Quase lá: Violência e morte dentro do lar

Feminicídio cai em Mato Grosso, mas o botão de alerta continua ativo

 

SÔNIA ZARAMELLA - Diário de Cuiabá - 25/11/2023

Faltando praticamente um mês para fechar o ano, os casos de feminicídio em Mato Grosso em 2023 sinalizam para uma redução em 11% até agora.

De janeiro a outubro foram 33 mulheres vítimas desse crime, que é considerado hediondo, contra 37 em 2022 e 39 em 2021.

Pela ordem, as cidades com mais registros foram Cuiabá, Cáceres, Mirassol D’Oeste, Juína, Sinop e Tangará da Serra. Feminicídio refere-se ao assassinato de mulheres cometido em razão do gênero, ou seja, a vítima é morta por ser mulher.

Entre essas mulheres mato-grossenses mortas por serem mulheres, uma delas estava grávida e 27 eram mães que deixaram 60 filhos (crianças e adolescentes) órfãos.

Elas foram assassinadas no auge da maternidade e da produtividade do seu lado profissional, ou seja, na faixa etária de 20 e 49 anos de idade.

E, pasmem, 73% dos crimes foram cometidos dentro das casas das vítimas, sendo a maioria pelos próprios parceiros delas (84%).

Mais da metade dos assassinos (54%) usou arma branca, faca, por exemplo, para matar as vítimas 100% motivados por razões de gênero.

A coordenadora do Plantão de Atendimento à Vítima de Violência Doméstica e Crimes Sexuais de Cuiabá, delegada Jannira Laranjeira, ao comentar o feminicídio, com base nos dados da Secretaria de Segurança Pública, observou que, apesar da redução de casos em 2023, o número de crimes é ainda elevado no estado.

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, ano passado, para os feminicídios, a maior taxa foi verificada no Centro Oeste, com dois casos para cada 100 mil mulheres. No Brasil, a média é de 1,4 para 100 mil.

Desse modo, a delegada alerta as mulheres que sofrem violência para o que ela batiza de ‘tabela de risco’, ou de ‘violentômetro’.

Jannira explica que “o feminicídio é anunciado, ou seja, a mulher sabe, a família, os amigos próximos, todos têm conhecimento da violência, mas, de alguma forma, naturalizam o comportamento do agressor”. Por isso, acrescenta, “alertamos para esse termômetro que indica o crescimento da violência, que isso vai se agravando e intensificando na frequência em que ocorrem, precisando, então, atenção da mulher, de sua família, para que a situação tenha um basta e o autor da violência seja denunciado”. 

Todos os autores dos 33 crimes de feminicídio de janeiro a outubro deste ano em Mato Grosso foram identificados e indiciados em inquéritos.

Desses, 28 estão presos, quatro cometeram suicídio e um está morto.

Agora mesmo, em outubro, em Cáceres, Aloisio Teodoro Bispo Filho tornou-se réu pelo assassinato da ex-mulher Rosemar Cebalho Bispo, morta com 48 facadas, ao chegar em sua residência.

E em Tangará da Serra, Kaique Marques Cavalcante tornou-se réu pelo assassinato da ex-esposa Mikaelly Mendes da Silva, morta a facada na quitinete onde morava. Aos réus foi imputado o crime de feminicídio.

No geral, de janeiro a outubro deste ano, no item acolhimento de mulheres vítimas de violência, em todo Mato Grosso, foram 13.910 medidas protetivas.

No SOS Mulher, que é uma providência on-line de proteção, nesse mesmo período, houve 4.387 solicitações, das quais 4.166 foram autorizadas.

O aplicativo do SOS Mulher é disponibilizado, por ora, somente em Cuiabá, Várzea Grande, Rondonópolis e Cáceres, cidades com melhor infraestrutura de atuação no setor policial. É essa ferramenta que traz o Botão do Pânico, que registrou 489 acionamentos no período.

A realidade mostra que não se pode descuidar um minuto sequer do assassinato de mulheres em contextos marcados pela desigualdade de gênero nas cidades, estados e país, esteja o crime de feminicídio em queda ou não

Jannira Laranjeira aponta que uma das formas de evitar feminicídios é a identificação, no início da relação, de comportamento abusivo, de ciúme possessivo.

“A mulher não deve romantizar isso, ela tem que ser crítica, preservar sua liberdade financeira, de ir e vir, manter contato com sua família e ter coragem de denunciar e romper com o ciclo de violência”, pontuou.

O termo feminicídio se popularizou no país em 2015, a partir da aprovação da lei federal 13.104/15, conhecida como a Lei do Feminicídio. O Brasil é considerado o quinto país do mundo com maior número de feminicídios.

Recentemente, o presidente Lula sancionou a lei que institui pensão especial para os filhos e dependentes, menores de 18 anos, de mulheres vítimas de feminicídio no país.

Nessa linha, desde 2019, a Secretaria da Mulher de Cuiabá coordena o Programa de Auxílio aos Órfãos do Feminicídio que atende, atualmente, 17 crianças de 10 famílias diferentes, segundo informou a Prefeitura, ao comentar a norma federal.

Os benefícios somam um investimento socioassistencial de cerca de R$ 170 mil. Anteriormente chamado de Solidariedade em Ação, o programa foi idealizado pela primeira-dama Márcia Pinheiro.

Já no âmbito do Congresso Nacional, outra ação destacada neste ano foi o pacote anti-feminicídio da senadora mato-grossense Margareth Buzetti (PSD).

Segundo o portal Veja, o projeto de lei 4266/2023 aumenta de 12 para 20 anos a pena mínima e de 30 anos para 40 anos a pena máxima de crimes de execução contra mulheres.

O projeto está na fila de pautas da Comissão de Constituição e Justiça e, se aprovado, segue para a Câmara dos Deputados.

Efetivamente, os mecanismos legais de proteção e as legislações que punem os autores e outras recentes que auxiliam os órfãos do feminicídio são importantes.

Porém, a realidade mostra que não se pode descuidar um minuto sequer do assassinato de mulheres em contextos marcados pela desigualdade de gênero nas cidades, estados e país, esteja o crime de feminicídio em queda ou não.

Denuncie: 197 ou 181 – sosmulher.pjc.mt.gov.br

SÔNIA ZARAMELLA é jornalista em Mato Grosso.

*Artigo originalmente escrito na newsletters "EhFonte".

fonte: https://www.diariodecuiaba.com.br/artigo/violencia-e-morte-dentro-do-lar/668314

 


Artigos do CFEMEA

Coloque seu email em nossa lista

lia zanotta4
CLIQUE E LEIA:

Lia Zanotta

A maternidade desejada é a única possibilidade de aquietar corações e mentes. A maternidade desejada depende de circunstâncias e momentos e se dá entre possibilidades e impossibilidades. Como num mundo onde se afirmam a igualdade de direitos de gênero e raça quer-se impor a maternidade obrigatória às mulheres?

ivone gebara religiosas pelos direitos

Nesses tempos de mares conturbados não há calmaria, não há possibilidade de se esconder dos conflitos, de não cair nos abismos das acusações e divisões sobretudo frente a certos problemas que a vida insiste em nos apresentar. O diálogo, a compreensão mútua, a solidariedade real, o amor ao próximo correm o risco de se tornarem palavras vazias sobretudo na boca dos que se julgam seus representantes.

Violência contra as mulheres em dados

Cfemea Perfil Parlamentar

Direitos Sexuais e Reprodutivos

logo ulf4

Logomarca NPNM

Cfemea Perfil Parlamentar

Informe sobre o monitoramento do Congresso Nacional maio-junho 2023

legalizar aborto

...