Segundo a Associação das Mulheres Diplomatas Brasileiras (AMDB), a entidade está frustrada com a "falta de compromisso" da atual gestão com mulheres nas chefias das missões brasileiras
A Associação das Mulheres Diplomatas Brasileiras (AMDB) divulgou nota pública cobrando a criação de uma política institucionalizada de gênero no Itamaraty, além da nomeação de mais mulheres para cargos de chefia da diplomacia brasileira. A entidade se disse frustrada com a "falta de compromisso" da atual administração, contrariando inclusive falas do Ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
"As nomeações feitas pela atual gestão do MRE (Ministério das Relações Exteriores) para cargos de chefia de postos no exterior e mesmo na Secretaria de Estado em Brasília traduzem nítido descompasso entre palavras e ações. Passados quase seis meses de gestão, as mulheres diplomatas seguem aguardando as medidas que revelem efetivo compromisso com a promoção da equidade de gênero e, sobretudo, respeito ao profissionalismo e à dedicação das mulheres na carreira diplomática brasileira", declarou a Associação.
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A nota foi divulgada após nomeação, no Diário Oficial da União (DOU) de quarta-feira (21/6), de mais quatro homens para ocupar as chefias das missões consulares em Barcelona, Cantão, Buenos Aires e Tóquio. Das 47 indicações feitas pela gestão atual do Itamaraty a cargos de chefia, apenas seis foram de mulheres, um total de 12,7%. A Associação destaca ainda que, após a troca de governo, houve um aumento de apenas um ponto percentual na participação feminina em cargos de chefia das missões brasileiras no exterior, de 14,2% para 15,2%.
"Os números vão na contramão das palavras do próprio Ministro das Relações Exteriores que, em seu discurso de posse, anunciou a elaboração de uma política de diversidade e inclusão no Itamaraty e, mais especificamente, o compromisso de 'ampliarmos sua presença [das mulheres] em cargos de chefia'”, diz a nota.
Política de diversidade
As mulheres diplomatas defendem uma política institucionalizada que inclua ações afirmativas, concretizadas por meio de medidas legais e infralegais, "que garantam a real presença de mulheres nos cargos de liderança do ministério". Enquanto não houver a aprovação de tal política, a pasta deve, segundo a Associação, manter o compromisso de indicar mulheres.
A entidade destaca ainda que não desabona a capacidade dos diplomatas homens que foram indicados, mas questiona o porquê de as diplomatas mulheres, com a mesma qualificação, não terem as mesmas oportunidades. Também há preocupação com a falta de sinalização da gestão do Itamaraty pela implantação de uma política institucionalizada de diversidade e inclusão, estabelecendo metas para diplomatas negros e negras, LGBTQIA+ e Pessoas com Deficiência.
Segundo fontes do Itamaraty ouvidas sob reserva pelo Correio, as indicações para cargos de chefia não são um número fixo e existem novas nomeações em andamento, que correm sob sigilo. Elas disseram ainda que há diálogo entre o ministério e Associação, e que o tema da participação feminina está sendo discutido. As fontes destacaram ainda que houve um aumento "considerável" na promoção de mulheres para cargos dentro da pasta.