL), os participantes demonstraram apoio à prisão do ex-presidente, investigado por uma série de supostos crimes. Confira abaixo imagens e relatos sobre alguns dos atos realizados nesta quinta.

Belém (PA)

Ato na capital paraense homenageou defensores e defensoras de direitos humanos mortos na região amazônica / Carlinhos Luz

Estudantes, indígenas, representantes de movimentos populares, entidades religiosas e sindicatos se reuniram para a marcha do Grito dos Excluídos e das Excluídas em Belém (PA). Centenas de pessoas tomaram as ruas da cidade, e pediram justiça por Bruno Pereira e Dom Phillips, Dorothy Stang, Dilma Ferreira da Silva, Chico Mendes, Padre Josimo e outras lideranças vítimas da violência contra defensoras e defensores de direitos humanos na região amazônica.

Blumenau (SC)

Ato ocupou as ruas da cidade do Vale do Itajaí / Coletivo de Comunicação do MST em Santa Catarina

Em Blumenau (SC), representantes de movimentos populares foram às ruas da região central pra um chamado à união de trabalhadores e trabalhadoras. Famílias integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e apoiadores levaram produtos dos assentamentos da região para mostrar os frutos de seu trabalho.

Curitiba (PR)

Representantes de povos indígenas participaram do ato na capital paranaense / Juliana Barbosa / MST-PR

Organizações indígenas, movimentos populares, representantes do movimento negro, pastorais sociais, grupos religiosos e sindicatos se uniram para o Grito dos Excluídos e das Excluídas em Curitiba (PR). O grupo saiu do Centro de Formação Santo Dias, na histórica Vila Torres, e foi até a Casa de Passagem Indígena (Capai), conquista recente do movimento. O ato contou ainda com a distribuição de almoço para mais de 500 pessoas pelo Marmitas da Terra e pelo MST.

Fortaleza (CE)

Representantes de movimentos se reúnem para realização do ato do Grito dos Excluídos e das Excluídas em Fortaleza / Aline Oliveira

Uma manifestação nascida das raízes da sociedade e das lutas populares por direitos. O ato do Grito dos Excluídos e das Excluídas em Fortaleza (CE) reuniu centenas de pessoas e muitas entidades com o objetivo de unir o campo e a cidade na periferia, denunciando as diversas formas de exclusão em uma das maiores cidades do país. 

Goiânia (GO)

Arcebispo liderou a organização do ato na capital goiana / Divulgação/Equipe Adriana Accorsi

Em Goiânia (GO), o ato do Grito dos Excluídos teve participação fundamental da igreja católica, que teve uma importante mudança de posicionamento na cidade depois da chegada do arcebispo Dom João Justino, que assumiu o cargo em fevereiro de 2022. Os participantes se uniram à Ocupação Paulo Freire, no Setor Solar Ville, para se manifestar pelos direitos das pessoas marginalizadas.

Maceió (AL)

 

Manifestantes se concentraram no centro da capital alagoana / Mykesio Max

Organizações populares do campo e da cidade se uniram para o Grito dos Excluídos e das Excluídas em Maceió (AL). Os participantes do ato desfilaram pelo mesmo percurso onde passou o desfile cívico do Dia da Independência, e lideranças foram recebidas pelo vice-governador Ronaldo Lessa, que está chefiando o executivo na ausência do governador Paulo Dantas, que está em viagem à China.

Presidente Prudente (SP)


Ato em Presidente Prudente aconteceu durante Feira da Reforma Agrária / Diógenes Rabello

Em uma cidade fortemente envolvida com o agronegócio, o Grito dos Excluídos e das Excluídas de Presidente Prudente (SP) se uniu aos participantes da Feira da Reforma Agrária. Em luta por direitos e igualdade, os representantes de movimentos populares, organizações religiosas e outras lideranças falaram à população sobre os desafios enfrentados na cidade.

Rio de Janeiro (RJ)


Participantes de manifestação no Rio de Janeiro se reúnem na Praça Mauá, região central da cidade / Pablo Vergara

O combate à violência deu o tom do ato do Grito dos Excluídos e das Excluídas no Rio de Janeiro (RJ). Mães e outros familiares de pessoas vítimas do Estado levaram cartazes e mensagens pedindo Justiça. Em pauta também luta por moradia, contra a fome e a desigualdade.

São Leopoldo (RS)


Manifestação em São Leopoldo / Katia Marko

O ato do Grito dos Excluídos e das Excluídas em São Leopoldo, na região metropolitana de Porto Alegre, foi marcado pela emoção. Pelo menos 39 pessoas morreram vítimas das chuvas no estado nos últimos dias, e foram homenageadas. O ato, inclusive, foi realizado em um espaço fechado devido às condições climáticas. Foi feito o anúncio da instalação de uma cozinha comunitária em Encantado para distribuir alimentos às famílias vítimas das enchentes.

São Mateus (ES)


Sem terrinhas participaram do ato na cidade capixaba / Comunicação MST

Estudantes da Escola Municipal Assentamento Zumbi dos Palmares, do MST, participaram do ato do Grito dos Excluídos e Excluídas em São Mateus (ES). Mais de 140 educandas e educandos vivenciaram atividades pedagógicas sobre o tema durante a semana e nesta quinta levaram reflexões sobre o tema à marcha.

São Paulo (SP)


Ruas da capital paulista foram tomadas por participantes do ato / Elineudo Meira/@fotografia.75

Milhares de pessoas foram às ruas na maior cidade do país neste 7 de setembro em defesa de direitos sociais e pela prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro. O ato, como é tradicional, transcorreu de forma pacífica, mas policiais militares foram enviados para proteção do Monumento às Bandeiras, homenagem aos bandeirantes paulistas, os descendentes de europeus que percorreram o país em busca de ouro e escravos no período colonial. 

Senhor do Bonfim (BA)


Manifestação em Senhor do Bonfim / Cícero Oliveira

Agricultoras e agricultores do MST na Regional Norte da Bahia, que fazem parte da Brigada Egídio Brunetto, participaram do Grito dos Excluídos na cidade baiana de Senhor do Bonfim, junto a representantes outros movimentos populares, sindicatos e outras organizações.

Edição: Geisa Marques

fonte: https://www.brasildefato.com.br/2023/09/07/contra-a-fome-e-pela-prisao-de-bolsonaro-grito-dos-excluidos-e-das-excluidas-toma-as-ruas-com-atos-em-todas-as-regioes-do-pais

 


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