Quase lá: Base do governo adia proposta bolsonarista de fim do casamento homoafetivo

Proposta fundamentalista religiosa, contrária à Constituição, tenta impedir casamento homoafetivo

Reprodução/X
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A audiência pública é fruto de solicitação através de um requerimento do Pastor Henrique Vieira (Psol-RJ) em 5 de setembro e passou por unanimidade no colegiado

 

São Paulo – A votação do Projeto de Lei (PL 580/2007), que levanta preocupações sobre possíveis retrocessos em relação ao casamento homoafetivo, foi adiada. A sessão tumultuada ocorreu na Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família da Câmara dos Deputados. A base aliada do governo conseguiu postergar a votação por meio de um acordo com a oposição. Agora, está estabelecido que a votação ocorrerá na próxima quarta-feira (27), na mesma Comissão.

O argumento para o adiamento da sessão foi a aprovação, no dia 12, de uma audiência pública sobre o tema, autorizada pelo presidente da Comissão, Fernando Rodolfo (PL-PE). Rodolfo sugeriu que a audiência pública fosse realizada na terça-feira (26). Isso sem qualquer obstrução durante a votação do projeto. Assim, apenas o mérito do PL 580/2007 será apreciado.

A audiência pública é fruto de solicitação por meio de um requerimento do Pastor Henrique Vieira (Psol-RJ) em 5 de setembro e passou por unanimidade no colegiado. Então, determina a realização da audiência antes da votação do projeto, que foi resgatado e deturpado pelo presidente da Comissão e está sob relatoria do Pastor Eurico (PL-PE).

Absurdos

Henrique Vieira aproveitou seu tempo para responder às críticas de que estava obstruindo a pauta. Ele mencionou que solicitou uma verificação de votação na última sessão da Comissão, em 5 de setembro. A deputada Erika Kokay (PT-DF) afirmou que há registros em vídeo de Fernando Rodolfo afirmando sobre a aceitação da audiência pela Comissão.

A sessão era o único item da pauta da Comissão às 12h. Mas, após duas horas de pressão do movimento LGBTQIA+ no local, a oposição se reuniu com o presidente para discutir os próximos passos da sessão.

A investida ultraconservadora já encontra parecer contrário do Supremo Tribunal Federal (STF). Os ministros consideram o casamento homoafetivo legal, de acordo com a Constituição Cidadã de 1988. Isso porque a Carta Magna prevê um Estado laico, além de priorizar o combate a qualquer tipo de discriminação. Contudo, a realidade do Estado, as leis, pouco importam para os bolsonaristas radicais.

Casamento homoafetivo

Erika Kokay, presente durante toda a sessão, ressaltou a importância do acordo. “Estamos aqui na luta para cancelar essa reunião. Além do projeto ser absurdo, o presidente da comissão está rasgando um acordo importante. Vamos resistir”, disse. Já a parlamentar Sâmia Bomfim (Psol-SP) também reforçou o teor absurdo do projeto. “Estamos na comissão que quer pautar a absurda proibição do casamento homoafetivo no Brasil. Contra o fundamentalismo e o preconceito, vamos à luta pelos direitos da população LGBTQIA+”.

Já a parlamentar Erika Hilton (Psol-SP), que é mulher trans, foi vítima de preconceito durante a sessão. O presidente da Comissão só a chamou de “ele”. Contudo, a política combativa, que conseguiu se inscrever como membro efetivo da Comissão, foi essencial para o adiamento. “Após mais de 6h de luta, conseguimos evitar a votação do projeto inconstitucional que quer proibir o casamento homoafetivo. Conseguimos garantir uma audiência pública para ouvirem nossa comunidade”, disse.

Um dos nomes mais ativos deste debate, o Pastor Henrique Vieira (Psol-RJ) também celebrou o adiamento. “Depois de 5 horas de discussão, conseguimos adiar a votação do Projeto de Lei que acaba com o casamento civil homoafetivo! Então, agora teremos tempo para realizar a audiência pública que aprovamos e debater com a sociedade antes da decisão final da Comissão”.

 

A tentativa de votação tumultuada de um projeto de lei (PL) contrário ao casamento homoafetivo na Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família da Câmara dos Deputados expõe a ofensiva da oposição conservadora no Congresso Nacional em emplacar pautas de costume e acender a militância.

O PL nº 580/2007, de autoria do ex-deputado Clodovil Hernandes, estava engavetado havia 16 anos na Câmara e previa, originalmente, que “duas pessoas do mesmo sexo poderão constituir união homoafetiva por meio de contrato em que disponham sobre suas relações patrimoniais”.

Oito projetos foram vinculados (apensados) ao original, e é por meio de um deles que parlamentares conservadores tentam barrar o casamento homoafetivo. O parecer do relator, Pastor Eurico (PL-PE), é contrário aos sete apensados favoráveis, e recomenda a aprovação apenas do PL nº 5.167/2009, assinado pelo ex-deputado Capitão Assumção (PSB-ES). Este afirma que a união homoafetiva não deve ser equiparada ao casamento civil.

A sessão foi marcada pela presença de representantes da sociedade civil, mas a apreciação do projeto foi adiada a partir da aprovação de um acordo que marcou, para a próxima terça-feira (26/9), uma audiência pública sobre o tema. A votação do parecer do relator, por sua vez, acabou transferida para quarta-feira (27/9).

Ao Metrópoles o deputado Pastor Henrique Vieira (PSol-RJ) afirmou que a audiência pública da próxima semana será essencial para marcar posição e demonstrar que diversas entidades se opõem ao texto.

“O que aconteceu hoje, a mobilização, é uma derrota para eles (conservadores). Não estamos surfando em uma pauta, eles estão enfrentando resistência. Por mais que o cenário seja ruim, uma coisa é você perder de lavada, outra coisa é perder com alto posicionamento da sociedade civil contra. A gente não pode desvalorizar a audiência de terça”, ressaltou.

Na base do governo, a avaliação é que, mesmo se o projeto for aprovado nesta comissão, não chegará a se tornar lei. “Temos ainda a Comissão de Direitos Humanos [CDH] e a Comissão de Constituição e Justiça [CCJ], ou o recurso de efeito suspensivo, e até mesmo a sanção presidencial”, explica ao Metrópoles a deputada Erika Kokay (PT-DF). A parlamentar destaca, ainda, que pautar este projeto é uma tentativa fundamentalista de se opor aos avanços da sociedade nos últimos anos.

Discursos LGBTfóbicos

Nas últimas duas sessões da Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família, o clima foi de embate entre os parlamentares, com intensa presença da sociedade civil. Deputados de oposição aproveitam o tempo de fala para discursos inflamados e discriminatórios contra a comunidade LGBT, sob forte reação dos presentes.

O deputado federal Pastor Isidório (Avante-BA) afirmou, por exemplo, que a relação homoafetiva “vem de Grécia, vem de Roma, não é coisa daqui do Brasil”.

Além disso, o deputado Pastor Isidório proferiu fala transfóbica ao dizer que “homem, mesmo cortando a binga, não vai ser mulher; e mulher, cortando a cocota se for possível, não será homem”. Ele também chamou a deputada trans Erika Hilton (PSol-SP) de “amigo”.

 

Bancada conservadora

O cenário de LGBTfobia na comissão que analisa o PL reflete a composição do Congresso nesta legislatura. Na Câmara, o Partido Liberal, de Jair Bolsonaro (PL), tem a maior bancada, com 99 deputados.

A Federação Brasil da Esperança, integrada por siglas mais progressistas, como PT, PV e PCdoB, tem a segunda maior bancada, com 81 parlamentares. Outras legendas mais conservadoras, no entanto, também têm um número expressivo na Câmara. É o caso do Republicanos, com 40 deputados.

Ao Metrópoles o presidente da Associação Nacional LGBTI+, Toni Reis, destacou que deputados, senadores e entidades que defendem o direito da comunidade devem tentar manter diálogo com todos os partidos. Ele participou do lançamento da Frente Parlamentar Mista por Cidadania e Direitos LGBTI+ do Congresso, na noite de terça (19/9).

“É uma frente pluripartidária. Vai demonstrar muita força. Isso é importante para nós, precisamos conversar com os partidos políticos, dialogar com todos os setores, com pessoas evangélicas da direita, esquerda do centro. Com o pessoal da extrema direita, vamos ter uma estratégia para isolá-los. Eles conseguiram elaborar essa estratégia de colocar em uma comissão específica na qual eles têm maioria. Mas isso não vai se refletir em outras comissões”, opinou.

fonte: https://www.metropoles.com/brasil/casamento-lgbt-congresso-conservador

 


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