Este 8 de março, mais do que nunca, mostrou que as mulheres estavam cheias de razão quando organizaram o movimento #EleNão, durante o processo eleitoral de 2018, na tentativa de impedir a eleição de Jair Bolsonaro.
As declarações do atual presidente da república e de sua ministra da mulher, da família e dos direitos humanos, no Dia Internacional da Mulher, mais uma vez comprovam a justeza da posição tomada pelos movimentos feministas e de mulheres naquele momento.
As colocações de Jair Bolsonaro são uma afronta às mulheres brasileiras, pois a afirmação de que pela primeira vez o governo federal tem equilíbrio de gênero em seu ministério, porque as duas indicadas - Damares Alves e Tereza Cristina - equivaleriam cada uma a 10 homens, reflete não apenas a sua inépcia como também o desrespeito e o deboche no tratamento às mulheres. O governo tem atualmente 22 ministérios, 20 chefiados por homens e dois por mulheres. A continuação de sua fala já explica o porquê da ausência das mulheres em postos de comando, pois, segundo ele: “Está na bíblia que a mulher sábia edifica o lar”.
Em post no Twitter o presidente afirma que as mulheres são “joias raras” e que fará tudo para que elas possam se sentir representadas ao fim dos próximos 4 anos...”. Junto com essa postagem o presidente colocou um vídeo da ministra Damares defendendo o ensino domiciliar. Está mais do que evidente que para “eles” é para a casa que as mulheres devem voltar. Apresentação de propostas de políticas para as mulheres para a redução das desigualdades, o que seria indicado para esse momento, nada!
Por sua vez, a ministra Damares, à frente do ministério da mulher, da família e dos direitos humanos também mente, ao afirmar, na comemoração realizada em cerimônia fechada no palácio do planalto, que “é a primeira vez no Brasil, que nós temos o ministério da mulher”. Em sua fala, a ministra elimina da história os 13 anos dos governos Lula e Dilma, que criaram a Secretaria de Políticas para as Mulheres, com status de ministério, incorporada, no final do governo Dilma, ao então “Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos”.
Mas, o que falar de um governo que, ao tentar se esquivar de inúmeras denúncias de candidaturas laranjas de mulheres no partido do próprio presidente, o Partido Social Liberal (que já motivou inclusive a exoneração de um ministro), procura justificar a existência dessas candidaturas afirmando que as mulheres não nasceram para a política?
A exemplo das declarações do presidente do PSL, Luciano Bivar, que afirmou que as mulheres não tem “vocação” para a política: "Tem que ir pela vocação. Se os homens preferem mais política do que a mulher, tá certo, paciência, é a vocação. Se você fizer uma eleição para bailarinos e colocar uma cota de 50% para homens, você ia perder belíssimas bailarinas, porque a vocação da mulher para bailarina é muito maior do que a de homem”.
Outras “brilhantes” soluções para o crime do uso de laranjas partiram de aliados do governo. Uma do senador Major Olímpio, também do PSL, que apresentou Projeto de Lei n° 555, de 2019, propondo o fim do Fundo Especial de Financiamento de Campanha, o que impacta de maneira significativa as candidaturas de mulheres, pois desde o ano passado, as legendas são obrigadas pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a reservar pelo menos 30% dos recursos desse fundo para financiar as campanhas femininas.
E outra do Senador Angelo Coronel (PSD/BA), que apresentou o Projeto de Lei 1256, de 2019, que “revoga o § 3º do art. 10 da Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997, que prevê percentual de preenchimento mínimo de vagas para candidaturas de cada sexo”. Em vez de combater o crime dos “laranjas” a “solução” proposta é a extinção das cotas para as mulheres, pois, segundo o autor “se querem igualdade, não precisa ter cotas”.
A resposta a essas e outras barbaridades que esse desgoverno vem apresentando nós demos, neste 8 de março, nas ruas, com as manifestações fortes e vibrantes que aconteceram em todo o país no Dia Internacional da Mulher, nas capitais e em centenas de outras cidades.
Mulheres denunciam o feminicídio na manifestação que reuniu em torno de 5 mil pessoas em Brasília/DF. Foto: Mariana Raphael / Mamana Foto Coletivo
Nelas denunciamos a retirada de direitos, o aumento da violência e o aprofundamento do desmonte das políticas para as mulheres duramente impactadas nos dois anos do governo golpista de Michel Temer.
E deixamos evidente que seguiremos nas ruas resistindo contra esse governo e suas políticas conservadoras, que aprofundam as desigualdades, fortalecem preconceitos e retiram direitos das mulheres e de todo o povo brasileiro.
Já no dia 14 de março, estaremos novamente nas ruas, agora exigindo justiça para Marielle Franco e Anderson Gomes, executados em 14 de março de 2018, com indícios fortes de envolvimento de milicianos ligados ao gabinete de Flávio Bolsonaro (filho do presidente) no crime. A prisão dos dois ex-policiais militares que a executaram, sendo que um deles vivia no mesmo condomínio onde Jair Bolsonaro tem propriedade, não solucionam o crime. Queremos os nomes de quem mandou matar, e que os mandantes sejam punidos.
Justiça para Marielle!