Quase lá: Colômbia cria Ministério da Igualdade e Equidade que será chefiado por Francia Márquez

"Reparação histórica": colombianos celebram nas redes sociais a criação do novo organismo

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
 
Francia e Petro agradeceram o Congresso pela criação do Ministério da Igualdade: "se avançamos em conjunto, daremos passos significativos para tornar a Colômbia uma potência pela vida" - Presidência Colõmbia

 

O Congresso da Colômbia aprovou a criação do Ministério de Igualdade e Equidade, na noite da última segunda-feira (12). Em ambas as casas, o projeto passou por ampla maioria: no Senado com 61 votos favoráveis e seis contrários; na Câmara com 139 votos a favor e apenas oito contra.

"Este ministério é um mecanismo para avançar na redução efetiva das brechas de desigualdade na Colômbia. Todas as pessoas merecem viver em paz, com igualdade de oportunidades e garantia de direitos, sem importar cor da pele, identidade de gênero, condição socioeconômica, opinião política, religião ou ou origem", disse a vice-presidenta Francia Márquez, que ficará a cargo da nova pasta.

A criação do ministério era uma proposta de campanha de Petro e Francia. O projeto foi defendido pelos congressistas do Pacto Histórico, que conseguiu formar uma aliança majoritária no Legislativo.

"A igualdade importa, nosso povo sabe que é nosso dever histórico e devemos cumprir o que prometemos na campanha", disse a deputada Luz Maria Múnera, autora do projeto de lei.

:: Piora: 1/3 da população da América Latina estará na pobreza até o fim do ano, aponta Cepal ::

Aproximadamente 21% da população latino-americana se autodeclara afrodescendente, segundo dados da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal). A Colômbia é o segundo país sul-americano com maior população negra, com 3,5 milhões de pessoas autodeclaradas no censo de 2020, ficando atrás somente do Brasil.

Cerca de 97,6% dos municípios colombianos são povoados por pessoas com ascendência africana e em 64 regiões o povo negro é maioria, segundo dados do Departamento Administrativo Nacional de Estatística (DANE).

Os dados oficiais ainda apontam que 38% das pessoas registradas como vítimas na Rede Nacional de Informação sobre o conflito são negras. Cerca de 98% das pessoas que vivem em comunidades de palafitas e quilombos foram deslocados dos seus territórios por situações de violência, de acordo com a Comissão Nacional da Verdade da Colômbia.

Além disso, entre os 217 líderes sociais assassinados de 2015 a 2019, 77 eram negros.

A desigualdade se expressa nos níveis de violência e também no acesso ao mercado laboral. Somente 47% das mulheres negras com mais de 15 anos estavam empregadas na Colômbia em 2018, de acordo com levantamento da Cepal.

Uma proposta popular

A proposta de criação do ministério foi fruto de elaborações do movimento popular. Na Colômbia, existem dezenas de organizações do povo afrocolombiano, incluindo o Movimento Cimarrón, Conferência Nacional de Organizações Afrocolombianas, a Mesa Nacional de Mulheres Negras, entre outras.

Em 2011, declarado o "ano afro" na Colômbia, estas organizações se uniram para pressionar pela aprovação da lei 1482 que penaliza o racismo e a discriminação. Uma das recomendações que partiram deste encontro foi justamente a criação de um braço institucional que implementasse políticas antirracistas no país.

Francia Márquez assumirá o ministério com um histórico de militância no movimento negro da Colômbia e defesa do protagonismo da pauta antirracial. Desde 1997, é integrante da Organização de Processos Comunidades Negras da Colômbia. Já entre 2010 e 2013, foi presidenta da Associação de Mulheres Afrodescentes de Yolombó.

:: Quem é Francia Márquez, a primeira mulher negra vice-presidenta na Colômbia? ::

Logo após a vitória eleitoral, em julho deste ano Francia visitou o Brasil e reuniu-se com parlamentares e representantes do movimento negro nacional, a fim de conhecer de perto políticas de inclusão social aplicadas durante os governos do Partido dos Trabalhadores, como as ações afirmativas, que implementaram a política de cotas nas universidades públicas.

Já na primeira semana de dezembro, Francia participou da primeira sessão do Fórum Permanente de Afrodescendentes das Nações Unidas, propondo o perdão da dívida externa dos países que sofreram com o colonialismo e a escravidão.

"Não podemos seguir na retórica de denunciar, sem que os países e a ONU, assumam de maneira real, além das recomendações, alguns compromissos. Propomos o perdão da dívida externa como um caminho de reparação histórica para a população afrodescendente. Nossos países continuam pagando dívida a países colonizadores e países que estiveram comprometidos com a escravidão que não nos permitiram viver com dignidade", disse a vice-presidenta colombiana.

Assim como no Brasil, a escravidão na Colômbia durou mais de 300 anos, de 1512 a 1851.

 

Edição: Nicolau Soares

 

fonte: https://www.brasildefato.com.br/2022/12/13/colombia-cria-ministerio-da-igualdade-e-equidade-que-sera-chefiado-por-francia-marquez

 

Matérias Publicadas por Data

Artigos do CFEMEA

Coloque seu email em nossa lista

lia zanotta4
CLIQUE E LEIA:

Lia Zanotta

A maternidade desejada é a única possibilidade de aquietar corações e mentes. A maternidade desejada depende de circunstâncias e momentos e se dá entre possibilidades e impossibilidades. Como num mundo onde se afirmam a igualdade de direitos de gênero e raça quer-se impor a maternidade obrigatória às mulheres?

ivone gebara religiosas pelos direitos

Nesses tempos de mares conturbados não há calmaria, não há possibilidade de se esconder dos conflitos, de não cair nos abismos das acusações e divisões sobretudo frente a certos problemas que a vida insiste em nos apresentar. O diálogo, a compreensão mútua, a solidariedade real, o amor ao próximo correm o risco de se tornarem palavras vazias sobretudo na boca dos que se julgam seus representantes.

Violência contra as mulheres em dados

Cfemea Perfil Parlamentar

Logomarca NPNM

Direitos Sexuais e Reprodutivos

logo ulf4

Cfemea Perfil Parlamentar

Informe sobre o monitoramento do Congresso Nacional maio-junho 2023

legalizar aborto

...