Quase lá: A Articulação de Mulheres Brasileiras se despede de Hildézia Alves de Medeiros, uma de suas fundadoras

Hildézia, presente!

 

Em 1994, quando nasceu a AMB, Hildézia era uma das 7 mulheres que compunham sua Secretaria Executiva. Professora, lésbica, negra, nordestina, sindicalista, feminista, Hildézia inspirou tantas mulheres na luta por uma sociedade mais justa. Aos 84 anos, deixa um legado de atuação em favor das mulheres brasileiras, onde o bom humor e a construção coletiva se destacam como características de sua personalidade.

Com o coração cheio de gratidão, as ativistas da AMB deixam aqui seu reconhecimento e carinho.

*Hildézia, presente!*

• 7/10/2024 •

hildezia de medeiros sepe

 

Nota de pesar: Hildézia Alves de Medeiros

 

Faleceu hoje Hildézia Alves de Medeiros, mulher, professora negra e nordestina, que foi uma figura icônica nas décadas de 1970 e 1980 no movimento sindical junto ao SEPE (Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação – RJ). Feminista, foi uma das mobilizadoras do Planeta Fêmea, referência dos movimentos de mulheres durante a ECO92 no Rio de Janeiro. Na luta antirracista se notabilizou por seu envolvimento em várias etapas de mobilização e incidência política no processo da 3ª Conferência Mundial contra o Racismo em Durban, África do Sul, ocorrida em 2011. Militante do Partido dos Trabalhadores, até poucos anos atrás ao completar 80 anos continuava ativa em seu envolvimento nos processos políticos do país.

Foi uma das fundadoras do CACES – Centro de Atividades Culturais, Econômicas e Sociais, em 1987, organização não governamental focada na promoção da memória dos movimentos sociais e na luta pela igualdade de gênero, raça e etnia. Hildezia esteve envolvida na coordenação de importantes projetos, como o Memória e Movimentos Sociais, que documentou e divulgou a história de movimentos feministas e outros movimentos sociais no Brasil. Sob sua liderança, o CACES também promoveu a produção de material educacional e a assessoria a grupos marginalizados​.

No processo rumo à Conferência de Durban em 2001, Hildézia, dentre várias atividades seja na incidência política para a construção da Declaração e Programa de Ação de Santiago rumo a Durban, participou também de uma iniciativa de várias organizações negras e aliadas do movimento negro intitulada “Mídia e Racismo”. Aqui Hildézia apresentou as seguintes reflexões sobre o que deve ser feito para combater o racismo entrincheirado nas fileiras da mídia brasileira e mundial, já prevendo o que seria o desafio de um sistema global de comunicações como o que temos hoje!

No momento em que se coloca em discussão o papel exercido pela mídia na consolidação e reprodução ampliada de práticas discriminatórias, principalmente no que tange à questão da justiça nas relações raciais dentro da sociedade brasileira, é importante ressaltar alguns elementos que devem estar presentes neste campo de debate.

O primeiro deles é o reconhecimento de que os avanços na tecnologia da informação facilitaram o desenvolvimento de um sistema mundial de comunicações que transcende as fronteiras nacionais e exerce impacto sobre as políticas governamentais e sobre as atitudes e procedimentos adotados pelas sociedades, quer individualmente, quer pelos distintos grupos sociais.
 
Daí, essa temática assumir uma importância capital no que diz respeito ao preconceito e à discriminação racial.
 
A perceção de que tão poucos afrodescendentes ocupam cargos proeminentes ou de chefia no campo da mídia é uma comprovação de que ainda temos um largo espaço a percorrer para que a “democracia racial” efetivamente se faça presente em nosso país.
 
Certamente, a adoção de algumas medidas, quer por parte dos governos, quer por parte de setores organizados da sociedade civil, são de extrema importância para a concretização das chamadas ações afirmativas, ou seja, aquelas ações que visam a contribuir para diminuir a condição de desigualdade enfrentada pelos afrodescendentes e indígenas, notada mente as mulheres destes dois grupos étnicos.
 
Promover a participação plena e eqüitativa dos afrodescendentes nos meios de comunicação, inclusive na gestão e produção de programas; lutar para que haja uma distribuição eqüitativa dos postos decisórios nos governos e empresas; apoiar o desenvolvimento de meios de comunicação para difundir informação para, sobre e dos afrodescendentes; e, finalmente, fomentar campanhas que enfatizem a importância do engajamento na luta antirracista, são tarefas democráticas que cabem a todos e todas aquelas que se sentem comprometidas com a construção de uma sociedade justa e com igualdade de oportunidades para todas as pessoas.
 
Hildézia deixa um legado de resistência, luta e defesa de direitos da população negra brasileira, das mulheres e daquelas e daqueles que são discriminados.



Programa especial "Mulheres Negras", veiculado em julho de 2017 no canal a cabo TV Alerj, canal 12 da NET. Particparam com seus depoimentos as mulheres negras; Vanda Maria Ferreira, Ediléa Sylverio, Hildézia Medeiros, Jurema Batista, Selma Maria, Kenia Mara, Selma Conceição, Alzenir Papa e Dilma Oliveira.

Direção e Roteiro - Iara Cruz

Edição - Iara Cruz, Fabiano Silva

Realização - TV Alerj


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