No coração do Brasil, em nossa capital, mulheres negras representam um robusto 35,9% da população acima de 14 anos
A ginástica artística mundial não é apenas um espetáculo de força e graça, mas também um palco, onde a história é escrita e reescrita. Recentemente, um evento emblemático iluminou os ginásios: mulheres negras não somente competiram, mas dominaram o pódio, enviando uma mensagem poderosa que reverbera por todos os setores da sociedade. Essa imagem é um sinal de esperança e mudança, uma prova de que, passo a passo, a luta pela equidade de oportunidades ganha terreno no Distrito Federal e além.
Vamos falar sobre números? Eles oferecem um olhar mais profundo sobre essa jornada. No coração do Brasil, em nossa capital, mulheres negras representam um robusto 35,9% da população acima de 14 anos, segundo dados recentes de julho de 2023. Isso equivale a 1.264 mulheres negras prontas para, e merecendo, oportunidades de trabalho dignas na Área Metropolitana de Brasília (AMB).
A alta participação dessas mulheres na População em Idade Ativa (PIA) reflete um progresso lento, porém significativo, na inclusão da força de trabalho feminina negra nos diversos setores da economia. No Distrito Federal, essas mulheres representam 33,6% da PIA e, na periferia metropolitana, a proporção é ainda mais expressiva — 42,1%. Ainda assim, não podemos ignorar a disparidade que persiste no mercado de trabalho, em que a presença feminina negra é marcada por altas taxas de inatividade e desemprego.
Embora sejam maioria populacional na AMB, sua participação efetiva no mercado de trabalho é desproporcionalmente menor: 52,4% na periferia e 38,4% no Distrito Federal estão inativas. Pior ainda, representam 41,3% dos desempregados na Região Metropolitana, apesar de serem apenas 32,8% da força de trabalho.
Nos esportes, cada vitória das ginastas negras é mais do que uma conquista individual — é um avanço coletivo, um motivo de celebração para toda a comunidade negra que ainda luta por visibilidade e igualdade no Brasil. E não é só no esporte que essas vitórias têm impacto. Na psicanálise, entendemos que são essenciais para a saúde mental coletiva, pois reforçam uma narrativa de competência e valor. Na arena corporativa, cada passo adiante tomado por uma mulher negra, seja uma promoção ou a obtenção de um cargo de liderança, rompe com as estruturas opressivas que por tanto tempo marginalizaram essas mulheres.
A sororidade e o movimento feminista são peças-chave nessa transformação. O apoio entre mulheres cria uma base sólida para que sucessos individuais se convertam em progresso coletivo. E, hoje, finalmente, estamos começando a ver a liderança feminina negra emergir para desafiar e redefinir as normas em todas as esferas, incluindo os negócios. Reconhecendo o poder e a influência das mulheres negras, tanto nos palcos da ginástica quanto nas salas de reuniões, estamos fazendo mais do que validar suas conquistas: estamos investindo em um futuro onde a igualdade e a justiça não sejam apenas ideais, mas realidades.
Agora, permitam-me destacar uma figura que encarna essa esperança e determinação: Rebeca Andrade. Com sua prata olímpica, Rebeca não só fez história no esporte brasileiro, mas se tornou um ícone vibrante da tenacidade feminina negra. Em cada salto e movimento, ela transcende a atlética, tornando-se um farol de possibilidade e promessa para um futuro onde a cor da pele não determina o quão alto alguém pode alcançar.
Rebeca entende a responsabilidade de sua posição. Ela inspira não apenas no esporte, mas em todos os setores da sociedade, incentivando mulheres, especialmente aquelas que foram historicamente colocadas à margem, a perseguir seus sonhos com a mesma paixão e coragem. Então, olhando para o pódio onde Rebeca se destaca, vemos mais do que uma medalhista: vemos o amanhecer de um futuro promissor. Rebeca Andrade e sua trajetória de sucesso se tornam parte vital na construção de um legado de força, determinação e esperança.
É uma mensagem poderosa para as mulheres negras de Brasília e de todo o Brasil: o lugar mais alto do pódio não é apenas possível, mas está esperando por aquelas que ousam sonhar e lutam para tornar esses sonhos realidade. A história de Rebeca é uma inspiração não apenas para futuras atletas, mas para todas as mulheres que buscam reivindicar seu espaço, lutar por suas paixões e nunca desistir de modelar o mundo com suas próprias histórias de sucesso. E para você, Rebeca, saiba que sua prata brilha com o valor de ouro nos corações de todos que acreditam que, apesar de todas as adversidades, emergir vitorioso é possível.
*Renata Nandes é jornalista, estudante de psicanálise, entusiasta da sororidade e voz ativa na promoção do empoderamento feminino