A antropóloga descobriu uma carta de Jair Bolsonaro publicada em sites neonazistas
Morreu neste domingo (29), a antropóloga Adriana Dias, uma das maiores referências em pesquisa sobre o neonazismo no Brasil. Ela também era militante pelos direitos das pessoas com deficiência.
Dias foi responsável por encontrar, em 2021, uma carta assinada por Jair Bolsonaro em sites neonazistas, publicada em 2004. A descoberta, publicada originalmente no The Intercept Brasil, seviu para aprofundar o entendimento de que o bolsonarismo está atrelado à ideologia neonazista.
"A partir da descoberta dessa carta, olho todos os finais de entrevista desse governo por outra ótica. Ele tem de fato um vínculo [com os neonazistas] desde 2004", afirmou Dias, em entrevista concedida em agosto de 2021.
Seu trabalho de pesquisa também identificou mais de 300 células neonazistas espalhadas pelo país, que reúnem entre 4 mil e 5 mil pessoas. Em entrevista para a Deutsche Welle em 2019, ela deu o alarme para o problema.
"A sociedade brasileira está nazificando-se. As pessoas que tinham a ideia de supremacia guardada em si viram o recrudescimento da direita e agora estão podendo falar do assunto com certa tranquilidade".
Repercussão
O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania publicou nota de pesar pelo falecimento de Adriana.
Com pesar, recebemos neste domingo (29) a notícia do falecimento da nossa companheira Adriana Dias. Colaboradora do grupo de transição do governo Lula, Adriana foi figura importante na composição da nova gestão.
Cientista, pesquisadora e doutora em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Adriana foi uma mulher com deficiência de referência para nós e nos estudos sobre neonazismo. Aguerrida ativista pelos direitos humanos, colaborou na efetiva denúncia de ações nazistas no Brasil. Feminista por ideologia, Adriana integrou a Frente Nacional de Mulheres com Deficiência. Foi também coordenadora da Associação Vida e Justiça de Apoio às Vítimas da Covid-19.
Expressamos aqui nossa homenagem em agradecimento a essa grande mulher, e enviamos nossos sentimentos à família.
Nas rede sociais, pesquisadores, militantes e políticos também lamentaram sua morte.
Edição: Thalita Pires