Pesquisador faz a ressalva de que é preciso fugir de “simplismos nutricionais”, e que o objetivo não é generalizar nem estigmatizar alimentos
Os dados foram obtidos pela base do projeto ISA-Nutrição 2015, coordenado pela professora Regina Mara Fisberg e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Trata-se de um estudo transversal realizado por uma parceria entre a FSP e Faculdade de Medicina (FMUSP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Instituto de Saúde (IS) do Estado de São Paulo. Os pesquisadores aplicaram questionários nos moradores de áreas urbanas da cidade de São Paulo. Dentro das limitações geográficas, o projeto conseguiu coletar uma amostra diversificada em termos de renda, etnia, idade e escolaridade.
A pesquisa avaliou uma amostra de 467 mulheres com mais de 40 anos, medindo o potencial inflamatório de dieta a partir do Índice Inflamatório Dietético (IID) e o grau de atividade física, a partir do Questionário Internacional de Atividade Física (Ipaq), que leva em consideração no cálculo até mesmo atividades feitas por lazer. Na modelagem estatística foram definidas, também, as variáveis de ajuste – fatores que podem influenciar os resultados e, por isso, são considerados nos cálculos: doenças não transmissíveis, intervalo de idade, anos de educação formal, índice de massa corporal (IMC) e etnia.
Dietas pró-inflamatórias: glúten e lactose não são os vilões
João Valentini Neto, doutorando pelo Programa de Pós-Graduação Nutrição em Saúde Pública e um dos autores do artigo, ressalta que a pesquisa foge de “simplismos nutricionais” e que o objetivo não é generalizar nem estigmatizar alimentos como leite e pão, por exemplo. “Quando tocamos nesse assunto, não estamos falando em condenar a lactose e o glúten”, comenta o pesquisador, referindo-se a alguns conteúdos equivocados divulgados na imprensa e nas mídias sociais.
O Índice Inflamatório Dietético (IID) utilizado foi desenvolvido por pesquisadores estadunidenses e leva em conta diferentes aspectos da dieta a partir de cálculos específicos da quantidade e qualidade nutricional dos alimentos. Frutas, legumes, verduras, especiarias, óleos que contenham ômega 3 – como óleo de peixe ou azeite de oliva – cebola, alho, gengibre e chás são considerados alimentos anti-inflamatórios pelo índice. Por sua vez, alimentos com maiores quantidades de gordura saturada – como a carne vermelha – e predominância de carboidratos simples – como a farinha branca – são considerados pró-inflamatórios.
Valentini Neto explica que uma alimentação anti-inflamatória deve se aproximar das dietas tradicionais – praticadas por grupos culturais antes da introdução de alimentos industrializados – e se afastar da dieta ocidentalizada – caracterizada pelo consumo excessivo de ultraprocessados, grãos refinados e alimentos pré-embalados.
O pesquisador aponta que o objetivo não deve ser meramente excluir alimentos pró-inflamatórios, mas, especialmente, acrescentar estímulos que façam efeito contrário. Ele explica que o índice avalia como substâncias pró-inflamatórias e anti-inflamatórias reagem. Para ele, a população deve buscar um equilíbrio alimentar.
O indicador, diz ele, “engloba desde a quantidade de orégano até a mensuração de ativos como os flavonóides antioxidantes”, referindo-se às substâncias presentes em alguns vegetais que protegem as células contra os efeitos danosos dos radicais livres.