Deborah Santos, Maria Emília Walter e Olgamir Amancia


Em 2015, o dia 11 de fevereiro foi instituído pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) como o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. Esse marco integra os debates da ONU com relação à Agenda 2030, em que se listam a igualdade de gênero e a redução das desigualdades como objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS). Desde então, para celebrar essa data, ações diversas vêm sendo propostas para que o acesso ao mundo acadêmico e científico seja feito de forma mais igualitária, para meninas e mulheres. Na UnB, o fato da comunidade, pela primeira vez na história dessa universidade, ter elegido em 2016 uma Reitora, reeleita em 2020, permitiu ampliar o escopo e o número de atividades e projetos específicos voltados à questão das mulheres e dos grupos historicamente marginalizados, culminando com a criação da Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da UnB, em 2022.

Claro, a comunidade da UnB tem projetos acadêmicos, nas grandes áreas de conhecimento, direcionadas a questões de gênero, em particular, para atrair estudantes para a vida acadêmica. No entanto, em termos institucionais, pela primeira vez, em 2021, uma ação de extensão foi proposta pelos Decanatos de Extensão (DEX) e de Pesquisa e Inovação (DPI) para a Semana Universitária (SEMUNI), que abriu espaço para a realização de debates, de forma ampla, colaborativa e inclusiva, sobre a questão das mulheres na Ciência, com foco nas docentes, técnicas e alunas da comunidade da UnB.

Agora, em 2023, outra ação que fala sobre essa questão de gênero, na academia, é o lançamento do Edital DEX/DPI/SDH 05/2023 – MULHERES E MENINAS NA CIÊNCIA: O FUTURO É AGORA, que fomenta projetos de extensão visando incentivar a participação de mulheres e meninas, preferencialmente da rede pública de ensino do Distrito Federal, para as áreas de Ciências e Tecnologia, de maneira interdisciplinar. Esse edital contemplará projetos individuais, mas propõe ações coletivas, que aprofundam reflexões, geram ideias inovadoras e ampliam as possibilidades de parcerias em áreas científicas distintas.

Alguns dados interessantes sobre a atuação das docentes da UnB seguem. Cerca de 50% das orientações de iniciação científica são realizadas por nossas docentes e aproximadamente 48% dos grupos de pesquisa registrados no CNPq e 50% dos projetos submetidos pela comunidade da UnB para mitigar os efeitos da pandemia de covid-19 são liderados por mulheres. No entanto, apenas 31% das pesquisadoras do CNPq alcançaram o nível 1A. Isso mostra que os níveis mais altos de excelência acadêmica ainda são conquistados por uma minoria de mulheres. Ainda, se refinarmos a pesquisa para as áreas de ciências exatas e tecnologia, podemos ver dados que indicam o baixo número de alunas ingressando nos nossos cursos de graduação, com o consequente baixo número de mulheres exercendo profissões nessas áreas e atingindo posições de destaque tanto na área científica como em cargos de gestão nos âmbitos público e privado.

É preciso que a UnB avance em políticas de inclusão e suas interseccionalidades, nas suas diferentes dimensões, das estudantes, técnicas e docentes. Para as estudantes, poderiam por exemplo ser propostas, como ação afirmativa, políticas de destinação de vagas para mulheres nos cursos STEM (de ciências exatas e tecnologia), aumentando as vagas já disponibilizadas nos cursos de graduação e pós-graduação. Para as técnicas, poderiam ser pensadas formas de incentivo ao ingresso e conclusão de cursos de pós-graduação, o que permitiria a participação em projetos científicos e ampliaria o escopo de crescimento profissional. Para as docentes, incentivo para a ocupação de cargos de gestão acadêmicos, como a liderança em projetos científicos e de grupos de pesquisa, poderiam permitir que mais mulheres almejassem níveis mais altos como pesquisadoras e integrantes ativas de projetos de inovação.

Essas reflexões apresentam propostas de ações concretas e evidenciam o papel fundamental da educação na superação das barreiras que excluem meninas e mulheres de trilhar determinados caminhos profissionais, em particular, nas diversas áreas da Ciência. 

 

Deborah Santos é secretária de Direitos Humanos da UnB e professora da Faculdade de Ciência da Informação. Doutora em Museologia pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia e mestre em História Social pela Pontífícia Universidade Católica de São Paulo, instituição em que se graduou.

Maria Emília Walter é decana de Pesquisa e Inovação e professora do Departamento de Ciências da Computação. Graduada em Matemática e mestre em Matemática por esta Universidade. Doutora em Ciência da Computação pela Universidade Estadual de Campinas. 

Olgamir Amancia é decana de Extensão e professora adjunta da Faculdade UnB Planaltina. Doutora em Educação e mestre em Estado, Política Pública e Gestão da Educação pela Universidade de Brasília. Possui graduação em Licenciatura Plena em Ciências pelo Centro de Ensino Superior de Brasília.

 

fonte: https://noticias.unb.br/artigos-main/6344-celebracao-das-mulheres-na-ciencia