Quase lá: Trabalho de cuidado: uma questão também econômica

23/01/2020 - OXFAM
 
 

Apesar de pouco valorizado, o trabalho de cuidado é essencial para nossas sociedades – e também uma importante questão econômica

Você já pensou na importância do trabalho de cuidar de crianças, idosos e pessoas com doenças e deficiências físicas e mentais, além do trabalho doméstico diário que inclui cozinhar, limpar, lavar, consertar coisas e buscar água e lenha?

Se ninguém investisse tempo, esforços e recursos nesse trabalho de cuidado, comunidades, locais de trabalho e economias inteiras ficariam estagnadas.

Isso foi o que revelamos em nosso novo relatório Tempo de cuidar: o trabalho de cuidado não remunerado e mal pago e a crise global da desigualdade. Mulheres e meninas ao redor do mundo dedicam 12,5 bilhões de horas, todos os dias, ao trabalho de cuidado não remunerado – uma contribuição de pelo menos US$ 10,8 trilhões por ano à economia global. Isso dá mais de três vezes o valor da indústria de tecnologia do mundo.

Além disso, as mulheres e meninas são responsáveis por mais de três quartos do cuidado não remunerado realizado no mundo, e representam dois terços da força de trabalho envolvida em atividades de cuidado remuneradas.

Com isso, o trabalho de cuidado não remunerado e mal pago é praticamente invisível. Ele perpetua a desigualdade econômica e de gênero – e é perpetuado por ela. Por isso o trabalho de cuidado é uma importante questão econômica.

Discriminação de gênero, raça e etnia

Em todo o mundo, o trabalho de cuidado não remunerado e mal pago é desproporcionalmente assumido por essas mulheres e meninas em situação de pobreza. E isso acontece especialmente com quem pertence a grupos que, além da discriminação de gênero, sofre preconceito em decorrência de sua raça, etnia, nacionalidade, sexualidade e classe social.

O trabalho de cuidado é extremamente subestimado e desvalorizado por governos e empresas, sendo muitas vezes considerado um “não trabalho”. Os gastos com esse tipo de trabalho são considerados custos e não investimentos. Assim, os cuidados prestados se tornam invisíveis em indicadores de progresso econômico e agendas de políticas.

A precarização do trabalho de cuidado remunerado

Além de todo esse trabalho de cuidado em casa, sem remuneração, muitas mulheres em situação de pobreza também cuidam de outras pessoas. É o caso das trabalhadoras domésticas, uma das categorias profissionais mais exploradas do mundo.

Somente 10% das trabalhadoras domésticas são protegidas por leis trabalhistas gerais como as demais categorias. E apenas cerca de metade dessas trabalhadoras desfrutam da mesma proteção em termos de salário mínimo.

Além disso, mais da metade de todas as trabalhadoras domésticas não têm limite para a jornada de trabalho previstos na legislação nacional. Nos casos mais extremos de trabalho forçado e tráfico de mão de obra, as trabalhadoras domésticas se veem presas nas residências de seus patrões, com todos os aspectos de suas vidas controlados, o que as torna invisíveis e desprotegidas.

Estima-se que US$ 8 bilhões sejam retirados todos os anos das 3,4 milhões de trabalhadoras domésticas que se encontram em situação de trabalho forçado no mundo, cifra equivalente a 60% dos seus salários devidos.

Trabalho de cuidado é também uma questão econômica

Sendo assim, a pesada e desigual responsabilidade pelo trabalho de cuidado perpetua as desigualdades de gênero e econômica. Ela prejudica a saúde e o bem-estar de trabalhadores de cuidado – em sua maioria mulheres – e limita sua prosperidade econômica ao ampliar diferenças de gênero no emprego e nos salários.

Essa desigualdade é evidente também na renda. Como mostramos no relatório País Estagnado – Um Retrato das Desigualdades Brasileiras, a equiparação de renda entre homens e mulheres no Brasil teve um recuo pela primeira vez em 23 anos.

Além disso, as mulheres e meninas que assumem o trabalho de cuidado têm pouco tempo para si mesmas e, portanto, não conseguem satisfazer suas necessidades básicas ou participar de atividades sociais e políticas.

Na Bolívia, por exemplo, 42% das mulheres afirmam que o trabalho de cuidado constitui o maior obstáculo à sua participação na política. No Brasil, as mulheres representaram apenas 32% das candidaturas em 2018 e foram só 15% das parlamentares eleitas.

Vivendo na pele

Conheça Arlene e Ruth, duas mulheres filipinas que vivenciam as desigualdades do trabalho de cuidado não remunerado:

Arlene Cinco é autônoma e mãe de 4 filhos. Ela gosta de passar tempo com seus filhos assistindo TV juntos. No entanto, ela raramente tem tempo para fazer isso, pois passa o dia todo trabalhando para ganhar dinheiro e fazendo todo o trabalho de cuidado para sua família.

O marido de Arlene, Eduardo, sofreu um derrame em 2016 e ficou com paralisia. Agora, ela é a única pessoa que trabalha na casa para pagar comida, eletricidade, impostos, além dos remédios do marido. Ela vende comida e chá de gengibre para professores e estudantes, oferece serviços de manicure e, às vezes, lava a roupa para fora para conseguir um dinheiro extra.

Além de todo esse trabalho, ela também passa horas com o trabalho de cuidado em casa, como indo buscar água e comprar mantimentos e remédios, dar banho no marido e fazer as tarefas domésticas.

Ruth é mãe de 7 filhos. A maternidade é um trabalho de período integral, mas ela o faz com muito orgulho. Ruth é a primeira a acordar na casa, para dar comida para as crianças e arrumá-las para a escola. É também a última a dormir, mas só depois de limpar a casa e lavar as roupas de todos.

O marido, motorista, ajuda quando pode. Especialmente após o nascimento do último bebê, ele lava a roupa e sai para pegar água. Se Ruth tivesse mais tempo livre, ela gostaria de ter seu próprio negócio.

fonte: https://www.oxfam.org.br/blog/trabalho-de-cuidado-uma-questao-tambem-economica/

 


Matérias Publicadas por Data

Artigos do CFEMEA

Coloque seu email em nossa lista

lia zanotta4
CLIQUE E LEIA:

Lia Zanotta

A maternidade desejada é a única possibilidade de aquietar corações e mentes. A maternidade desejada depende de circunstâncias e momentos e se dá entre possibilidades e impossibilidades. Como num mundo onde se afirmam a igualdade de direitos de gênero e raça quer-se impor a maternidade obrigatória às mulheres?

ivone gebara religiosas pelos direitos

Nesses tempos de mares conturbados não há calmaria, não há possibilidade de se esconder dos conflitos, de não cair nos abismos das acusações e divisões sobretudo frente a certos problemas que a vida insiste em nos apresentar. O diálogo, a compreensão mútua, a solidariedade real, o amor ao próximo correm o risco de se tornarem palavras vazias sobretudo na boca dos que se julgam seus representantes.

Violência contra as mulheres em dados

Cfemea Perfil Parlamentar

Direitos Sexuais e Reprodutivos

logo ulf4

Logomarca NPNM

Cfemea Perfil Parlamentar

Informe sobre o monitoramento do Congresso Nacional maio-junho 2023

legalizar aborto

...