A promessa de campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criou uma expectativa por um novo governo mais diverso

  

Tainá Andrade
postado em 21/11/2022 - Correio Braziliense
 
 

mulheres com lula foto ricardostuckertDurante a campanha presidencial, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu diversidade no futuro governo e criou a expectativa de que aumente o número de indicações de mulheres para os cargos no primeiro, segundo e terceiro escalões da administração pública. A considerar a presença feminina na equipe de transição, tudo indica que a promessa será levada a sério: são 24, entre as quais se destacam a futura primeira-dama Janja, a jornalista Anielle Franco — irmã da vereadora assassinada Marielle Franco —, a chef e apresentadora Bela Gil e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann.

Na comparação com o atual governo, o presidente Jair Bolsonaro (PL) está em clara desvantagem. Nesses quase quatro anos foram apenas três mulheres entre os 23 ministros — em grande parte brancos. As representantes femininas também eram brancas.

Porém, o segundo governo Lula (2006-2010) não foi muito diferente do de Bolsonaro: eram quatro mulheres em um total de 28 ministros. Tauá Lourenço Pires, coordenadora de Justiça Racial e de Gênero da Oxfam Brasil, questiona: está se olhando para a diversidade ou para a realidade?

"Durante o período de Lula, quantas mulheres foram ministras? E quantas eram negras? São pessoas muito localizadas em determinados lugares, não tinha isso de uma forma equilibrada. Nos nomes que estamos vendo, acho que é um olhar para a realidade. Temos um retrato do que é a sociedade brasileira", observou.

Nos grupos de trabalho da transição, há a presença de diversas especialistas. Mas, segundo Hannah Maruci, mestre em Ciência Política e diretora da Tenda das Candidatas — projeto social que capacita mulheres para atuarem na política —, "não basta ser uma mulher estando ali se ela não olha para as questões estruturantes da sociedade".

"É importante termos mulheres que se preocupem com a pauta feminina, mas também se preocupem com todos os outros temas de importância para o país. As pautas e a representação deve ser transversal a todas as áreas. Não adianta colocar separadamente o tema da mulher", salienta. Hanna torce para que vários nomes das representantes na transição façam parte de próximo governo em postos de visibilidade.

Pretas

Na ampla frente formada para eleger Lula, uma das alianças mais importantes foi com as mulheres pretas. Entre os grupos marginalizados pela atenção governamental, esse é um dos que acumula mais demandas não atendidas pela sociedade. Um estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) indica que 72% dos homicídios cometidos no país tem como alvo os negros — a cada 100 pessoas assassinadas, 78 têm a pele escura. Quando esse recorte é feito em relação ao gênero, chega-se a uma taxa de 62% de feminícidio e 70,7% de mortes violentas intencionais que tem como alvo a mulher preta.

Quase 28% da população são cidadãs que se encaixam nesse perfil. Especialistas são unânimes em dizer que para resolver o problema, é preciso que as soluções sejam dadas por quem é a principal vítima da violência estrutural.

O maior número de candidaturas de pessoas negras, considerado um marco histórico nestas eleições, não necessariamente significou aumento da representatividade no Legislativo. Tauá contabiliza que apenas 5% das eleitas em 2022 representarão a voz das negras no Parlamento.

"A gente está discutindo um avanço histórico pela primeira vez, mas, quando vemos o saldo, ainda tem muito para avançar. A gente está longe de ter um Congresso representativo. A desigualdade na política ainda é um gargalo que a gente precisa enfrentar e que está colocado para o Congresso. A meu ver, será um desafio para o novo governo também", explica Tauá.

Isabella Ferreira, historiadora e membro do grupo de trabalho de Gênero do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), acredita que um legado que o futuro governo Lula pode deixar "é o de capacitação, de formação profunda que fortaleça e empodere elas. Além de promover oportunidades econômicas, com políticas que tragam geração de renda e alternativas para elas se sentirem donas da própria vida".

 

fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2022/11/5053229-futuro-governo-deve-cumprir-promessas-de-ter-mais-mulheres-indicadas.html


Receba Notícias

logo ulf4

Aborto Legal

aborto legal capa

Direitos Sexuais e Reprodutivos

logo ulf4

Cfemea Perfil Parlamentar

Cfemea Perfil Parlamentar

logo ulf4

Tecelãs do Cuidado - Cfemea 2021

Violência contra as mulheres em dados

Rita de Cássia Leal Fonseca dos Santos

Ministério do Planejamento
CLIQUE PARA RECEBER O LIVRO (PDF)

marcha das margaridas agosto 2023

Estudo: Elas que Lutam

CLIQUE PARA BAIXAR

ELAS QUE LUTAM - As mulheres e a sustentação da vida na pandemia é um estudo inicial
sobre as ações de solidariedade e cuidado lideradas pelas mulheres durante esta longa pandemia.

legalizar aborto

Artigos do Cfemea

Congresso: feministas mapeiam o conservadorismo

Pesquisa aponta: só mobilização pode superar conservadorismo do Congresso. Lá, 40% alinham-se ao “panico moral”; 57% evitam discutir aborto; 20% são contra atendimento às vítimas e apenas um em cada cinco defende valores progressistas

Eleições: O “feminismo” de fundamentalistas e oligarcas

Candidaturas femininas crescem no país, até em partidos conservadores. Se o atributo de gênero perde marcas pejorativas, desponta a tentativa de passar ao eleitorado uma receita morna de “defesa das mulheres” – bem ao gosto do patriarcado

A pandemia, o cuidado, o que foi e o que será

Os afetos e o cuidar de si e dos outros não são lugar de submissão das mulheres, mas chave para novas lutas e processos emancipatórios. Diante do horror bolsonarista, sangue frio e coração quente são essenciais para enfrentar incertezas, ...

Como foi viver uma Campanha Eleitoral

ataques internet ilustracao stephanie polloNessa fase de campanha eleitoral, vale a pena ler de novo o artigo que Iáris Cortês escreveu uns anos atrás sobre nossa participação em um processo eleitoral

Dezesseis anos da Lei 11.340, de 07/08/2006, Lei Maria da Penha adolescente relembrando sua gestação, parto e criação

violencia contra mulherNossa Lei Maria da Penha, está no auge de sua adolescência e, se hoje é capaz de decidir muitas coisas sobre si mesma, não deve nunca esquecer o esforço de suas antepassadas para que chegasse a este marco.

Como o voto feminino pode derrubar Bolsonaro

eleicoes feminismo ilustracao Thiago Fagundes Agencia CamaraPesquisas mostram: maioria das mulheres rechaça a masculinidade agressiva do presidente. Já não o veem como antissistema. Querem respostas concretas para a crise. Saúde e avanço da fome são suas principais preocupações. Serão decisivas em outubro. (Ilustração ...

Direito ao aborto: “A mulher não é um hospedeiro”

feministas foto jornal da uspNa contramão da América do Sul, onde as mulheres avançam no direito ao próprio corpo, sociedade brasileira parece paralisada. Enquanto isso, proliferam projetos retrógrados no Congresso e ações criminosas do governo federal

As mulheres negras diante das violências do patriarcado

mulheres negras1Elas concentram as tarefas de cuidados e são as principais vítimas de agressões e feminicídios. Seus filhos morrem de violência policial. Mas, através do feminismo, apostam: organizando podemos desorganizar a ordem vigente

Balanço da ação feminista em tempos de pandemia

feminismo2Ativistas relatam: pandemia exigiu reorganização política. Mas, apesar do isolamento, redes solidárias foram construídas – e o autocuidado tornou-se essencial. Agora, novo embate: defender o direito das mulheres nas eleições de 2022

Sobre meninas, violência e o direito ao aborto

CriancaNaoEMae DivulgacaoProjetemosO mesmo Estado que punir e prendeu com rapidez a adolescente de João Pessoa fechou os olhos para as violências que ela sofreu ao longo dos anos; e, ao não permitir que realizasse um aborto, obrigou-a a ser mãe aos 10 anos

nosso voto2

...