Em 1992, no dia 25 de julho, em Santo Domingo, na República Dominicana, ocorreu o 1º Encontro das Mulheres Negras Latinas e Caribenhas e a partir dele organizou-se a rede de mulheres afro-latino-americanas e afro-caribenhas que conquistaram junto à ONU a legitimação do 25 de julho
Muitas pessoas questionam por que um dia para mulheres e, ainda, para que um Dia Internacional da Mulher Negra – Latino-Americana e Caribenha. E essas mesmas pessoas respondem que todos os dias são das mulheres brancas, negras, indígenas pouco importa a ascendência. Dias de luta nascem justamente para enfrentar a omissão social e política impetrada pelo senso comum.
Em 1992, no dia 25 de julho, em Santo Domingo, na República Dominicana, ocorreu o 1º Encontro das Mulheres Negras Latinas e Caribenhas e a partir dele organizou-se a rede de mulheres afro-latino-americanas e afro-caribenhas que conquistaram junto à ONU a legitimação do 25 de julho. No Brasil, apenas em 2014 foi estabelecido como o dia de Tereza de Benguela – líder do Quilombo Quariterê, e da Mulher Negra, através da lei 12.987/2014, assinado, não por acaso, pela então presidenta Dilma Roussef. Instituiu-se um dia para resgatar e homenagear as mulheres negras brasileiras.
Lélia Gonzalez discorreu longamente sobre a importância de um feminismo afro-latino-americano por décadas, bem como do enfrentamento dos “efeitos da rejeição, da vergonha e da perda de identidade às quais nossas crianças são submetidas, especialmente as meninas negras.” (GONZALEZ, Lélia, Por um feminismo afro-latino-americano. Editora Zahar, 2020. pg 217).
As notícias não são boas. Hoje, 18 de julho de 2024, o estupro bate recorde no Brasil, e as meninas negras são as maiores vítimas.
Dito tudo isso, quero saudar o 25 de julho pela voz de cinco escritoras negras incríveis do RS, com quem tenho aprendido também sobre mim.
“Menininha, quando dorme,/põe a mão no coração./ Você já parou/ em meio às prateleiras do supermercado/ e teve vontade de chorar/vendo os preços dos alimentos/ e contando as moedas???/ (…) Ana Dos Santos, MAIÙSCULA,
Editora Libretos, 2024.
“sobre as narinas/gordas gotas/qual amêndoas pela mão escusa/talvez o soluço das conchas/pelo poço e seus pensos de sombra(…) Eliane Marques, O POÇO DAS MARIANAS, Escola de Poesia, 2021
“Paz pra quê/ na falta de paz é que a luta rompe a alma/chega de calma/ócio abusivo, destrutivo/quero invadir os palácios da hipocrisia/derrubar muros, enfrentar medos/revelar os segredos sórdidos da burguesia(…) Fátima Farias,
Palavras são mudas. Editora Libretos 2024.
“No navio a comida também era racionada, mas a esperança dava uma dimensão suportável da penúria(…)Celeste, sua irmã próxima em idade, contava-lhe histórias assustadoras de uma selva com animais selvagens e índios canibais com os quais teriam que lutar para conquistar um lugar que fosse deles.” Taiasmin Ohnmacht, Vozes de Retratos Íntimos, Editora Taverna, 2021.
“Pescoço de negro/ pescoço de negra/não é descanso/nem parapeito/de joelho branco.” Lilian Rocha, Rochedos também choram. Editora Bestiário, Selo Invencionática, 2023.
*Escritora e poeta; doutora em estudos da literatura brasileira, portuguesa e luso-africanas/UFRGS.
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