Quase lá: Katahirine: mulheres indígenas de olho na câmera

O país que desconhece seus mais de 300 povos indígenas e 270 línguas pode agora encantar-se com o tesouro cultural que é a produção audiovisual das mulheres originárias. Plataforma será lançada neste sábado

 

Existe um cinema realizado por mulheres indígenas no Brasil, e sua força está prestes a ser apresentada ao país. Será lançada, neste Abril Indígena, a Katahirine – Rede Audiovisual das Mulheres Indígenas, que reúne 71 mulheres indígenas, de 32 etnias, dedicadas à produção audiovisual. O projeto, inédito, é uma plataforma que exibe seus conteúdos, relata suas trajetórias e promove o fortalecimento de ações coletivas das mulheres indígenas no campo da imagem.

Katahirine significa constelação no idioma da etnia Manchineri. Dessa constelação participam mulheres de todos os biomas, de diferentes regiões e etnias, que se uniram com o objetivo de fortalecer a luta dos povos originários por meio do audiovisual. Nela, cada cineasta tem uma página com perfil, biografia e criações. O conjunto revela uma produção que está escondida nas redes – um cinema diverso e plural, com imagens encantadas de cuidado e afeto, memórias, saberes e luta por direitos e territórios. A rede é uma aliada na elaboração de práticas anticoloniais e antirracistas, e seu principal objetivo é fortalecer a luta dos povos originários por meio do cinema.

Une mulheres dos povos Munduruku, Arara, Juruna, Yanomami e Tapajós – entre tantos outros. Traz realizadoras já consagradas, como Graci Guarani e Olinda Wanderley Yawar Tupinambá, respectivamente diretora e codiretora do projeto Falas Da Terra, da TV Globo. E Patrícia Ferreira Pará Yxapy, que tem filmes exibidos em festivais no Brasil e no mundo – Doclisboa, em Portugal, Berlinale, na Alemanha, e Margareth Mead Film Festival, em Nova York, EUA. A seu lado estão aquelas que realizaram um único vídeo na aldeia, numa oficina de audiovisual.

Composta por mulheres que atuam nas áreas do audiovisual e comunicação, a rede Katahirine é coordenada por Mari Corrêa, Sophia Pinheiro e Helena Corezomaé. Foi concebida pelo Instituto Catitu, organização que promove oficinas de audiovisual com povos indígenas para valorizar os saberes femininos e fortalecer o protagonismo das mulheres e jovens na defesa de seus direitos.

“O audiovisual tem sido uma ferramenta de luta das mulheres indígenas. As produções cinematográficas têm contribuído para que elas reivindiquem direitos, denunciem retrocessos e ocupem seu espaço na sociedade indígena e não indígena”, observa a cineasta Mari Corrêa, diretora do Catitu e realizadora do filme “Quentura”.

Helena Corezomaé, da etnia Balatiponé (MT), assessora de comunicação do Instituto Catitu, foi a única jornalista indígena entre os entrevistadores da ministra Sonia Guajajara, do Ministério dos Povos Indígenas, no programa Roda Viva. Mestre em antropologia social pela UFMT, realizou o curta “Elotinopopare, o córrego do povo Umutina Balatiponé que secou”.

Já Sophia Pinheiro é educadora popular, artista visual e cineasta, com trabalhos exibidos dentro e fora do Brasil. Com doutorado em Cinema e Audiovisual pela UFF, mestre em Antropologia Social pela UFG, há quase 10 anos colabora junto a mulheres indígenas cineastas na realização de filmes e formação audiovisual. A equipe é integrada ainda pela jornalista e cineasta Natali Mamani, da etnia Aymara, participante de exposições e festivais dentro e fora do Brasil e assistente de coordenação da Katahirine.

Conta também com um Conselho Curador, formado por mulheres cineastas e pesquisadoras de povos originários de diferentes etnias – entre elas as cineastas Graciela Guarani, do povo Guarani Kaiowá; Patrícia Ferreira Pará Yxapy, da etnia Mbyá-Guarani; Olinda Wanderley Yawar Tupinambá, da etnia Tupinambá/Pataxó Hã-Hã-Hãe; e Vanúzia Bomfim Vieira, do povo Pataxó –, além de Mari, Helena e Sophia.

“Acreditamos que a rede poderá ser uma importante ferramenta de conhecimento e diálogo entre nós e com o público, e também uma referência para pesquisas sobre o cinema indígena feminino”, afirma o texto elaborado coletivamente pelo Conselho. “Nosso trabalho aborda questões centrais dos nossos povos, como a recuperação das memórias históricas, a reafirmação das identidades étnicas, a valorização dos conhecimentos tradicionais, das línguas e do papel das mulheres nas nossas sociedades.”

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A rede pretende também abarcar produtoras audiovisuais de povos originários de outros países da América Latina. No futuro, planeja promover encontros entre as realizadoras e organizar mostras. Atuará ainda no desenvolvimento de estratégias de fortalecimento do audiovisual indígena e na proposição de políticas públicas que atendam a produção do cinema feito por mulheres indígenas.

A Katahirine recebeu o apoio da Fundação Ford através do Projeto Rede Audiovisual das Mulheres Indígenas, da Rainforest Foundation Noruega através do projeto Aliança dos Povos Indígenas e Extrativistas pelas Florestas do Acre e do Fundo de Direitos Humanos dos Países Baixos através do projeto Rede de Comunicação das Mulheres Pataxó.

fonte: https://outraspalavras.net/descolonizacoes/katahirine-mulheres-indigenas-de-olho-na-camera/

 


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