Quase lá: Portal Memória Feminista Antirracista digitaliza três décadas de História e lutas

Portal Catarinas: Joanna Burigo reflete sobre a importância do acervo da ONG feminista Redeh, agora digitalizado e disponível para o público.

 

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A Redeh – Rede de Desenvolvimento Humano promoveu, na última sexta-feira (17) no Museu da República, Rio de Janeiro, o evento de lançamento do seu Portal Memória Feminista Antirracista. Além da apresentação do Portal, teve atrações, coquetel e música ao vivo da talentosíssima Roda da Mulher Forrozeira.

O Portal torna disponível materiais coletados pela Redeh ao longo de três décadas, trazendo este acervo para o formato digital, e congregando tudo em um website de livre acesso.

O objetivo é democratizar o conhecimento sobre mulheres importantes para as lutas feminista e antirracista, oferecendo ao público conteúdo e informações históricas e documentadas.

Já há muito material disponível no site, milhares de itens ainda serão adicionados, e no futuro o Portal aceitará contribuições do público. 

No evento de lançamento, a Redeh dramatizou partes de seu acervo, chamando personalidades do agora para realizar encenações biográficas de mulheres cujas histórias estão memorizadas nos verbetes do Portal – uma crescente lista, já repleta de nomes diversos que vão da atriz, ativista e tesouro nacional Rogéria à cacica do povo Jenipapo-Kanindé, Maria de Lourdes da Conceição Alves.

Assim, a escritora indígena Eliane Potiguara interpretou a heroína indígena do século 17, Clara Felipa Camarão. A economista Hildete Pereira de Melo falou sobre a feminista, advogada, deputada federal, e líder do movimento sufragista panamericano Bertha Lutz. Coordenadora estadual do Movimento Negro Unificado no Rio de Janeiro, Adriana Odara Martins, encenou Mãe Regina de Bangbosé, Ialorixá por quem foi iniciada.

Lili de Oyá, sobrinha de Lélia González, veio à caráter para representar sua famosa tia, historiadora, geógrafa, filósofa, antropóloga, educadora e ativista política dos movimentos negro e feminista. Integrante da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), Rogéria Peixinho brilhou interpretando os trejeitos de uma das mais célebres ativistas pelos direitos das mulheres lésbicas no Brasil, a produtora do lendário jornal ChanaComChana, Rosely Roth.

Maria das Dores, filha biológica de Beatriz Moreira Costa, muito conhecida como Mãe Beata de Iemanjá, emocionou as quase 300 pessoas presentes, se dirigindo a todos nós com a força de sua mãe, sacerdotisa tão comprometida com ações sociais – e recipiente do Diploma Bertha Lutz, do Senado Federal, em 2018. 

A psicanalista e pesquisadora da UFRJ, Numa Ciro, fez poesia com a biografia de Nair de Teffé, segunda esposa do Marechal Hermes da Fonseca e 9ª primeira-dama do Brasil, que causava comoção quando organizava seus icônicos Saraus no Salão e Varanda do Palácio do Catete – que foi exatamente onde aconteceu o evento da Redeh.

Na sequência, Paulinha Cavalcanti, integrante da Roda da Mulher Forrozeira e atriz da peça Palavra, Poder Feminino, que conta histórias de mulheres pretas que fazem da arte uma forma melhor de viver, interpretou a compositora, maestrina e abolicionista Chiquinha Gonzaga

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Imagem: acervo Redeh, do convite para o Sarau onde o Corta-Jaca foi tocado pela primeira vez, no Palácio do Catete, em 1914. Hoje o local abriga o Museu da República.

 

A noite foi de enorme celebração entre personalidades vivas e encantadas, coletivos, ativistas, políticas, amigas e amigos dos movimentos feministas e antirracistas, e a cereja no bolo desse evento maravilhoso foi o momento em que as Forrozeiras abriram a parte musical da cerimônia com uma versão em zabumba, triângulo, flauta e sanfona do Corta-Jaca, escrito por Chiquinha Gonzaga para Nair de Teffé, a seu pedido.

E como lembrou o Professor Mário Chagas, diretor do Museu da República, a então primeira-dama tocou o Corta-Jaca pela primeira vez, ela mesma, em uma peça de violão, 110 anos antes, no exato mesmo local. Foi de arrepiar, e estou ainda decantando tanta emoção. 

O Portal Memória Feminista Antirracista deve interessar não somente os movimentos feministas e antirracistas, mas pesquisadoras, parlamentares, profissionais de comunicação, acadêmicas, professoras, jornalistas, publicitárias, estudantes, influencers, produtoras, escritoras, historiadoras, cientistas sociais, e todas as pessoas com interesse em explorar e descobrir arquivos e conteúdo original e oficial.

O site é uma parceria entre a Redeh e o Laboratório de Direitos Humanos da Faculdade Nacional de Direito da UFRJ (Ladih), com apoio do Labora/Fundo Brasil, e seu Centro de Documentação se encarrega de cuidar, preservar e disponibilizar recursos que descortinam as frequentemente apagadas contribuições das mulheres para a História. 

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Imagem: Print do Portal Memória Feminista Antirracista

 

A Redeh – Rede de Desenvolvimento Humano é uma ONG feminista que desde sua fundação na década de 1980 acumula participações em conferências, ações governamentais, legislação, projetos, colaborações com a sociedade civil, e outros processos de decisão institucional no Brasil e no mundo. A coordenadora executiva da organização e lenda viva do feminismo brasileiro, Schuma Schumaher, liderou este projeto. 

Schuma, como é mais conhecida, é pedagoga e ex-dirigente da AMB, e recipiente de muitas moções de honra, notavelmente, em 2005, o Diploma Bertha Lutz do Senado Federal. Esta grande brasileira é, sem dúvida, uma das pessoas mais comprometidas com o registro da memória das mulheres, e ela mesma uma figura emblemática da nossa história. 

Em tempos de tanta desinformação e mentiras na internet, o Portal Feminista Antirracista é mais um ato de resistência de mulheres comprometidas com a verdade, com a memória e com a História.

Viva o feminismo brasileiro! Viva as mulheres do Brasil!

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