Com uma escrita fluida e didática, Olefun percorre as histórias do povo Nagô de Pernambuco, do seu ilê, da sua avó, a Yalorixá Amara Mendes; da sua mãe, Yalorixá Maria Helena; do Afoxé Oyá Alaxé, do Balé Nagô Ajô e, apresenta para nós uma incrível sistematização da Dança Nagô e da Pedagogia Nagô Ajô. Helaynne Sampaio fala na primeira pessoa, mergulhando no fluxo das águas que trouxeram seus ancestrais para esta terra chamada Brasil
Diante de tantos apagamentos históricos, os povos de terreiro buscam constantemente solidificar suas tradições a partir do registro em primeira pessoa, permitindo que a verdadeira estória possa ser contada e repassada para outras gerações. A Yalaxé do Ilê Obá Aganjú Okoloyá – Terreiro de Mãe Amara, Olefun Helaynne Sampaio, lançou recentemente seu primeiro livro autoral “Dança Nagô: herança ancestral e resistência matriarcal do Balé Nagô Ajô, corpo que dança Afoxé Oyá Alaxé”.
Com uma escrita fluida e didática, Olefun percorre as histórias do povo Nagô de Pernambuco, do seu ilê, da sua avó, a Yalorixá Amara Mendes; da sua mãe, Yalorixá Maria Helena; do Afoxé Oyá Alaxé, do Balé Nagô Ajô e, apresenta para nós uma incrível sistematização da Dança Nagô e da Pedagogia Nagô Ajô. Helaynne Sampaio fala na primeira pessoa, mergulhando no fluxo das águas que trouxeram seus ancestrais para esta terra chamada Brasil
A obra, que foi lançada no Encontro em Celebração aos 18 anos do Afoxé Oyá Alaxé – Mulheres Guardiãs Ancestrais da Cultura Popular, pretende ser um adinkra sankofa, resgatando o passado para ressignificar o presente e construir o futuro. Utilizando a “escritancestral” como um instrumento de combate ao racismo, a autora descoloniza o fazer-pensar dança, combatendo o racismo epistêmico, evidenciando assim as formas singulares que as intelectuais negras têm de contar sua própria história.
Em entrevista exclusividade para o Blogueiras Negras, a Olefun Helaynne Sampaio conta um pouco sobre essa realização e compartilha detalhes de como superou alguns desafios:
Blogueiras Negras (BN):
É incrível como as religiões de matrizes africanas se manifestam de diversas formas, mas nem sempre é tão fácil comunicar para o mundo quem somos e de onde viemos. Quais foram os principais desafios na construção deste livro e como você os superou?
Olefun Helaynne Sampaio:
O livro foi um desafio encarado com coragem e vontade de acreditar. Os terreiros são espaços que fortalecem o nosso potencial para que a gente se expresse da nossa forma. A gente não tenta se enquadrar nessa linguagem única que a branquitude e o pensamento europeu, hegemônico, prega. Desde criança… minha mãe, Mãe Amara, sempre prezou por uma forma menos acadêmica; de escrever da mesma forma que a gente dialoga com o outro. O difícil foi a pesquisa em si sobre a história do nosso terreiro, a comunidade onde ele está, como o orixá se manifesta, a natureza de cada um, como ele se comunica e tudo isso, escrevendo da nossa forma. Então, isso foi bem prazeroso. Eu me senti livre porque eu não fiquei procurando aquele padrão de escrita da ABNT. Eu não fiquei presa a isso. É libertador escrever da forma como a gente existe.
Blogueiras Negras (BN):
Povos de terreiro sempre são muito associados apenas a tradição oral, que é tão importante quanto outras formas de comunicação, mas você vai além quando escolhe escrever um livro.De onde partiu essa vontade de também utilizar a escrita para narrar a estória e a herança do seu terreiro, da sua família e da sua tradição?
Olefun Helaynne Sampaio:
Eu criei a expressão “escrita ancestral” que tá ligada a construção da narrativa a respeito da minha ancestralidade, sobre como a gente está lutando e combatendo as desigualdades. Essa escrita, na verdade, não é minha; é a minha ancestralidade falando como a gente se reconstruiu aqui na diáspora e como a gente vem mantendo isso e a importância da gente manter esse legado de muito tempo. O povo de terreiro também tem a escrita como ferramenta de preservação. Aqui no meu terreiro, a gente ganha um caderno em que a gente anota os ensinamentos de Mãe Amara. Então, a gente imprime ali, escreve ali, as nossas vivências, as nossas experiências. A gente tem, sim, essa tradição descrever o que a gente aprendeu. Escreve as sensações, como aquilo nos tocou. O que a gente aprendeu de fundamento e de ritual. Não é só a oralidade. A gente escreve também. A gente tem essa tradição de salvaguardar todo esse legado através da escrita também.
Blogueiras Negras (BN):
Você é licenciada em dança, mestranda em educação contemporânea e diretora de dança do Afoxé Oyá Alaxé, sendo uma profissional que reforça o poder da dança como um instrumento pedagógico. Como você entendeu que poderia utilizar a arte também como ferramenta de preservação da sua tradição e construiu essa segurança para escrever sobre isso?
Olefun Helaynne Sampaio:
Para mim, é importante contribuir para perpetuar a cultura da minha família, da cultura nagô de Pernambuco; contribuir para que as pessoas possam mergulhar nesse axé, beber desse axé; fortalecer o seu cotidiano através de suas lutas. A cultura nagô se manifesta muito através da arte. A arte é o principal instrumento de existência emancipatória. A arte é muito forte nos terreiros. É através da dança que a gente se comunica; que a gente conversa com os orixás e com o outro. A gente reza tocando e cantando. Minha mãe diz que esse livro é uma missão. O Orixá Oyá já trazia que eu estava nesse destino, de falar dessa forma, fortalecendo, salvaguardando e perpetuando esse legado. O terreiro me deu essa segurança. A gente vai para a escola e convive com aquele padrão da forma única de escrever e de valorizar o conhecimento. O terreiro me deu essa segurança de me expressar sem ficar presa nesses padrões. O terreiro me deu essa segurança de ter certeza de que há várias formas de escrita; há várias formas de se expressar.
Blogueiras Negras (BN):
Como Mãe Amara se sentiu ao ver o livro e como podemos adquiri-lo?
Olefun Helaynne Sampaio:
Mamãe (Mãe Amara) ficou muito emocionada de ver a história da nossa família num livro e contada por nós. Pessoas negras contando sua própria história, por isso, a prioridade será a edição impressa. Depois, faremos a versão online. O livro custa R$80,00 (oitenta reais), o valor que encontramos para remunerar o trabalho intelectual e cobrir os custos da tiragem física. Nada foi fácil. Para encomendar, a gente indica o linktree que está na bio do nosso Instagram (@espacodancahelaynne), lá as pessoas podem conversar conosco via Whatsapp, verificar formas de pagamento, agendar horários para retirar e/ou escolher outras formas de envio.
Blogueiras Negras (BN):
Quais são os próximos passos? Tem alguma novidade?
Olefun Helaynne Sampaio:
Estamos [Afoxé Oyá Alaxé] gravando um novo CD, que vai lançar no dia 18 de novembro ou dezembro. Em junho, a gente fez uma versão mais religiosa. Logo mais retornaremos o primeiro a todas as plataformas, tivemos um problemas mas já estamos resolvendo.
Sobre a autora: Helaynne Sampaio é Yalaxé do Terreiro de Mãe Amara, artivista feminista antirracista, docente, pesquisadora, percussionista e multi-artista, mãe solo. Licenciada em Dança pela UFPE. Mestranda em Educação Contemporânea pela UFPE. BailariNagô, diretora de dança, professora e coreógrafa do Afoxé Oyá Alaxé. Primeira Princesa do Maracatu Sol Brilhante. Idealizadora da Ilé Èkó Ajô Nagô (Escola de Dança Nagô), Balé Nagô Ajô e do Espaço de Dança Helaynne Sampaio.
Serviço:
O que: Livro Dança Nagô: herança ancestral e resistência matriarcal do Balé Nagô Ajô, corpo que dança Afoxé Oyá Alaxé
Como adquirir: Via whatsapp, clicando neste link, https://linktr.ee/espacodancahelaynnesampaio.
Este texto foi produzido por Viviane Gomes e Wellington Ricardo da equipe de Comunicação de Blogueiras Negras.