Em entrevista à coluna, Amitabh Behar atacou desigualdade social e elogiou proposta do governo Lula para taxar super-ricos
Metrópoles
![Amitabh Behar, diretor-executivo da Oxfam Internacional](https://uploads.metropoles.com/wp-content/uploads/2023/08/26220216/amitabhbehar2-600x400.jpeg)
O diretor-executivo da Oxfam Internacional, Amitabh Behar, classificou os níveis de desigualdade social no Brasil de “obscenos” e elogiou a proposta do governo Lula para taxar os super-ricos. Em entrevista à coluna, Behar disse que a desigualdade global está crescendo dramaticamente.
O indiano participará do Fórum Internacional Tributário, que reunirá especialistas do tema em Brasília entre esta segunda-feira (28/8) e a próxima quarta-feira (30/8). O evento é organizado pelo Sindicato dos Auditores-Fiscais da Receita Federal (Sindifisco Nacional) e outras entidades do setor.
“O 1% mais rico do Brasil controla 50% da riqueza nacional. E 90% da população têm só 20% da riqueza. São níveis obscenos de desigualdade. Os últimos 40 anos de experiência mostram que cortes de impostos para os super-ricos só levam a uma sociedade desigual”, afirmou Behar.
Eis os principais trechos da entrevista:
Qual é o maior perigo da desigualdade social?
Em primeiro lugar, é moralmente inaceitável. O 1% mais rico ficou com 50% da riqueza produzida nos últimos dez anos. Nos últimos três anos, desde a pandemia, a proporção passou para 1 a 75. A desigualdade global está crescendo dramaticamente. Mais de 800 milhões de pessoas estão dormindo com fome no mundo. Está claro que estão famintas como uma consequência da concentração de renda.
![Amitabh Behar, diretor-executivo da Oxfam Internacional](https://uploads.metropoles.com/wp-content/uploads/2023/08/26215858/amitabhbehar-511x640.jpg)
Que efeitos políticos podem aparecer?
A desigualdade também leva à quebra do tecido social, com sociedades cada vez mais polarizadas pela renda. Derruba a crença nas instituições governamentais e leva ao colapso social e à agitação. A mesma desigualdade social de que estamos falando está também provocando diretamente uma enorme crise climática. É o mesmo sistema econômico, que essencialmente privilegia os super-ricos e não distribui a riqueza aos pobres.
O governo brasileiro prepara uma taxação aos super-ricos. Como avalia a proposta?
Estou muito animado em saber que o Brasil está considerando seriamente taxar os super-ricos. O top 1% do Brasil controla 50% da riqueza nacional. E 90% da população têm só 20% da riqueza. São níveis obscenos de desigualdade. Os últimos 40 anos de experiência nos mostram que cortes de impostos para os super-ricos só levam a uma sociedade desigual. Uma pesquisa aponta que 86% dos brasileiros querem taxar os super-ricos. É também inteligente politicamente para o governo. Contudo, também é necessário garantir que a alta nas receitas do governo seja revertida em investimentos em educação e saúde públicas. Na Índia, o meu país, há quem fique feliz com novos bilionários. É um sinal de fracasso.
Qual é o contexto da desigualdade social global nas últimas décadas?
Nos anos 1980, houve a seguinte conclusão em países como os Estados Unidos: “Não vamos taxar os ricos. Os mercados vão reduzir a pobreza”. Mas estávamos vendo claramente que era só um mito, uma farsa. O corte cada vez maior de impostos aos ricos fez com que o orçamento do governo diminuísse, o que afetou o investimento em serviços públicos como educação e saúde. Há diversos estudos que mostram que educação e saúde públicas geram uma sociedade mais igualitária.