Quase lá: Veja as provas que descartam morte de mulher por engasgo e reforçam assassinato

A polícia encontrou indícios de que a mulher, supostamente morta após ter se engasgado com um pedaço de carne, pode ter sido assassinada em Samambaia. O namorado dela é apontado como principal suspeito e está preso

Darcianne Diogo
postado em 18/07/2023 Correio Braziliense

 

Mulher deixou um filho pequeno -  (crédito: Redes sociais)
Mulher deixou um filho pequeno - (crédito: Redes sociais)

A investigação sobre uma morte aparentemente causada por engasgo com um pedaço de carne sofreu uma reviravolta e vai mudar para um inquérito de feminicídio. Ontem, agentes da 26ª Delegacia de Polícia (Samambaia Norte) desencadearam uma operação e prenderam Marcus Renato de Sousa da Silveira, 44 anos. O técnico de informática é apontado como o responsável pela morte da namorada, Elaine Vieira de Jesus Dias, 35. Marcus ficará preso temporariamente por 30 dias, mas pode ter a prisão preventiva decretada pela Justiça. O Correio teve acesso com exclusividade ao depoimento prestado pelo homem na delegacia. Ele nega as acusações. Se confirmado o assassinato, este será o 21º feminicídio praticado neste ano no DF.

Elaine e Marcus mantinham um relacionamento de nove meses e moravam juntos em Samambaia. Testemunhas ouvidas pela polícia, entre elas amigos e familiares da mulher, afirmaram que o namoro entre os dois era conturbado e "tóxico". Para colegas próximas, era comum Elaine se queixar quanto ao comportamento abusivo, rude e hostil do companheiro.

Correio Braziliense apurou que, antes de começar o namoro com Elaine, Marcus era casado com uma mulher e residia em Taguatinga. Em um boletim de ocorrência registrado pela ex na delegacia, a vítima relatou uma situação de violência doméstica. No depoimento, contou que sofria de câncer e, em um determinado dia, ele chegou em casa bêbado e sob efeito de drogas, exigindo que ela mantivesse relação sexual com ele. Ao negar, o homem pegou uma faca, a ameaçou e proferiu palavras de baixo calão.

Dinâmica

A morte de Elaine ocorreu na noite de 22 de março, na casa de Marcus. Dois dias antes, o casal teve um desentendimento. Em depoimento prestado ontem na delegacia, Marcus alegou que a briga ocorreu por "motivos banais" e divergências relacionadas aos afazeres domésticos.

A reportagem apurou que, após a discussão, Marcus expulsou Elaine de casa, na chuva. A mulher foi caminhando para a casa da mãe e, no caminho, ligou para uma amiga, aos prantos, para desabafar sobre o ocorrido. A colega contou a situação para um rapaz, que era amigo de Elaine desde o ensino fundamental e o homem resolveu ajudá-la.

Na noite de 22 de março, Elaine e o colega marcaram de se encontrar em um restaurante mexicano, no Guará. O homem chegou a arcar com as despesas do transporte de aplicativo para que ela fosse até o local. No estabelecimento, os dois conversaram, mas Elaine começou a passar mal e a vomitar. Por isso, decidiram ir embora e ir para a casa do colega, no Sudoeste.

Antes disso, enquanto Elaine ainda estava no restaurante, Marcus ligava e mandava mensagens para ela de forma insistente. Quando a mulher chegou à casa do amigo, o namorado continuou com as ligações e o próprio colega decidiu atender. Segundo Marcus, a conversa entre os dois ocorreu de forma "amistosa" e pediu para que ele colocasse Elaine em um transporte por aplicativo para voltar para a casa. Em outro momento, o técnico fez uma chamada de vídeo com Elaine e viu a mulher deitada no sofá com uma coberta.

Aos investigadores, o colega de Elaine negou que os dois tivessem mantido relações sexuais e explicou que a mulher estava deitada no sofá por estar passando mal. Em uma nova ligação o companheiro exigiu que Elaine voltasse para a casa. Na delegacia, o colega relatou que foi possível ouvir Marcus xingando a namorada. Desesperada, Elaine decidiu ir embora e pediu um carro por aplicativo.

Marcus esperou pela chegada de Elaine do lado de fora de casa. Segundo ele, a mulher chegou embriagada, se arrastando pelo chão e caiu por três vezes no portão. Na versão contada à polícia, Marcus alegou que os dois conversaram e ele saiu para limpar a área, enquanto Elaine pegou um prato com comida e foi para o quarto comer. Ainda de acordo com o acusado, Elaine derrubou o prato e desfaleceu ao se engasgar com um pedaço de carne.

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegou a ser acionado e, por telefone, orientou Marcus a realizar os procedimentos de primeiros socorros. A mulher chegou com vida ao Hospital Regional de Samambaia (HRS), mas morreu duas horas depois.

Provas

Os elementos que ligam Marcus à morte de Elaine são robustos, avalia o delegado à frente do caso, Marcos Miranda. Segundo o investigador, o laudo elaborado pelo Instituto de Medicina Legal (IML) aponta fortes indícios de que a mulher tenha sido assassinada por esganadura.

Correio obteve acesso ao laudo. Os médicos legistas identificaram lesões no pescoço, no joelho, costelas quebradas e até a falta de uma unha no dedo polegar da mão esquerda. O documento atestou, ainda, que Elaine não tinha lesão no esôfago, o que é comum em casos de engasgo e concluiu que a vítima não tinha consumido nenhum alimento recente.

Ao ser questionado sobre o pedaço de carne que a mulher teria se engasgado, Marcus afirmou que levou a carne até à delegacia e entregou para um agente. Uma denúncia anônima revelou, ainda, que Marcus teria chamado uma vizinha para lavar o apartamento logo depois da morte de Elaine. Os fatos estão em investigação.

Outra linha que faz os investigadores desconfiarem da versão de Marcus é o comparecimento de Marcus na casa da mãe de Elaine, depois da morte da companheira, para ameaçá-la. Conforme consta na denúncia, Marcus fingiu ser síndico para conseguir entrar no condomínio, danificou a porta do apartamento e fugiu ao ser confrontado pelos vizinhos.

A prisão temporária de Marcus é de 30 dias e foi deferida pelo juiz Fabrício Castagna. A Justiça autorizou ainda a busca e apreensão na casa do suspeito e a quebra de sigilo dos dados dos aparelhos eletrônicos. A reportagem falou com a defesa do homem, que preferiu não se manifestar.

fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/cidades-df/2023/07/5109571-veja-as-provas-que-descartam-morte-de-mulher-por-engasgo-e-reforcam-assassinato.html

 


Matérias Publicadas por Data

Artigos do CFEMEA

Coloque seu email em nossa lista

lia zanotta4
CLIQUE E LEIA:

Lia Zanotta

A maternidade desejada é a única possibilidade de aquietar corações e mentes. A maternidade desejada depende de circunstâncias e momentos e se dá entre possibilidades e impossibilidades. Como num mundo onde se afirmam a igualdade de direitos de gênero e raça quer-se impor a maternidade obrigatória às mulheres?

ivone gebara religiosas pelos direitos

Nesses tempos de mares conturbados não há calmaria, não há possibilidade de se esconder dos conflitos, de não cair nos abismos das acusações e divisões sobretudo frente a certos problemas que a vida insiste em nos apresentar. O diálogo, a compreensão mútua, a solidariedade real, o amor ao próximo correm o risco de se tornarem palavras vazias sobretudo na boca dos que se julgam seus representantes.

Violência contra as mulheres em dados

Cfemea Perfil Parlamentar

Logomarca NPNM

Direitos Sexuais e Reprodutivos

logo ulf4

Cfemea Perfil Parlamentar

Informe sobre o monitoramento do Congresso Nacional maio-junho 2023

legalizar aborto

...