Um quarto dos entrevistados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) na elaboração do Índice de Normas Sociais e de Gênero acha justificável agredir a parceira, e metade entende que os homens são melhores líderes políticos do que as mulheres.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
O estudo cobre 85% da população mundial e revela que 90% dos entrevistados têm algum tipo de preconceito contra mulheres. Segundo o PNUD, não houve melhora nesse quadro na última década.
O chefe do Escritório de Desenvolvimento Humano do PNUD, Pedro Conceição, conceituou o que são normas sociais que prejudicam os direitos das mulheres. Norma social, explicou para a ONU News, é “uma expectativa relativa àquilo que a sociedade espera que seja o papel das mulheres em vários domínios da vida, seja no mercado de trabalho, seja no envolvimento com a política, seja em posição de liderança”.
O Brasil foi o único país de língua portuguesa que entrou no estudo do PNUD. O brasileiro é um pouco menos preconceituoso comparado ao percentual mundial: 84,5% têm pelo menos algum tipo de preconceito contra as mulheres. O estudo analisou quatro dimensões: integridade física, educação, política e economia.
Em média, mais de 75% dos brasileiros entrevistados demonstraram preconceito no quesito físico, no caso, questões de violência e direito de decisão sobre ter filhos; mais de 39% acreditam que mulheres não desempenham liderança política como os homens; e 31% acham que homens têm mais direito a vagas de trabalhos ou são melhores que as mulheres em cargos executivos. No entanto, 91% dos entrevistados entendem que o estudo universitário é importante também para as mulheres.
Pedro Conceição lembrou que a falta de progresso nas normas sociais de gênero está aprofundando a crise de desenvolvimento humano. O estudo mostra que medidas como adoção de política de licença parental, que mudaram as percepções sobre as responsabilidade do trabalho de cuidado, e reformas no mercado profissional impulsionam mudanças sobre as mulheres na força de trabalho.
A diretora da equipe de gênero do PNUD, Raquel Lagunas, disse que o valor econômico do trabalho de cuidado não remunerado é um importante passo a ser conquistado. Em países com os níveis mais elevados de preconceito de gênero, informou, a estimativa é que as mulheres gastem seis vezes mais tempo do que os homens em trabalhos de cuidado não remunerados.
Para impulsionar mudanças em direção a uma maior igualdade de gênero, entendem os autores do estudo, o foco deve se concentrar na expansão do desenvolvimento humano por meio de investimentos, seguros e inovação. Isso inclui introduzir leis e medidas que promovam a igualdade das mulheres na política, fortalecer os sistemas de proteção e assistência social, e encorajar inovações para desafiar normas sociais, atitude patriarcais e estereótipos de gênero.
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fonte: https://www.ihu.unisinos.br/629677-preconceito-contra-mulheres-ainda-e-forte-na-cabeca-de-homens