Valderia da Silva Barbosa foi morta a facadas pelo ex-companheiro, de quem estava separada há cerca de 40 dias. A policial civil trabalhava na Deam e orientava vítimas de violência doméstica
O velório da policial civil Valderia da Silva Barbosa aconteceu nesta segunda-feira (14/8), no Templo Ecumênico nº 2, do Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul, das 14h às 16h. A cerimônia foi marcada por emoção e protestos. Muitos participantes portavam cartazes com as mensagens, que também eram entoadas, "feminicídio não!" e "homens, parem de nos matar". A vice-governadora do DF, Celina Leão, o secretário de Segurança Pública, Sandro Avelar, e a ex-primeira dama da República Michelle Bolsonaro estiveram presentes.
Antes do começo da cerimônia, iniciou-se um grande cortejo da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) pelas ruas de Brasília para homenagear Valderia, policial da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (DEAM II, Ceilândia). Membros da corporação seguiram pelas ruas da capital com helicópteros, carros e motocicletas com sirenes ligadas, da Esplanada até o cemitério.
“Infelizmente o destino nos levou a isso, mas, hoje, nós estamos aqui pra fazer esse voto em homenagem a ela, homenagem aos familiares e dizer que estamos aqui com vocês", disse Robson Cândido, delegado geral da PCDF. Ao fim do funeral, o helicóptero da Polícia Civil jogou pétalas de rosas do céu. Houve ainda salva de tiros feita por sete policiais civis.
23° feminicídio do ano no DF
Valderia da Silva Barbosa trabalhava na Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam II), em Ceilândia, e foi a 23ª vítima de feminicídio em 2023. Separada do ex-marido há cerca de 40 dias, foi morta a facadas por Leandro Peres Ferreira, na manhã de sexta-feira (11/8), no condomínio onde morava, em Arniqueiras. O número de casos de feminicídio consumados neste ano já é maior do que o número registrado em todo o ano de 2022, quando ocorreram 17 crimes desse tipo.
Após cometer o feminicídio, o assassino foi visto saindo de uma loja, em Taguatinga, em imagens de câmeras de segurança. Na madrugada desta segunda-feira (14/8), Leandro foi morto pela Polícia Militar do Estado de Goiás (PMGO) em Porangatu (GO), após uma troca de tiros. “A justiça foi feita, mas o que me dói mesmo é acreditar que ele era uma boa pessoa”, desabafa Maria José da Silva, mãe de Valderia.
*Reportagem de Ana Luíza Moraes, estagiária sob a supervisão de Malcia Afonso
Policial morta deixa legado de luta em favor das mulheres
Valderia da Silva, a policial civil morta pelo ex-marido com 64 facadas, foi homenageada diante de forte clima de comoção e revolta durante o velório
Um aparato de centenas de policiais, bombeiros, amigos e familiares e um protesto por Justiça marcaram o adeus à agente da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) Valderia da Silva. Aos 46 anos, a servidora pública, então lotada na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam 2), foi brutalmente assassinada pelo ex-marido com 64 facadas dentro de casa, em Arniqueiras, e se tornou a 23º vítima de feminicídio da capital em menos de oito meses. Leandro Peres Ferreira, 46, estava foragido desde sexta-feira. Após uma mobilização das forças de segurança do DF e de Goiás, o criminoso de Brasília faleceu depois de entrar em confronto com policiais militares.
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No começo da tarde de ontem, a PCDF fez um cortejo em homenagem à policial. Dezenas de viaturas da Polícia Civil, da Polícia Militar (PMDF) e do Corpo de Bombeiros (CBMDF), além de helicópteros, saíram da Delegacia-Geral da PCDF rumo ao cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul, local onde Valderia foi velada. Depois, o corpo seguiu para Formosa para ser cremado. No cemitério, colegas da vítima ergueram faixas com pedidos por Justiça. "Homens, parem de nos matar" e "Que a luz nos guie no combate à violência contra as mulheres" estavam entre os dizeres.
Sob um clima atípico para a época de seca, a tarde nublada foi marcada por tiros de festim para o alto e uma chuva de pétalas que homenageou o legado da policial assassinada. Por muito tempo, a experiência de crescer em uma sociedade machista fez com que a mãe, Maria José da Silva, desejasse não ter uma filha. "A mulher tinha muita humilhação, e eu passei por muita coisa ruim na minha vida", lembrou.
"Uma pessoa fantástica e uma policial maravilhosa", ressaltou Wellington Balbino, ex-colega de trabalho e amigo próximo da vítima. Ele contou que trabalharam juntos na Seção de Investigação de Crimes Violentos na região administrativa do Sol Nascente, que abriga 79 mil moradores. "A Val era uma policial sensacional. Eu trabalhei com ela há 11 anos no Sol Nascente, e nossa equipe conseguiu controlar a criminalidade ali", disse.
Segundo o policial, depois que recebeu a notícia da morte da amiga, ele não parou de trabalhar até recolher o máximo de informações sobre o feminicida, que fugiu após o crime. "Nós pegamos vídeo no banco, ele sacando dinheiro, andando a pé na rua. Foi uma coisa muito muito corrida. Foi assim de dia e de noite, correndo atrás dessas informações", relatou. "Graças a Deus, ele teve um destino. Está morto, não vai mais fazer mal para ninguém, não vai mais atrapalhar a vida de ninguém".
Enoque Venâncio, presidente do Sindicato dos Policiais Civis no Distrito Federal (Sindipol-DF), afirmou que o fato de a vítima ser uma policial civil da Delegacia da Mulher (Deam) levanta dúvida sobre em qual ambiente as mulheres estão realmente seguras. "O que choca é o tanto que ela era testemunha de violências como essa. Ela era combatente na defesa da sociedade, trabalhava em uma delegacia especializada para combater esse tipo de crime horrível", comentou o presidente. "Ela, como policial civil na Deam, ser uma das vítimas, faz com que a gente faça uma reflexão sobre essa sociedade machista e essa cultura de pertencimento", completou Venâncio.
"A gente precisa falar para toda a sociedade se envolver, sim. Em briga de marido e mulher, nós temos que meter a colher", acrescentou. Para a secretária da Mulher, Giselle Ferreira, o resultado do assassinato de Valderia explicita o fato de que todas as mulheres estão vulneráveis a esse tipo de crime, e reforça que o seu trabalho é dar informação necessária às mulheres vítimas de violência doméstica para perceberem os sinais antes da consumação do feminicídio. "A gente precisa colocar a mulher para entender que a violência cresce. Começa com palavras, com um empurrão, até chegar nesse feminicídio. Precisamos estar atentas a esses sinais".
Robson Cândido, delegado geral da PCDF, lamentou a morte de Valderia e frisou que a instituição está empenhada em prestar as homenagens à vítima e à sua família. "Infelizmente o destino nos levou a isso, mas, hoje, nós estamos aqui pra fazer esse voto em homenagem a ela, homenagem aos familiares e dizer que estamos aqui com vocês. É um um momento de muita tristeza, mas que a gente tem que superar. Que isso seja mais uma lição para todos nós, policiais civis".
Ben-Hur Viza, representante do juizado de violência doméstica do Núcleo Bandeirante, relembrou a importância de as mulheres registrarem ocorrência e solicitarem a medida protetiva, desde os primeiros sinais de violência, mesmo que não haja agressões físicas. "São os pequenos sinais de que a coisa está se agravando, e uma hora chega no máximo, que é o feminicídio. As violências passam por questões em função de cabelo, um tapa, um empurrão, obrigar pessoas a silenciarem, controlar a roupa, controlar o lugar onde vão, controlar relacionamentos e amizades, controlar a senha de rede social, todo esse controle é um sinal de que o homem está avançando numa área que é perigosa para a mulher", destacou.
"A violência doméstica não é essa violência comum, como roubo, sequestro, não. Ela tem características próprias das pessoas de gênero, e precisa ser trabalhada com esse olhar diferenciado. Não dá para pensar diferente", enfatizou ainda o juiz. Segundo Ben-Hur, a medida protetiva exerce um papel importante, pois mostra ao agressor a seriedade que o Estado tem em relação ao feminicídio. "É um freio, uma manifestação de que o Estado está se opondo a esse tipo de violência. Quando o agressor vê que o Estado está intervindo, percebe um pouco mais a seriedade. Se quiser matar, vai matar sim, mas a gente tem vários dispositivos que podem ser usados para proteger essa mulher", completou.
O secretário de segurança do DF, Sandro Avelar, vice-governadora, Celina Leão, e a ex-primeira dama da República Michelle Bolsonaro também estiveram na cerimônia de despedida da policial.
Fuga e morte
Valderia morreu dentro de casa, ao ser esfaqueada com 64 golpes, segundo laudo do Instituto de Medicina Legal (IML). O corpo da policial foi encontrado pelo filho dela, de 24 anos, por volta de 12h30. Para a polícia, não há dúvidas de que o feminicídio tenha sido premeditado e planejado nos mínimos detalhes.
No dia do crime, câmeras de segurança flagraram o homem entrando no condomínio da vítima em um Ford Fiesta vermelho. Ele permaneceu por cerca de três horas no local. Pouco tempo depois, ele saiu em fuga. Sacou um total de R$ 10 mil em uma agência bancária e foi visto numa loja, logo depois, pegando uma bicicleta que estava em revisão. Mais tarde o carro foi encontrado abandonado na casa da mãe do suspeito, em Taguatinga Norte.
De imediato, a polícia deu início às diligências, em busca de qualquer informação que levasse ao paradeiro de Leandro. Comerciantes e moradores de Taguatinga Norte foram orientados pela corporação a consultar as imagens do sistema de videomonitoramento para verificar o destino tomado pelo acusado, visto que ele saiu da EQNL 10/12 com rumo à QNL 12 e Setor H Norte.
No sábado, policiais civis do DF confirmaram que Leandro havia fugido para Porangatu (GO) e viajaram até o município goiano. Ao Correio, o tenente-coronel Evando Polidorio Lustosa, comandante do 3º Batalhão da PMGO, afirmou que o suspeito acionou um transporte por aplicativo, por meio de um celular que pegou emprestado em um posto de gasolina da região. Ele ofereceu R$ 3 mil ao motorista para ser levado ao Maranhão. O homem, no entanto, afirmou que teria que passar em casa antes e, nesse momento, Leandro saiu do carro e deixou o dinheiro no banco de trás do veículo.
"O motorista notou que tinha algo de estranho e procurou a polícia. Quando ele nos contou a história, mostramos a foto disse que, de fato, parecia muito com o cliente. Começamos a procurá-lo em um raio de 5km a 7km da via que dá acesso à Tocantins, quando o encontramos a pé e sozinho", afirmou o tenente-coronel.
De acordo com o PM, no momento em que as equipes se aproximaram, Leandro atirou contra os policiais. Ele estava em posse de uma arma de fogo calibre 32. Para revidar a agressão, os policiais revidaram o ataque. Ferido, o agressor chegou a ser atendido pelo Corpo de Bombeiros, mas não resistiu aos ferimentos e morreu. Com a morte do principal suspeito do feminicídio, o inquérito deve ser concluído nos próximos dias.
Repercussão
A morte de Valderia repercutiu em toda a capital e até no Brasil. Policiais de todo o país compartilharam fotos de Leandro, ainda quando ele estava foragido, além de pedidos por Justiça e políticas de combate à violência contra a mulher. A autora, escritora e produtora brasileira Glória Perez usou o Instagram para publicar a foto de Leandro. Na legenda, a roteirista escreveu: "Esse covarde matou a ex-mulher, policial e chefe da Delegacia de Atendimento à Mulher da PCDF, com 64 golpes de faca, porque ela não queria mais viver com ele".
Ontem, durante a inauguração do restaurante comunitário do Sol Nascente, o governador Ibaneis Rocha (MDB) comentou sobre o caso. "Estamos trabalhando muito sobre essa questão do feminicídio, juntando todas as secretarias e fazendo uma divulgação forte do número 180. Mas esse é um problema social, não só no DF, mas no Brasil todo. Precisamos de uma política nacional para isso. Felizmente, esse bandido está morto", disse.
Violência contra a mulher no foco
O Núcleo Judiciário da Mulher (NJM), o Laboratório de Inovação Aurora e a Assessoria de Comunicação Social (ACS) organizaram, ontem, o evento Diálogos com a imprensa, voltado a jornalistas, editores e assessores de comunicação. A ação contou com a participação da juíza do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) Fabriziane Zapata e da diretora e editora-chefe do Instituto Patrícia Galvão Marisa Sanematsu.
Fabriziane Zapata apresentou dados e pesquisas acerca do tema, além de chamar atenção para a importância dos programas de reeducação do agressor, frisando que a abordagem não deve se restringir à narrativa policial, mas abranger os encaminhamentos a serviços psicossociais de atenção à mulher e ao homem.
Marisa Sanematsu ressaltou que "todo feminicídio poderia ter sido evitado se houvesse interferência anterior", daí a importância da imprensa apontar soluções, falar sobre direitos, divulgar campanhas e, sobretudo, contar a história das mulheres que sobreviveram.
Colaboraram a repórter Letícia Mouhamad e os estagiários João Carlos Silva e Ana Luíza Moraes sob a supervisão de José Carlos Vieira
"Uma afronta à luta das mulheres", diz delegado sobre feminicídio
O delegado da Corf, Miguel Lucena, divulgou uma nota em que se revolta contra o feminicídio que vitimou Valderia da Silva Barbosa
O delegado da Coordenação de Repressão a Crimes Contra o Consumidor, a Propriedade Imaterial e a Fraudes (Corf), Miguel Lucena, divulgou uma nota em que repudia o feminicídio que vitimou Valderia da Silva Barbosa, colega de profissão que atuava na Delegacia da Mulher, em Ceilândia.
Lucena começa destacando que participou de alguns funerais de colegas que “tombaram no cumprimento do dever”, durante os 24 anos de profissão. “Mas o feminicídio de Valderia da Silva Barbosa, para além da perda de uma companheira de jornada, assassinada com 64 facadas, foi sentido como afronta à instituição Polícia Civil do Distrito Federal e à luta secular das mulheres”, revoltou-se o delegado.
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O agente da Corf ressaltou que Valderia “tinha a missão de proteger e aconselhar as mulheres vítimas de violência”. “Ela sabia dos perigos que corria e pereceu, ao cair nas mesmas ciladas que as pessoas comuns caem”, lamentou o delegado. “Para completar a obra maligna e perversa, Leandro Peres Ferreira, o ex-marido, esfaqueou o rosto de Val, como a desfigurar todo o trabalho que ela e suas colegas faziam e fazem em defesa das mulheres”, acrescentou.
Para Lucena, com os golpes no rosto, o autor do feminicídio quis enviar uma mensagem a todas as defensoras dos direitos das mulheres, de que elas não são nada diante do “poder de um macho”.
“A chuva de pétalas, lançadas do helicóptero da instituição, marcou a despedida da companheira martirizada, como a representar as lágrimas dos que ficaram e a alertar para a consciência de que nenhuma mulher, nem mesmo policial, estará segura enquanto perdurarem o machismo, o sentimento de posse, a rudeza e os baixos instintos”, encerrou o delegado da Corf.
Protestos
O velório da policial civil Valderia da Silva Barbosa aconteceu nesta segunda-feira (14/8), no Templo Ecumênico nº 2, do Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul, das 14h às 16h. A cerimônia foi marcada por emoção e protestos.
Muitos participantes portavam cartazes com as mensagens, que também eram entoadas, "feminicídio não!" e "homens, parem de nos matar". A vice-governadora do DF, Celina Leão (PP), o secretário de Segurança Pública, Sandro Avelar, e a ex-primeira dama da República Michelle Bolsonaro estiveram presentes no cortejo.
Assassino de policial morre em troca de tiros com PMs
Foragido da polícia desde o assassinato da ex-companheira, a policial civil Valderia da Silva, Leandro morreu após troca de tiros com a PMGO, em Porangatu (GO)
Leandro Peres Ferreira, suspeito de matar a ex-companheira e policial civil Valderia da Silva Barbosa Peres a facadas na sexta-feira (11/8), foi morto pela Polícia Militar do Estado de Goiás (PMGO) na madrugada desta segunda-feira (14/8) em Porangatu (GO), após troca de tiros. A informação foi confirmada ao Correio pela PMGO.
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De acordo com a PMGO, Leandro, de 46 anos, foi localizado em uma estrada de terra às margens da BR-153. O autor perambulava pela via sem a bicicleta utilizada no dia da fuga, quando foi encontrado pelos agentes. Ele reagiu à abordagem policial — o homem portava um revólver calibre 32, apreendido pela polícia após a troca de tiros.
Leandro foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros e encaminhado ao Hospital Municipal de Porangatu, mas morreu na unidade. Uma equipe da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) também estava na cidade em busca do suspeito, mas não participou do confronto.
Após cometer o crime, Leandro fugiu de bicicleta e era procurado desde então. Imagens de câmeras de segurança flagraram o momento em que o feminicida saiu de uma loja, em Taguatinga, onde pegou uma bicicleta e foi embora, por volta das 12h26. Ele estava vestido com uma camiseta e bermuda azul e usava boné e óculos de sol.
O corpo da policial foi encontrado pelo filho dela, de 24 anos, por volta de 12h30, na sexta-feira. Ela tinha um corte profundo no pescoço. À polícia, o rapaz informou que o último contato com a mãe foi por volta das 10h30, quando ela avisou que estava voltando para casa.
Imagens divulgadas pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) mostram Leandro entrando no condomínio da vítima, em Arniqueira, dirigindo um Ford Fiesta vermelho. Desde que se separou da mulher, há cerca de 40 dias, Leandro Peres havia voltado a morar com a mãe, em Taguatinga. Investigações da PCDF apontam que o suspeito planejou o crime em detalhes.
A morte de Valderia é o 23º feminicídio registrado no DF desde o início deste ano. O número de crimes de 2023 é maior do que a quantidade de feminicídios registrados em todo o ano de 2022, quando ocorreu um total de 17 assassinatos de mulheres.
“O que me dói é ter acreditado que ele era uma boa pessoa”, diz mãe de policial morta por ex
Maria José da Silva, mãe da policial da Deam Valderia da Silva Barbosa, cita dor em ter acreditado que assassino era uma boa pessoa
Metrópoles
A mãe da policial civil vítima de feminicídio lamentou a morte trágica da filha, aos 46 anos, e trouxe lembranças de quem era Valderia da Silva Barbosa. Maria José da Silva se emocionou no velório da agente da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) 2, dizendo que não imaginava que o assassino poderia cometer um crime tão bárbaro. “O que me dói mesmo era acreditar que ele era uma boa pessoa, mas no fundo não valia nada”, lamentou.
A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) e as demais forças de segurança realizaram uma última homenagem à Valderia na tarde desta segunda-feira (14/8), em um cortejo que contou com a presença de familiares e autoridades, como o secretário de Segurança Pública do DF, Sandro Avelar.
A agente foi brutalmente assassinada, aos 46 anos, pelo ex-compaheiro Leandro Peres Ferreira, 46, no banheiro de casa, em Arniqueira, na tarde de sexta (11/8). O feminicida morreu nesta segunda após troca de tiros com policiais militares de Goiás (leia mais abaixo).
Para a mãe da vítima, fica a imagem de uma mulher de fé, guerreira e inspiradora.
“Depois que cheguei aqui e vi essa quantidade de gente que ama minha filha, eu fui falando: ‘Ô, meu Jesus, perdoe por ter reclamando tanto de ter pouco filho. Foi ela que me ensinou a dizer: ‘Fé em Deus, pensamento positivo, tudo de bom que você quiser e desejar acontece’. Só tenho que agradecer a Deus a todo tempo na minha vida que ela passou comigo. […] Eu queria aprender, ir pra escola, e não tive oportunidade. Ela que me ensinou, comprou uma revista e disse pra mim: ‘Vamos, mãe’, dizia. Aprendi a ler e escrever por meio dela”, contou Maria José.
Um cortejo com dezenas de viaturas e acompanhado de helicóptero deixou a Delegacia Geral da PCDF rumo ao cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul, por volta das 13h10. Após cerca de 40 minutos, o corpo chegou ao cemitério, onde foi velado das 14h às 16h.
No caminhão do Corpo de Bombeiros que levou o caixão havia duas faixas com os seguintes dizeres: “Val, eternamente em nossos corações” e “Segurança Pública em luto”. A família estava no veículo dos bombeiros.
Troca de tiros
Apontado como assassino da policial civil, Leandro Peres estava foragido desde a última sexta-feira (11/8), quando cometeu o crime. Ele foi encontrado pela PMGO em Porangatu (GO) e teria reagido à abordagem policial. Os militares afirmaram que Leandro estava com um revólver calibre 32.
Ele foi encontrado em uma estrada às margens da BR-153. Após a troca de tiros, Leandro chegou a ser socorrido pelo Corpo de Bombeiros (CBMGO) e, depois, levado ao Hospital Municipal de Porangatu, mas não resistiu.
Facadas
Valdéria trabalhava na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) 2, em Ceilândia, e foi brutalmente assassinada, com mais de 64 facadas, segundo laudos preliminares do Instituto de Medicina Legal (IML).
A agente foi encontrada morta no banheiro de casa, em Arniqueira, na tarde de sexta. Este foi o 23º feminicídio registrado na capital do país neste ano, segundo o Painel de Feminicídios do Distrito Federal.