Em relatos nas redes sociais, passageiros e internautas denunciam racismo por parte da companhia e pedem explicações. "Nem Samantha, nem nenhuma mulher negra deve passar por momentos como este. Todos os dias a Fiocruz e a sociedade brasileira devem reafirmar seu compromisso com a democracia, a equidade, a justiça racial e de gênero.” Afirmou a Fiocruz em Nota
Uma passageira negra foi retirada de voo da Gol que partia de Salvador com destino a São Paulo na noite de sexta-feira (28/4). Passageiros que assistiram e registram a cena se revoltaram, denunciando racismo por parte da companhia. A mulher, identificada como Samantha Vitena, questionou a abordagem de três agentes da Polícia Federal. "Faz mais de uma hora que eu coloquei a mochila, mas o voo não decolou. Agora vieram três homens para me tirar do voo, sem me falar o motivo", disse.
No vídeo, registrado pela jornalista Elaine Hazin, é possível ouvir um homem retrucando Samantha. "A senhora está faltando com a verdade, eu não disse isso, eu disse que eu estava retirando a senhora por determinação do comandante", afirmou. Segundo a jornalista, em postagem no Instagram, o caso é um exemplo "violento de racismo".
"Meu coração está sangrando neste momento. Presenciei agora à noite um caso extremamente violento de racismo, sofrido por uma mulher negra no voo 1575 da Gol, chamada Samantha. Depois de uma hora de atraso, embarcamos e Samantha não conseguia um lugar para guardar sua mochila, o voo estava “cheio” para ela (quando não está, né?). A tripulação ignorava completamente o desespero desta mulher", escreveu Elaine na postagem.
A discussão teria começado depois que funcionários da companhia aérea tentaram despachar a mochila da passageira, sob a justificativa de que não havia espaço nos compartimentos acima das poltronas. "A tripulação ignorava completamente o desespero desta mulher, que era obrigada a despachar a mochila com seu computador - sendo, inclusive, acusada por parte da tripulação de ser 'a razão do atraso'. Conseguimos um lugar para a mochila de Samantha e nem mesmo assim o voo decolaria. Mais uma hora de atraso, nenhuma satisfação da companhia área, gente passando mal no avião e eis que três homens da Polícia Federal entram de forma extremamente truculenta no avião para levar a 'ameaça' do voo embora - a Samantha", conta a jornalista em seu relato.
"Samantha era uma ameaça por ser uma mulher, ser preta, ter voz. Ela foi levada pela polícia, eu quase fui levada junto por defendê-la, me agrediram, me ameaçaram. A mãe de Samantha chorava desesperada ao telefone por não saber o destino de sua filha. Eu chorava também. Outras mulheres e homens se desesperavam. O que eles não sabiam é que Samanta não estava só - e que enquanto pudermos, enquanto tivermos forças vamos lutar todos juntos contra o racismo!", continuou Elaine.
Na postagem, ela explica ainda que pediu auxílio ao jornalista Manoel Soares, apresentador da Globo, que conseguiu o apoio de dois advogados. Em sua conta pessoal, Manoel avisou que, após prestar depoimento e ter que assinar um Termo Circunstanciado, Samantha foi liberada da delegacia do aeroporto.
Posição da companhia
Segundo a companhia aérea GOL, a mulher foi expulsa do voo porque se recusou a colocar a bagagem nos locais corretos. "Havia uma grande quantidade de bagagens para serem acomodadas a bordo e muitos clientes colaboraram despachando volumes gratuitamente. Mesmo com todas as alternativas apresentadas pela tripulação, uma cliente não aceitou a colocação da sua bagagem nos locais corretos e seguros destinados às malas e, por medida de segurança operacional, não pôde seguir no voo", informou a empresa em nota enviada ao Correio.
A GOL ainda disse lamentar o ocorrido e afirmou que as regras devem ser seguidas sem exceções. "Lamentamos os transtornos causados aos clientes, mas reforçamos que, por medidas de Segurança, nosso valor número 1, as acomodações das bagagens devem seguir as regras e procedimentos estabelecidos, sem exceções. A companhia ressalta ainda que busca continuamente formas de evitar o ocorrido e oferecer a melhor experiência a quem escolhe voar com a GOL e segue apurando cuidadosamente os detalhes do caso", disse.
Fiocruz repudia racismo em voo contra mulher negra estudante da instituição
Samantha Vitena, que foi expulsa de voo após se recusar a despachar mochila com computador, estuda bioética na Fiocruz
Twitter/ Reprodução
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) repudiou o tratamento dado a Samantha Vitena, mulher negra que foi expulsa de voo da Gol na madrugada deste sábado (29/4). A passageira que foi retirada da aeronave é mestranda em Bioética da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp), da Fiocruz.
Na manifestação, a instituição de pesquisa afirma que Vitena foi vítima de racismo pela forma que foi tratada no voo, pela tripulação e pelos homens da Polícia Federal que a retiraram da aeronave.
Conforme relato de uma internauta, Samantha Vitena foi retirada do voo 1575 da Gol porque a aeronave estava cheia e não havia espaço para a mochila dela. Os funcionários da companhia aérea pediram que ela despachasse a bagagem e ela se recusou porque o computador estava na mochila.
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Mesmo depois de uma cliente conseguir espaço para a bagagem, três policiais federais aparecem e pedem que ela se retire, sob a ameaça de algemá-la.
“A violência racista que acomete tantas pessoas no Brasil expulsou Samantha de um voo de retorno para sua casa e a submeteu a interrogatório durante a noite, na delegacia”, afirmou a Fiocruz, em nota (Leia a íntegra no fim da matéria).
Outro lado
Procurada, a Gol afirmou que a tripulação insistiu para que a mulher despachasse a bagagem por razões de “segurança operacional”.
“Reforçamos que, por medidas de segurança, nosso valor número 1, as acomodações das bagagens devem seguir as regras e procedimentos estabelecidos, sem exceções”, disse ainda a companhia.
A empresa completa que vai apurar “cuidadosamente” os detalhes do caso.
Leia a manifestação da Gol:
“A GOL informa que, durante o embarque do voo G3 1575 (Salvador – Congonhas), havia uma grande quantidade de bagagens para serem acomodadas a bordo e muitos Clientes colaboraram despachando volumes gratuitamente. Mesmo com todas as alternativas apresentadas pela tripulação, uma cliente não aceitou a colocação da sua bagagem nos locais corretos e seguros destinados às malas e, por medida de segurança operacional, não pôde seguir no voo. Lamentamos os transtornos causados aos clientes, mas reforçamos que, por medidas de segurança, nosso valor número 1, as acomodações das bagagens devem seguir as regras e procedimentos estabelecidos, sem exceções. A Companhia ressalta ainda que busca continuamente formas de evitar o ocorrido e oferecer a melhor experiência a quem escolhe voar com a GOL e segue apurando cuidadosamente os detalhes do caso.”
A reportagem procurou a Polícia Federal para comentar o caso. O espaço segue aberto a manifestações.
Leia a nota da Fiocruz:
“A Fiocruz vem se somar às manifestações de todas as pessoas e instituições que repudiam atos violentos como o que ocorreu num voo na noite desta sexta-feira (28/4), no trajeto de Salvador para São Paulo. A passageira Samantha Vitena, mestranda em Bioética da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp) da Fiocruz, foi vítima de racismo e violência contra a mulher pela forma de tratamento dispensada a ela tanto dentro do voo, pela tripulação, como pelos agentes da Polícia Federal, convocados pela companhia aérea, para retirá-la à força sem justificativa e sem que Samantha apresentasse qualquer resistência ou motivo para tal.
A violência racista que acomete tantas pessoas no Brasil expulsou Samantha de um voo de retorno para sua casa e a submeteu a interrogatório durante a noite, na delegacia.
Como instituição que defende os princípios da equidade e da justiça social, a Fiocruz se solidariza à vítima e se une à indignação provocada por esse episódio, que deixa marcas profundas não apenas em Samantha, mas atinge um coletivo que sofre diariamente com as consequências psicológicas, materiais, morais, pessoais e políticas que o racismo produz na população negra brasileira.
Nem Samantha, nem nenhuma mulher negra deve passar por momentos como este. Todos os dias a Fiocruz e a sociedade brasileira devem reafirmar seu compromisso com a democracia, a equidade, a justiça racial e de gênero.”