Por Fran Ribeiro*

 

Mesa das Alianças Nacionais entre os movimentos de mulheres no I Fórum de Mulheres Indígenas firmou pacto de lutas em defesa da diversidade das mulheres no Brasil.

 

“Se o nosso inimigo é o mesmo, a nossa luta deve ser fortalecida em um cordão comum”. Foi a partir dessa fala de Célia Xakriabá, uma das coordenadoras da 1ª Marcha das Mulheres Indígenas, que representantes de diferentes organizações de mulheres do Brasil se reuniram na tarde do dia 11 de agosto durante o I Fórum Nacional de Mulheres Indígenas. Esse que já está sendo um momento histórico para o movimento de mulheres indígenas no Brasil, o I Fórum Nacional, que começou no último dia 9, e segue com atividades até o dia 14, teve neste domingo (11) um dia de tessituras entre os movimentos de mulheres no Brasil e na América Latina.

 

Após a mesa das Alianças Internacionais, que contou com a presença de parlamentares indígenas da Bolívia, do México, da Guatemala e de outros países vizinhos, além da presença da deputada brasileira Joênia Wapichana, primeira mulher indígena a ser eleita deputada federal no Brasil, os diálogos e elos na luta foram firmados também no movimento de mulheres em nível nacional. Participaram da composição da mesa Sandra Quilombola, representante do CONAQ (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas), Erica Galindo, representando a coordenação da Marcha das Margaridas, Zezé Barros, coordenadora do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Teto do Brasil (MTST), Verônica Ferreira e Edilene Krikati, da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB).

 

Em uma mesa que selou alianças entre a diversidade de mulheres que ocupam o território brasileiro, todas enfatizaram a importância desse momento para a luta dos movimentos sociais, em especial a luta dos movimentos de mulheres do Brasil no enfrentamento aos cortes de investimentos em políticas publicas e aos desmontes do Estado promovidos pelo governo de Bolsonaro. Mulheres indígenas, mulheres quilombolas, ribeirinhas, dos campos, florestas, águas, das cidades, feministas unidas para recontar a história e seguir em resistência. Mulheres que em seus movimentos de base, constroem seus processos de fortalecimento, denunciando como os territórios estão sendo tomados por uma realidade de concentração latifundiária, de veneno, de violência.

 

Para Edilene, do povo Krikati do Maranhão, e da AMB, esse momento é de fortalecimento para o movimento de mulheres brasileiro, sobretudo, das mulheres indígenas, que estão reivindicando a sua existência como sujeitos políticos na história desse país. “Esse é o momento quem que a gente realmente precisa fortalecer as nossas alianças. E isso é um momento histórico muito importante diante do que a gente tá vivenciando hoje no Brasil. Cheio de retrocessos, destruição e que afeta diretamente nós, mulheres indígenas e nós mulheres em geral. Pra mim, esse é um momento em que a gente precisa construir juntas, a gente precisa estar em diálogo, somando forças e estar à frente dos nossos movimentos. A garantia de preservação dos nossos territórios e o uso pleno dos nossos recursos devem ser defendidos. A gente tem enfrentado todo dia o genocídio de nossos povos. E nós, mulheres indígenas, que estamos aí resistindo há 519 anos, é importante estarmos aqui hoje, protagonizando a nossa história. A AMB tem sido um espaço importante que nós estamos conhecendo e estamos juntas construindo o feminismo, de entender o papel da mulher no enfrentamento a violência. Hoje é um marco histórico para nós. Mulheres indígenas aqui reunidas em nossa diversidade estamos juntas e fortes nessa luta”, declarou.

 

De acordo com Erica Galindo, “o encontro das Marchas das Mulheres Indígenas e da Marcha das Margaridas é a maior prova de construção de resistência histórica nesse país”. A junção representa, para o movimento, um tempo de união em torno do bem comum na vida de mulheres indígenas, trabalhadoras rurais e das cidades, negras, quilombolas. “Nossa luta é a mesma pois nesses 519 anos de colonização e violência sobre os corpos das mulheres no Brasil, seguimos resistindo e lutando pela transformação das nossas realidades”, disse.

 

Em uma fala cheia de energia, Zezé trouxe emoção e orientações, alertando para o fato de que, na atual conjuntura, não há mais tempo para fragmentar nossas lutas. “É tempo de unificar. O MTST resiste há 20 anos aos retrocessos dos governos que não nos garantem moradia de qualidade. Um direito que é nosso e está na Constituição. Todo dia é dia de luta. A luta do povo preto e indígena, que há 519 anos estamos sendo exterminados pelos governos, são as populações que mais tem seus direitos tomados e negados. São ataques acontecendo nos nossos territórios por um governo que é ilegítimo, e é ilegítimo porque ele não nos representa”, bradou, agitando toda a plenária.

 

“É tempo da gente fazer a nossa revolução e retomar o que é nosso por direito na luta. Esse vai ser o recado que vamos dar pra esse governo ilegítimo, quando a Marcha das Margaridas e das Indígenas unificar nossas lutas! Mulheres indígenas, pretas, quilombolas estarão nas ruas desobedecendo essas leis injustas”, finalizou Zezé.

 

Para Verônica Ferreira, também da AMB, esse momento é de reconhecimento da unidade na luta das mulheres indígenas e de reafirmação do compromisso radical do movimento feminista contra os sistemas de opressão que operam no crescimento das desigualdades e que mercantilizam a vida das mulheres.

 

“Para todas nós, ativistas da AMB, esse é um momento de muita emoção. É também um momento de muita transformação e aprendizado pro nosso movimento. Mas esse é um momento, sobretudo, pra gente saudar a realização da grande 1ª Marcha das Mulheres Indígenas, do Fórum das Mulheres Indígenas, reafirmando o nosso profundo compromisso com a luta das mulheres indígenas do Brasil e de todos os territórios dessa região da América Latina. Nós estamos aqui para reafirmar esse compromisso. Nós, da AMB, somos um movimento feminista de mulheres muito diferentes, de vários territórios. Mulheres brancas, mulheres negras, mulheres indígenas, dos campos, das cidades, lésbicas... Somos muito diferentes, mas nos unimos por pontos muito comuns. Nos unimos porque a nossa experiência como mulheres, de opressão, de violência, de desigualdade exige que a gente se una pra fazer movimento. O nosso feminismo é feito de um compromisso radical com a luta contra o machismo, do compromisso radical contra o capitalismo, esse sistema que é racista, que quer seguir nos desumanizando e devastando nossos territórios. O território onde a gente vive e o território que é o nosso corpo. Juntas, a gente vai mostrar que aqueles que querem nos destruir não vão passar sobre nós. Reafirmamos o nosso compromisso com a luta das mulheres indígenas, nesse que é um momento histórico na luta de todas as mulheres”, declarou Verônica.

 

 

 

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* Fran Ribeiro integra o SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia. Este texto faz parte de cobertura colaborativa realizada pela Coletiva de Comunicação da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), em parceria com Universidade Livre Feminista (ULF) e Blogueiras Feministas, organizada especialmente para cobrir a Marcha das Mulheres Indígenas e Marcha das Margaridas.

 

Expediente: Coordenação Geral: Cris Cavalcanti (PE); Texto: Fran Ribeiro (PE), Gabriela Falcão (PE), Carmen Silva (PE); Laura Molinari (RJ), Carolina Coelho (RJ), Raquel Ribeiro (RJ), Angela Freitas (RJ), Rosa Maria Mattos (RJ), Milena Argenta (DF) e Priscilla Britto (DF); Fotos: Carolina Coelho (RJ) Fran Ribeiro (PE); Vídeo: Débora Guaraná (PE), Milena Argenta (DF) e Cris Cavalcanti (PE); Edição: Coletivo Motim; Diagramação: Débora Guaraná (PE), Bibi Serpa, Cris Cavalcanti (PE) Sites e Redes Sociais: Cristina Lima (PB), Thayz Athayde (CE), Cris Cavalcanti (PE), Analba Brazão (PE); Produção: Mayra Medeiros (PE) e Masra Abreu (DF).

 

 

 

 

 

 


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