Quase lá: Mulheres palestinas em Gaza: realidades cruéis de deslocamento

A história de Reham, uma jovem mãe abrigada em Rafa, ilustra o impacto da guerra de Israel sobre as mulheres e as famílias

 

Por Shahd Safi, do portal Carnegie
 

De acordo com estimativas recentes, desde 7 de outubro, 70% dos civis mortos em Gaza são mulheres e crianças e quase um milhão de mulheres e meninas foram deslocadas. O ataque de Israel aos direitos reprodutivos é uma parte fundamental de como a guerra afetou desproporcionalmente as mulheres palestinas, que Reem Alsalem – relatora especial da ONU sobre violência contra mulheres e meninas –descreveu como “implacável e particularmente alarmante”.

Reham, uma palestina de 24 anos em Gaza, sentiu esse ataque em primeira mão. Antes do dia 7 de outubro, ela morava em um apartamento aconchegante que o marido construiu após anos de trabalho na construção civil. Quando a guerra estourou, seu marido perdeu o emprego e a única fonte de renda. Agora, Reham e sua família foram deslocados da Cidade de Gaza três vezes e atualmente estão abrigados em uma tenda no campo de Al Nuseirat, no sul de Rafah, com seu marido e quatro filhos pequenos.

“Nossa casa era composta por três quartos, uma sala, uma cozinha e um banheiro. Foi decorado completamente e com elegância. Cuidamos muito bem disso, mas agora tudo o que temos é uma tenda de um quarto”, disse Reham em entrevista para a Sada. “Nossa casa foi completamente destruída, então não sabemos para onde iremos depois que o assalto terminar.”

Além de perder sua casa, Reham também perdeu sua gravidez de cinco meses quando entrou em choque com a notícia de que a casa de seus pais havia sido atingida por um ataque aéreo direto, matando dois de seus irmãos. Mesmo que ela tivesse levado sua gravidez a termo, as mulheres em Gaza estão sendo forçadas a dar à luz sob condições perigosas e desumanas—com as instalações de saúde de Gaza sob ataque, não há anestesia, remédios, água ou suprimentos sanitários suficientes. Nessas condições, a intervenção cirúrgica também não seria possível.

“Antes do ataque, Reham era adorável e calorosa. É tão deprimente vê-la assim – desgastada e silenciosa a maior parte do tempo, quando ela era tão falante e social antes. Quando meus olhos encontram os olhos dela, sinto o quanto ela está perdida”, disse o marido de Reham.

“Mesmo menstruada, não consigo tomar banho com frequência ou cuidar da higiene pessoal como antes. Só posso tomar banho em uma barraca que não tem quatro paredes e um banheiro decente, e sinto que minha privacidade é violada”, disse Reham à Sada. “Tivemos que colocar um tanque em um grande buraco que cavamos no chão, que usamos para fazermos nossas necessidades fisiológicas, junto com outras cinco famílias. Sinto-me humilhada, sinto falta dos confortos simples da minha vida antes do ataque.”

Todos os seres humanos em Gaza estão sofrendo de fome e sede, mas como a tenda de Reham fica perto da fronteira com o Egito, sua família está longe de ajuda e, às vezes, eles passam dias sem água. Reham não consegue leite para seu filho mais novo, Sannad, que agora deve consumir alimentos enlatados junto com o resto da família. Sannad é o mais afetado pelas temperaturas frias incessantes dentro da tenda, e ele e toda a família estão constantemente adoecendo – sem nenhum medicamento acessível.

Já tendo perdido uma gravidez, Reham está extremamente ansiosa pelo futuro de sua família. “Minha vizinha foi morta por um ataque aéreo enquanto dava à luz, ao lado do marido. Meus dois irmãos foram mortos quando tentavam escapar da casa dos meus pais. Meu irmão agora é amputado. O que vem por aí? Quem será morto a seguir? Serei eu?

A dra. Alice Rothchild recentemente argumentou que a única maneira de mulheres e crianças serem saudáveis e livres é que parem imediatamente os combates, restaurar os serviços necessários e começar a reconstruir – um resultado que requer a pressão constante de mulheres e feministas em todo o mundo. Como observa Reham, “todos os dias, há notícias de mulheres de Gaza sendo mortas ou deslocadas, e eu me pergunto como o movimento feminista vai reagir. Farão alguma coisa pelas mulheres de Gaza?”

Shahd Safi é tradutora e professora de árabe/inglês, jornalista freelancer, coordenadora de mídia social e defensora dos direitos humanos baseada em Gaza.
Original em Palestinian Women in Gaza: Cruel Realities of Displacement. Traduação de Waldo Mermelstein, do Esquerda Online

 

fonte: https://esquerdaonline.com.br/2024/03/10/mulheres-palestinas-em-gaza-realidades-crueis-de-deslocamento/

 


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