"Campanhas, mobilizações, ativações nas redes, debates, oficinas, ajudam a conhecer, reconhecer e promover mudanças no cenário de violência ainda vivido pela mulher"

 

Ângela Diniz foi morta em 1976 pelo namorado, Doca Street. Tese da legítima defesa da honra foi usada em júri para tentar inocentar acusado -  (crédito: O Cruzeiro/Arquivo Estado de Minas - 20/6/73)
Ângela Diniz foi morta em 1976 pelo namorado, Doca Street. Tese da legítima defesa da honra foi usada em júri para tentar inocentar acusado - (crédito: O Cruzeiro/Arquivo Estado de Minas - 20/6/73)
 
Foto de perfil do autor(a) Ana Dubeux
Ana Dubeux 
postado em 17/09/2023 - Correio Braziliense

Fui assistir ao filme Ângela, que retrata um recorte da vida e da morte de Ângela Diniz, assassinada por Doca Street em 1976, na véspera do ano-novo, na casa de praia dela, na Praia dos Ossos. Em um julgamento que decretou a segunda morte de Ângela, Doca Street, que a matou por não aceitar o fim do relacionamento, alegou a legítima defesa da honra, figura jurídica abolida somente este ano pelo Supremo Tribunal Federal.

A despeito das críticas ao filme — aqui e ali, disseram que o erotismo se sobrepõe ao feminicídio e que fez falta mostrar o circo de horrores que foi o julgamento —, ativei minhas lembranças e também minha revolta, sempre à espreita quando mulheres vítimas são julgadas e homens violentos têm sua conduta criminosa justificada.

Eu era adolescente quando o crime ocorreu. Lembro-me de ouvir as conversas em casa e no noticiário. Fico feliz em constatar o quanto meus pais eram diferentes e libertários, pois se indignavam com o rumo dos acontecimentos. Um Brasil machista, representado por jurados machistas, que aceitou candidamente o julgamento moral imposto a uma mulher morta e deixou seu algoz livre. Sempre fez sentido a frase de Carlos Drummond de Andrade na época: “Essa moça continua sendo morta todos os dias”.

O playboy assassino foi julgado e pegou uma pena pífia, ficando livre da cadeia. O caso fez surgir o movimento de mulheres feministas, que ficou conhecido pelo slogan “Quem ama não mata”. Os tempos mudaram, a gente sabe. E graças à mobilização, ano após ano, geração após geração, de mulheres cansadas de sofrer diferentes e constantes tipos de violência, surgiram novas leis, medidas protetivas, direitos reconhecidos. Mas ainda falta muito.

Penso nas 28 mulheres mortas no Distrito Federal e em todas que diariamente são silenciadas, aterrorizadas, violentadas, ainda julgadas à revelia pela roupa que vestem, pela liberdade que ostentam. Morrem apenas porque homens se consideram donos de seus corpos e não aceitam “não” como resposta. Morrem, muitas vezes, um pouco a cada dia, como disse Drummond.

Contudo, há sopros de vida e esperança pela frente. O filme e o podcast Praia dos Ossos, que retratam o caso de Ângela, de formas diferentes, ajudam a trazer de volta o absurdo, que nunca, jamais, pode se repetir. E nem falo do machista assassino, porque igual a ele ainda há muitos, mas da segunda morte de Ângela e de tantas mulheres, da impunidade.

Campanhas, mobilizações, ativações nas redes, debates, oficinas, como os que fizemos e ainda faremos no Correio Braziliense, ajudam a conhecer, reconhecer e promover mudanças no cenário de violência ainda vivido pela mulher.

O contato com as gerações mais novas me dá esperanças. Atualmente, o jornal promove um curso sobre cobertura de saúde para estudantes de jornalismo. E é incrível a energia, a capacidade e a vontade dos jovens de mover estruturas sólidas em qualquer campo de atuação. O machismo ainda está longe de acabar, mas é bom saber que há um exército a caminho para continuar lutando contra ele.

fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2023/09/5126056-artigo-angela-e-todas-as-mulheres-do-mundo.html

 


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