Atuações de enorme relevância para o Brasil na democracia, justiça social e educação foram lembrados durante a solenidade
Por Denis Dana - UNIFESP
Em 6 de outubro, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) entregou o título de doutora honoris causa para Maria Amélia de Almeida Teles, conhecida como Amelinha Teles. Amélia foi reconhecida por toda a sua trajetória de luta pela democracia e pela defesa da mulher, com o protagonismo na luta durante a ditadura brasileira.
A sessão foi transmitida pelo canal Unifesp Ao Vivo no YouTube e acompanhada, presencialmente, por um público formado por representantes de universidades, entidades e movimentos sociais diversos, pró-reitores(as) e membros do Gabinete da Reitoria da Unifesp, além de diretores(as) de campus e de unidades universitárias, docentes, discentes e servidores(as) técnicos(s) administrativos(as) em educação da Unifesp, que lotaram o auditório da Reitoria em mais este momento especial da universidade. O título honorífico, vale lembrar, é concedido a personalidades eminentes, nacionais ou internacionais, que tenham se destacado nas ciências, nas artes, cultura, educação e na defesa dos direitos humanos.
Mineira, da cidade de Contagem, Amelinha foi e segue sendo importante liderança da causa feminista e ativista dos direitos humanos, com história marcada pela tortura a qual foi submetida durante o trágico período da ditadura militar brasileira. A mesa de honra que conduziu a sessão foi composta por Raiane Assumpção, reitora da Unifesp, a deputada federal Luiza Erundina, Eunice Aparecida de Jesus Prudente, professora da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) e secretária Municipal de Justiça de São Paulo (SMJ), e Odair Aguiar Junior, diretor do campus Baixada Santista e presidente da comissão de Títulos Honoríficos da universidade.
Logo no início dos discursos, Odair Aguiar destacou a relevância e o tamanho do reconhecimento da instituição para com Amelinha, ainda mais em uma data especial. “Guerreira, teimou e enfrentou o mundo durante o período mais infeliz da história do nosso país e segue firme nessa mesma trajetória. Para a universidade, é muito especial entregarmos, no mesmo dia de seu aniversário e no mesmo dia da premiação do Nobel da Paz a uma ativista pelos direitos das mulheres no Irã, o título de honoris causa por toda a sua vida e obra”.
Múltiplas trajetórias
Para contar a rica trajetória de Amelinha e todas as suas contribuições, a organização da sessão contou com algumas intervenções. Ao fazer uma breve apresentação da vida da agraciada, Vivian Mendes, fundadora do movimento Olga Benário Brasil, destacou seus trabalhos e luta pelos direitos humanos e direitos de gênero, aproveitando para enaltecer a outorga do título pela Unifesp. “A universidade se agiganta com a outorga desse título. Ele faz parte de uma reparação histórica a quem tanto contribuiu na busca de uma sociedade nova, com verdadeira igualdade entre homens e mulheres. A quem deve-se reconhecimento por sua produção para a academia, para a ciência e para a história desse país”.
A trajetória de Amelinha nos movimentos feministas foi lembrada por Magali Mendes, membro da coordenação da Associação de Promotoras Legais Populares Cida da Terra de Campinas e Região, que também fez questão de exaltar a outorga do título pela Unifesp: “Este não é o reconhecimento exclusivamente da Amelinha, mas o reconhecimento do feminismo brasileiro”, destacou. Já a trajetória intelectual foi trazida ao público pela professora e Secretária Municipal de Justiça, Eunice Aparecida de Jesus Prudente. Em sua fala, fez questão de destacar a sede pelo direito e pelo saber jurídico da agraciada: “Quando o cidadão não entende o direito, é o direito que está errado. Essa é uma lição que Amelinha nos ensina, que é merecedora desse reconhecimento”.
Coube à deputada Luiza Erundina a menção da trajetória política de Amelinha e que, com depoimento emocionante, destacou a existência de Amelinha dedicada à luta pela democracia. “Amelinha escolheu o lado difícil, mas o lado certo da história. Sua trajetória e sua luta ainda não acabaram, seguem ativas, vivas e fortes, cobrando e denunciando para que os desaparecidos políticos e toda a verdade de um período terrível do país venha à luz e aqueles que cometeram os crimes sejam punidos”.
Rito simbólico
Após a apresentação das trajetórias, Amelinha Teles foi conduzida ao tradicional e simbólico rito que exige a concessão de título, com a leitura e assinatura do ato concessivo do título de doutor honoris causa, a vestimenta doutoral, com ajuda de seu filho, o professor da Unifesp Edson Teles, e sua neta. O ritual também contemplou o pronunciamento da concessão de grau, feito por Raiane Assumpção, e a entrega do diploma. Já como doutora honoris causa, Amelinha novamente causou emoção com seu discurso, ao exaltar a mobilização da sociedade na luta pela democracia e pela dignidade humana.
“Não há democracia sem movimentação, sem organização popular e foi esse movimento que me construiu e me fez chegar até este momento. Nossa luta pela defesa da memória dos desaparecidos é uma luta pela democracia, pelos direitos humanos e pela justiça social, pilares que também fazem parte da Unifesp, que sempre se colocou em defesa da saúde, das pessoas, da ciência, da diversidade, ao dialogar e articular de maneira exemplar o saber popular com o saber da ciência, agregando e somando conhecimentos”, destacou a mais nova doutora da instituição.
Ao fechar a sessão solene de entrega de título para Amelinha, o coral da Unifesp brindou o público com uma canção e a reitora da Unifesp, Raiane, já no discurso final, também destacou a produção de conhecimento construída durante a trajetória da agraciada. “A nossa universidade lhe oferece, do ponto de vista simbólico, o que ela tem de mais precioso, que é o reconhecimento de um conhecimento que ela não é capaz de produzir, e que é tão importante para a humanidade, do ponto de vista científico e do ponto de vista do que acreditamos de processo civilizatório. A nossa universidade se encontra com sua trajetória. O que você sempre defendeu é algo que nós nos identificamos institucionalmente. Esse título de doutora honoris causa é o reconhecimento de toda a sua contribuição para a nossa sociedade”.
Fotos: Alex Reipert