Quase lá: Terceiro dia do 3º Encontro Nacional da MMM tem início com discussão sobre os princípios organizativos do movimento

Quando a Marcha se constituiu como um movimento permanente, a partir do ano 2000, ela já tinha um eixo que ainda faz parte da sua plataforma de luta: lutar contra a pobreza e a violência sexista.

Marcha Mundial de Mulheres

 

Crédito: Bianca Pessoa

 

Por Coletivo de Comunicadoras

No 3º Encontro Nacional da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) “Nalu Faria”, o dia sempre começa com mística, batucada feminista e palavras de ordem. Neste terceiro dia de atividades, não foi diferente. Dando sequência aos debates que tiveram início no sábado (6), a primeira discussão desta segunda-feira (8) teve os princípios organizativos do movimento como tema central. A atividade foi coordenada por Tatiana Oliveira (MMM PA) e Glaucia Matos (MMM MG). 

Sonia Coelho (MMM SP) e Adriana Vieira (MMM RN), da Executiva Nacional da Marcha, apresentaram alguns elementos para impulsionar a discussão sobre o assunto. Elas falaram da importância de sempre lembrar que a Marcha é um movimento internacional, anticapitalista, antineoliberal, antirracista e antiLGBTfóbio. Todas essas características fazem com que o movimento seja um espaço de aprendizado permanente sobre a diversidade de pautas que atravessam as mulheres em seus corpos, trabalhos e territórios. Nesse sentido, Sonia afirmou a importância de incorporar mais as discussões das mulheres com deficiência nos debates, como um exemplo de que o aprendizado é um processo a um só tempo urgente e contínuo.

Na conversa, pontuou-se que a MMM é uma organização que nasceu nas ruas e na luta. Algo que se expressa inclusive no nome do movimento, que faz com que pessoas perguntem sempre “quando será a marcha?” Estar em marcha, contudo, é o próprio sentido da existência da MMM. Uma marcha que acontece todos os dias, em luta para transformar a sociedade, destruindo o sistema capitalista, patriarcal e racista que a organiza.

Quando a Marcha se constituiu como um movimento permanente, a partir do ano 2000, ela já tinha um eixo que ainda faz parte da sua plataforma de luta: lutar contra a pobreza e a violência sexista. Sonia contou que esse eixo conectou mulheres de vários continentes, em um momento de avanço do neoliberalismo em nível global e de individualismo extremo. Não é sem motivo que a solidariedade seja um princípio que estrutura o feminismo desse movimento, ela tem a ver com se solidarizar com que viviam e vivem todas as mulheres nessas diferentes partes do globo. 

“Somos um movimento internacional e temos que ter a solidariedade como um princípio fundamental”, defendeu a militante, que completou sua reflexão dizendo que a ideia de construir uma marcha mundial teve a ver com sentir que lutas que são promovidas no Brasil, no Pará, no Amazonas, no Rio de Janeiro, em São Paulo, onde for, as conecta com companheiras que estão na Palestina, no Congo, no México etc.

Sonia pontuou que no final da década de 1990, o campo feminista estava muito institucionalizado e com uma agenda política fragmentada. A Marcha Mundial das Mulheres se propôs a romper com a ideia de que o feminismo deve lutar apenas por alguns direitos dito específicos, como saúde e sexualidade das mulheres, aborto, entre outras. Embora todas essas pautas sejam importantes, o movimento entende que todas as dimensões da vida das mulheres são organizadas por um sistema que é ao mesmo tempo capitalista, patriarcal e racista. Para que todas as mulheres tenham direitos, é preciso enfrentar o sistema, então não é possível discutir direitos sem debater o modelo político que impõe sua negação/deterioração. 

No mesmo sentido, para enfrentar o atual modelo econômico e social, desigual e explorador, é preciso conectar lutas locais, nacionais e internacionais. Um enfrentamento que se faz em aliança com outros movimentos sociais, conforme lembrou Sonia, reafirmando sempre que o feminismo é a base da sociedade que as mulheres constroem com suas práticas de resistência. 

Sonia falou que, desde o início da Marcha, existe um esforço de aprender coletivamente sobre temas que são considerados difíceis, mas que afetam diretamente a vida das mulheres. Além disso, ela defendeu que diferentemente do que algumas pessoas recomendam, é preciso falar de socialismo e feminismo para a classe trabalhadora, com essas nomeações, porque a direita faz isso sempre, só que reforçando o conservadorismo. 

Por fim, Sonia falou da importância das ações internacionais para a construção do feminismo da MMM. As ações internacionais conectam mulheres de uma diversidade de países e impulsionam a construção de um programa político comum para a organização coletiva. Em 2025, a Marcha realiza sua 6ª Ação Internacional, que terá o seguinte lema: “Seguiremos em Marcha contra as guerras e o capital, por soberanias populares e bem viver”

Na conversa, Adriana reforçou a alegria e a emoção de ver o 3º Encontro Nacional da Marcha Mundial das Mulheres “Nalu Faria” sendo realizado. Fruto de um intenso processo organizativo feito nos estados, o encontro materializa o canto militante “com você ando melhor”, que dá sentido à auto-organização das mulheres, pontuou Adriana. 

A militante da MMM do RN destacou muito a importância da auto-organização. É com ela que as mulheres da Marcha mostram que é preciso construir um feminismo popular, militante, em que caiba todas as mulheres, e que questiona o modelo global, com o objetivo de desmantelar o sistema vigente. É com esse feminismo que as mulheres constroem vínculos nos territórios e ajudam a romper com a falsa dicotomia entre o público e privado. O bem viver, por exemplo, é ao mesmo tempo uma responsabilidade de cada pessoa e de todas elas, inclusive do Estado, o que confronta a dicotomia mencionada.

A construção desse feminismo se materializa em um conjunto de experiências, inclusive de trabalhos, coletivos, como pode ser visto nas hortas comunitárias, cozinhas coletivas, empreendimentos solidários, cooperativas e ações de solidariedade. Solidariedade que, conforme defendeu Sonia, é um princípio organizativo da Marcha. Adriana afirmou que a auto-organização oferece ao mesmo tempo respostas imediatas para os problemas enfrentados pelas mulheres, porque há urgência em mudar suas vidas, enquanto também fortalece um processo mais longo de luta pela transformação social. 

Por fim, Adriana abordou a importância de reconhecer que, dada a diversidade das mulheres e de suas experiências, os processos de organização não são sempre os mesmos, nem são estáticos. Eles funcionam de formas diferentes em cada território e têm múltiplas expressões nos níveis local, nacional e internacional. A batucada feminista e a comunicação popular e feminista da MMM são exemplos dessas expressões, que também são processos de aprendizado permanente para todas as marchantes. 

O 3º Encontro Nacional “Nalu Faria” continua até o final da terça-feira (9). Confira a programação completa AQUI e acompanhe a cobertura do evento pela página e redes sociais do movimento.

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fonte: https://www.marchamundialdasmulheres.org.br/terceiro-dia-do-3o-encontro-nacional-da-mmm-tem-inicio-com-discussao-sobre-os-principios-organizativos-do-movimento/

 

Abertura interna do 3º Encontro Nacional da Marcha Mundial das Mulheres saúda a memória de Nalu Faria e dá início aos debates do evento

Na manhã deste sábado (6), militantes feministas de 23 estados brasileiros dão início ao Encontro Nacional da Marcha em Natal, RN

Por Coletivo de Comunicadoras MMM

Entoando canções militantes e palavras de ordem, carregando bandeiras, batuques e outros símbolos da identidade do movimento, a Marcha Mundial das Mulheres (MMM) deu início ao 3º Encontro Nacional “Nalu Faria” na manhã deste sábado (6), em Natal, no Rio Grande do Norte (RN). Ao todo, mais de mil mulheres de 23 estados diferentes de todas as regiões do país estão reunidas na capital potiguar para participar do evento. Além das militantes da MMM nacional, a abertura contou com a participação da coodenadora internacional da MMM Yildiz Temürtürkan e Pinar Yüksek, da Turquia, e da venezuelana Alejandra Laprea, do Comitê Internacional da MMM representando as Américas, bem como de participantes de movimentos sociais aliados.

O primeiro e o segundo encontros nacionais do movimento foram realizados em 2006 e 2013, respectivamente. O terceiro encontro iniciou recuperando brevemente a memória desses outros momentos, nos quais se formaram a batucada feminista da MMM e o Coletivo de Comunicadoras. Agora, em 2024, um grande e vibrante conjunto de batuqueiras feministas deu o tom da abertura interna do evento. “Feminismo é revolução!”, cantavam todas no início da abertura.

A memória de Nalu Faria, militante histórica da Marcha no Brasil e no mundo, esteve presente do início ao fim da abertura e seu legado inspira a todas a seguirem construindo o feminismo antipatriarcal, anticapitalista e antirracista. Seus ensinamentos alertam que só haverá revolução verdadeira na vida das mulheres se ela acontecer para todas e que, para construí-la, é preciso caminhar sempre no passo da mais lenta, sem deixar nenhuma mulher para trás. Nalu Faria presente, hoje e sempre!

Nessa primeira atividade oficial do encontro, o objetivo central foi discutir os desafios da conjuntura – nacional e internacional – e a luta feminista. A mesa de abertura contou com as participações de Bernadete Monteiro (BH), da Executiva Nacional da MMM, Mazé Morais (PI), da Confederação Nacional das Trabalhadoras e dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG) e da Executiva, e Ana Priscila Alves (RJ), da MMM do Rio de Janeiro. A atividade foi coordenada por Rejane Medeiros (RN) e Cintia Barenho (RS).

Rejane destacou que a construção do Encontro Nacional foi uma soma de múltiplos esforços de todos os estados. No mesmo sentido, Bernadete expressou a emoção de ver o Encontro Nacional acontecendo, apesar de todos os desafios enfrentados durante o processo de organização. Fortalecer processos de luta e debates do movimento, além de atualizar sua agenda política, estão entre os objetivos do encontro.

Bernadete iniciou sua intervenção pontuando que sua fala era uma síntese de análises que foram feitas pelos estados nos debates anteriores ao encontro. Ao tentar responder o que se vê na atual conjuntura brasileira, com base nas contribuições coletivas, Bernadete destacou que há um acirramento do conflito entre o capital e a vida no Brasil, que se manifesta no aumento da exploração e da expropriação dos corpos, trabalhos, vidas e territórios das mulheres e da classe trabalhadora. Os ataques empreendidos pelas mineradoras, pelo agronegócio, pelas eólicas, entre outros agentes do capital, são expressões desse conflito.

Esses ataques são característicos da crise do capitalismo, que não significa seu enfraquecimento, mas, ao contrário, o emprego de velhas e novas estratégias para manter os níveis de acumulação. Os ataques do capital contra a vida são justamente essas estratégias. Eles são “uma aposta na morte”, disse Bernadete. Com a militarização, mas também com a cooptação de parte das pautas feministas, entre outras ofensivas, há uma tentativa de manter a hegemonia política, econômica e cultural do sistema dominante. 

Diante disso, a necessidade de construir mobilização feminista e popular permanente é cada vez maior. É preciso disputar o sentido público do Estado, mantendo a identidade de movimento. “As políticas públicas precisam ter uma dupla direção. Elas precisam suprir nossas necessidades, mas também nos fortalecer enquanto movimentos”, alertou Bernadete ao falar sobre a relação entre movimentos feministas e governos. A militante encerrou sua intervenção conclamando a todas a seguirem fortalecendo o feminismo como um projeto político de massas. 

A Secretária de Mulheres da CONTAG, Mazé Morais, que também faz parte da Executiva Nacional da MMM, deu início à sua fala concordando com Bernadete, ao defender a importância de fortalecer o feminismo popular diante dos desafios da conjuntura, que não são poucos. Mazé afirmou que as mulheres foram fundamentais para a vitória de Lula em 2022, ponderou que as feministas e a classe trabalhadora derrotaram o Bolsonaro, mas não o bolsonarismo. Desde o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, em 2016, os desafios enfrentados pelo povo brasileiro se agigantaram, já que houve um desmantelamento da democracia. “Vivemos a pandemia de covid-19 da pior forma possível, mas ainda assim mantemos a resistência”, disse ela. Prova disso foi a realização da Marcha das Margaridas de 2019, que revelou a grande capacidade de mobilização do feminismo organizado no Brasil. 

“A Marcha das Margaridas é um bom exemplo de processo que, em aliança, constrói o feminismo popular e mostra que só organizadas a gente consegue incidir na conjuntura”, defendeu Mazé. A Marcha das Margaridas é uma experiência que demonstra que apenas a via eleitoral não é o bastante para construir uma democracia verdadeira e garantir direitos para todas as pessoas. Mazé terminou sua fala saudando a memória de Nalu Faria, cuja radicalidade da luta não deixa dúvidas que a luta é – e precisa – ser permanente. 

Os desafios e ataques experienciados pelas mulheres no Brasil estão conectados com o que vivem outros povos do chamado Sul Global. Foi o que afirmou Ana Priscila, da MMM RJ, ao dar início à sua contribuição. Em nível global, a divisão sexual do trabalho tem sido utilizada como ferramenta de ajuste da crise do capitalismo. Na prática, isso quer dizer que, para garantir seus lucros, os detentores do capital precarizam cada vez mais a vida e os trabalhos das pessoas, em especial das mulheres, e espoliam cada vez mais a natureza. Isso tem acontecido no Brasil, na Argentina, na Bolívia, entre outros países sob permanente ameaça de golpes. Golpes promovidos e/ou apoiados pelos Estados Unidos, cujos interesses imperialistas estão consonantes com as práticas da corporações transnacionais. 

Visto que a ofensiva do capital é internacional, a resistência popular precisa ser internacionalista. É preciso construir alternativas que deem conta de conectar o que as feministas fazem localmente com o que se vê em nível nacional e com as lutas empreendidas internacionalmente pelos povos. “Para isso, caminhar em aliança é muito importante. A gente se alia na luta popular. É por isso que a gente constrói a ALBA, as Jornadas etc.”, afirmou Ana Priscila. 

Ela defendeu que o principal desafio enfrentado pelo feminismo no momento é o acúmulo de forças. O 3º Encontro Nacional da Marcha Mundial das Mulheres “Nalu Faria” é um esforço nessa direção, que precisa reverberar nos territórios, em processos de luta que são constantes, pontuou Ana Priscila. Por fim, a militante lembrou que essas lutas precisam ter como horizonte a construção da soberania dos povos. 

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A abertura também foi transmitida pelo Canal do Youtube da MMM. Clique para reassistir.

Confira alguns registros da abertura!

 

Crédito: Wigna Ribeiro

 

Crédito: Wigna Ribeiro

 

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Crédito: Wigna Ribeiro

 

Crédito: Wigna Ribeiro

 

fonte: https://www.marchamundialdasmulheres.org.br/abertura-interna-do-3o-encontro-nacional-da-marcha-mundial-das-mulheres-sauda-a-memoria-de-nalu-faria-e-da-inicio-aos-debates-do-evento/

 

Seminários temáticos discutem eixos para a Ação Internacional da MMM de 2025

 

Crédito da foto: Aline Teodoro

Por Coletivo de Comunicadoras

Na tarde deste domingo (7), as participantes do 3º Encontro Nacional da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) compartilharam sínteses de discussões promovidas durante a manhã do evento. Os debates foram realizados por cinco grupos que dialogaram sobre os eixos temáticos da 6ª Ação Internacional do movimento, que será realizada em 2025, “Seguiremos em Marcha contra as guerras e o capital, por soberanias populares e bem viver”. O momento foi coordenado por Tica Moreno (MMM SP) e Mariana Lacerda (MMM CE). Confira aqui a lista dos seminários e suas respectivas sínteses:

Seminário 1

O Seminário 1, com o tema “Defender os bens comuns contra as corporações transnacionais: justiça climática, luta contra a mineração e impactos da energia eólica e solar”,  contou com relatos de enfrentamento à ofensiva da Braskem, uma empresa transnacional que deixou uma mina de sal gema se romper em Maceió (AL), destruindo um bairro inteiro e colocando em risco a estrutura da cidade. Essa tragédia-crime é  tida como o maior crime ambiental ocorrido em solo urbano no país. Também falou-se de como as instalações de complexos eólicos e solares têm ameaçado a permanência e a vida no Rio Grande do Norte (RN). As militantes conversaram ainda sobre a exploração da mineração, cujos resultados desastrosos levaram aos rompimentos de barragens em Mariana (MG) e Brumadinho (MG).  Uma companheira do movimento Amigos e Amigas da Terra compartilhou também experiências de construção de alternativas populares no Rio Grande do Sul (RS), onde as mulheres mantém uma horta comunitária e cozinhas solidárias. No mesmo sentido, uma integrante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) dividiu com todas um pouco do acúmulo do movimento sobre o modelo energético que há no Brasil, que é predatório, e quais são as alternativas populares a ele. Durante toda a conversa, a agroecologia foi apontada como prática feminista de resistência à destruição das terras, saberes e modos de vida populares.

A partir dos relatos do Seminário 1, foi possível perceber que as transnacionais, a expropriação dos bens comuns e a exploração do trabalho andam de mãos dadas em todos os territórios, gerando violências às mulheres, aumento de pobreza e da vulnerabilidade social. Na discussão, as militantres apontaram algumas ações possíveis para fazer frente a esses fenômenos, como o fortalecimento da auto-organização, da agroecologia e da defesa dos corpos e territórios das mulheres, construindo a economia feminista que a Marcha Mundial das Mulheres defende.

Seminário 2 

A discussão do Seminário 2, “Enfrentamento à violência contra as mulheres, o racismo e a luta por paz e desmilitarização”, partiu da discussão sobre qual a política de segurança que as mulheres querem para o país. As feministas criticaram a lógica das forças militares, que primam pelo punitivismo seletivo. “Isso não é o que as mulheres querem”, defenderam todas. “A segurança que as mulheres querem não é da arma nem a da presença policial, mas a de andar pelas ruas sem medo”, completaram. O alto índice de encarceramento do povo pobre e preto também esteve em pauta no debate, que falou ainda sobre como as mulheres são sujeitos políticos que resistem permanentemente e organizam resistências a esse sistema predatório, desigual e explorador.

Por fim, a discussão defendeu a importância de pensar nos territórios das periferias como espaços positivos de organização e resistência e afirmou que não existe discussão de segurança pública sem as mulheres. 

Seminário 3

No Seminário 3 – “Economia feminista baseada na sustentabilidade da vida e soberania alimentar: luta pela terra e território, agroecologia, agricultura urbana e cozinhas coletivas e a relação com a economia solidária” – foi abordada a disputa que o capital tem feito nos territórios de todos os cantos do país. Disputa que carrega consigo muita militarização, violência e criminalização das lutas populares, tudo para retirar o direito à terra e ao território das mulheres e da classe trabalhadora. No mesmo sentido, visto que o cenário no campo é parecido com o urbano, as mulheres defenderam que é preciso fazer a reforma agrária popular, com produção baseada na agroecologia, para enfrentar a espoliação de seus territórios, corpos, trabalhos e modos de vida. 

As feministas destacaram que as mulheres são construtoras de alternativas concretas ao capitalismo racista e patriarcal. Nesse sentido, Ivi Aliana, do Centro Feminista 8 de Março (CF8), compartilhou o importante exemplo das tecnologias sociais de convivência com o semiárido, que vêm dos saberes das mulheres, que são as pessoas que se preocupam de ter o balde de água pra pegar água da bica, enquanto o capital só quer os solos, ventos e conhecimento do semiárido. A militante afirmou que o desafio é fortalecer a resistência e valorizar toda a sustentabilidade da vida que as mulheres constroem em seus territórios.

Outras experiências também foram apresentadas: Any Moraes, do RS, socializou informações sobre uma horta comunitária das mulheres dos movimentos que, durante as enchentes, se transformou em uma cozinha solidária e ampliou a ação dos grupos. Neneide Lima, da Rede Xique Xique, do RN, falou da auto-organização das mulheres na economia solidária e do quanto a economia feminista qualifica as práticas da economia solidária. “Sem economia feminista, não tem economia solidária com base na sustentabilidade da vida”, concordaram as participantes. Da mesma forma, pontuaram que a agroecologia não é só produzir sem agrotóxico e que sem feminismo não há agroecologia. 
Em síntese, as mulheres afirmaram que o capital está articulado, mas as mulheres também estão construindo a resistência coletiva numa articulação campo-cidade.

Seminário 4

A companheira Elaine Bezerra, de Minas Gerais (MG), apresentou a síntese do Seminário 4: “Economia feminista baseada na sustentabilidade da vida: mundo do trabalho e alternativas para autonomia das mulheres”. O grupo discutiu a questão da economia feminista e do mundo do trabalho. Um primeiro elemento foi a afirmação de que a economia feminista é importante para compreender a realidade e também para desconstruir a ideologia da economia clássica. “A economia organiza a vida, mas isso está organizado por elementos que não os nossos”, afirmaram as mulheres.

Debateu-se que a invisibilização do trabalho doméstico na economia capitalista é uma constante e por isso as feministas reafirmam o conceito de divisão sexual do trabalho, que separa e hierarquiza os trabalhos. No mesmo sentido, há uma divisão racial do trabalho que organiza todos eles. O feminismo que a MMM constrói quer romper com essas divisões. Falou-se também que, em todo o mundo, a experiência cotidiana do trabalho é desigual e os números do mercado de trabalho mostram isso, tanto no meio formal quanto informal. 

A defesa de que é necessário enfatizar a responsabilidade do Estado no debate sobre a socialização dos trabalhos de cuidado permeou toda a discussão. Compras públicas, creches, igualdade salarial e redução da jornada de trabalho sem redução da remuneração são medidas que podem ser adotadas pelo poder público para isso.

Seminário 5

Por fim, a companheira Marilei (MMM SC) apresentou a síntese do Seminário 5: “Autonomia sobre nossos corpos e sexualidade: Legalização do aborto, luta contra a mercantilização da vida das mulheres e autonomia dos corpos e sexualidade”. A discussão pontuou que a ordem racista e patriarcal se impõe sobre os corpos das mulheres e que é preciso aprender com as mulheres indígenas e quilombolas a compreender o corpo como território.

Uma crítica levantada foi ao papel da ciência e da indústria farmacêutica na sociedade, pois as corporações multinacionais medicam e mercantilizam as mulheres e as pessoas negras. Diante disso, a formulação proposta é de que a mercantilização dos corpos e territórios é uma exigência cada vez maior do mercado, que se apoia na medicalização, entre outras violências, para tornar as pessoas funcionais ao sistema. 

As feministas avaliaram que o modelo racista e patriarcal da sociedade é estruturante e captura as agendas dos movimentos de uma forma recortada e minimizada para confundir as lutadoras, apresentando ideias que sugerem que o capitalismo está preocupado com a vida das mulheres. Esse mercado pinçou elementos da agenda feminista e os vende como demandas das mulheres, mas ocultou as bases da opressão e da exploração. Nessa ofensiva, a publicidade possui um papel importante, pois vende um padrão de beleza magro, branco e jovem, com impactos visíveis sobre crianças e adolescentes, e o coloca como “empoderador”. Nesse sentido, defende-se a necessidade de enfrentar o feminismo liberal que coloca os corpos das mulheres a serviço do mercado.

A legalização do aborto também foi discutida nesse seminário. A MMM defende a legalização do aborto como política de defesa da vida de todas as mulheres e aponta que embora todas sofram com sua criminalização, sobre sobretudo as mulheres negras, pobres e do campo que morrem e são estigmatizadas.

A memória de Nalu Faria, como inspiração de afeto, disciplina e radicalidade que a Marcha Mundial das Mulheres precisa ter, se fez presente em todos os seminários. Com ela, o movimento aprendeu muito sobre isso. Nalu Faria Presente, hoje e sempre!

Após a socialização de todos esses debates, reforçou-se a importância do fortalecimento das discussões feministas coletivas para a construção da 6ª Ação Internacional da Marcha, que será realizada no ano de 2025.

O 3º Encontro Nacional “Nalu Faria” continua nesta segunda-feira (8) e termina na terça-feira (9). Confira a programação completa AQUI e acompanhe a cobertura do evento pela página e redes sociais do movimento!

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fonte: https://www.marchamundialdasmulheres.org.br/seminarios-tematicos-discutem-eixos-para-a-acao-internacional-da-mmm-de-2025/

 


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