UFRGS: Reportagem especial do "Jornal da Universidade" aborda os efeitos psicológicos duradouros que a crise climática que atinge o Rio Grande do Sul poderá gerar, trazendo ações de acolhimento que ajudam a compartilhar as dores do trauma
A angústia e a ansiedade causadas pelas perdas ocasionadas pela enchente e pela interrupção abrupta na vida cotidiana podem se intensificar após os momentos iniciais de resgate, tanto em adultos quanto em crianças. São inseguranças e medos que devem ser acolhidos e compartilhados não apenas em abrigos que recebem vítimas e entre as e os socorristas, mas também dentro de casa.
Para auxiliar nesse contexto, a UFRGS oferece a cartilha “Como auxiliar pessoas afetadas por desastres?”. O conteúdo foi adaptado de um guia do National Child Traumatic Stress Network (NCTSN) pela mestra em Psicologia Mariana Valls Atz, da Divisão de Promoção da Saúde do Departamento de Atenção à Saúde da UFRGS, e concentra as principais informações sobre primeiros socorros psicológicos (PSP). O material tem a intenção de facilitar o enfrentamento da crise a partir de ações que não configuram atendimento ou tratamento psicológico e que podem ser postas em prática por qualquer pessoa.
“Nos PSP, avaliamos as necessidades e preocupações das pessoas e as auxiliamos no suprimento de necessidades básicas, como alimentação, água e informações. O objetivo é orientar a busca por serviços e suporte social que as ajudem a enfrentar a crise”, afirma Mariana na introdução da cartilha. Um dos princípios básicos dos PSP é a promoção do senso de esperança, visto como forma de auxílio a quem sente que “seu mundo está falhando”. A pessoa nessas condições deve ser convidada a se engajar em atividades que a amparem na construção de uma conexão com seus próprios recursos pessoais e facilitem o início de seu processo de luto.
Cuidados com as crianças
As crianças também sofrem muito com a calamidade. Formada pela PUCRS e pós-graduanda em terapia cognitivo-comportamental na infância e adolescência no Child Behavior Institute (CBI), a psicóloga infantojuvenil Laís Ribeiro indica que não se esconda o que está acontecendo.
“Não minta ou omita a situação, porque isso pode gerar diversos sentimentos ruins e fantasiosos. As crianças podem pensar que são culpadas ou podem escutar conversas paralelas e pensar que pessoas queridas que não estão em risco, na verdade, estão”, explica.
Laís ressalta que é possível que situações com birras e choros aumentem. Nesses momentos, aconselha que se aja de forma tranquila e acolhedora. “A criança não deve ser instigada a reviver a tragédia se isso não partir dela própria. Atitudes assim podem ampliar efeitos negativos. Além disso, o excesso midiático é extremamente prejudicial”, destaca.
Se for permitido a criança ter acesso às notícias, o tempo deve ser limitado, e os pais ou responsáveis devem estar com ela. A situação deve ser contextualizada; e a criança, incentivada a fazer perguntas. “Muitas crianças não conseguem entender e assimilar o que assistiram e acabam ficando com medo. Se esse medo for compartilhado com os adultos, é possível que os pais ajudem, expliquem, acolham e façam com que elas não aumentem as coisas”, aponta.
Brincar também é importante. “As crianças não elaboram as coisas da mesma forma que os adultos; elas o fazem de forma lúdica. Ao fazer doações para os pequenos, lembre-se de doar brinquedos. E se estiver em abrigos temporários, incentive o brincar”, afirma a psicóloga.
Voluntariado para atendimento psicológico
A Secretaria Estadual da Saúde (SES) está cadastrando profissionais para compor um banco de voluntários que poderão ser convidados a auxiliar os municípios afetados. A colaboração de psicólogos, entre outras categorias, ocorrerá em hospitais, unidades de pronto atendimento e demais serviços de saúde. O cadastro deve ser feito pelo site da SES.
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