A visita da Assessora Especial para Prevenção do Genocídio da ONU, Alice Wairimu Nderitu, tem por objetivo conhecer a situação dos povos indígenas em Roraima. Depois irá a Mato Grosso do Sul conhecer a situação de violência contra os/as Guarani-Kayowá
Em visita histórica, lideranças indígenas da comunidade Pium, terra indígena Manoá/Pium, região Serra da Lua, município de Bonfim, receberam no domingo (7), a assessora Especial para Prevenção do Genocídio da Organização das Nações Unidas (ONU), Alice Wairimu Nderitu e a sua equipe, além da Assessora Internacional do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), Nayra Kaxuyana, e o representante do Ministério de Relações exteriores do Ministério de Direitos Humanos e Cidadania, Felipe Berger.
Os assessores do Departamento Jurídico do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Junior Nicacio e Ivo Macuxi, representaram a organização na agenda oficial destinada para ouvir e dialogar sobre os modos de vida indígena, a importância do território e a organização social dos povos Macuxi e Wapixana que moram na comunidade.
Pium foi a única comunidade indígena em Roraima a ser visitada, um acontecimento importante aos povos indígenas desse território que foram ouvidos pelas Nações Unidas e apresentaram a sua realidade, diversidade cultural e a sustentabilidade baseada na agricultura familiar.
“A visita foi muito importante aos povos indígenas que foram ouvidos pela ONU, apresentaram a sua realidade, diversidade cultural e a sustentabilidade”
O tuxaua Lázaro Wapixana, frisou que a visita da assessora trouxe um olhar positivo para os povos indígenas de Roraima, especialmente, aos povos Macuxi e Wapichana, do território ancestral Manoá-Pium, que vivem um processo de luta e resistência.
“No governo Bolsonaro durante os quatros anos, foi um genocídio imenso, mas de 500 parentes Yanomami perderam a vida, crianças, mulheres sendo violentada, sem ter o direito de proteção. Esse é um exemplo que ficará para as futuras gerações, para nós que muitas das vezes acha que a gente está aqui, que não tem pessoas da organização, especialmente de tirar o tempo de vim na nossa comunidade, para nós é muito importante”, frisou o tuxaua, engrandecido pela visita de Alice Wairimu.
“No governo Bolsonaro, foi um genocídio imenso, mas de 500 parentes Yanomami perderam a vida, crianças, mulheres sendo violentada, sem ter o direito de proteção”
No encontro que durou cerca de 5 horas, por meio de tradutores, Alice esclareceu sobre o funcionamento organizacional da ONU, afirmou que veio para ouvir a comunidade e agradeceu pela recepção tradicional. “Estou aqui para ouvir vocês, se vocês sentirem que está em risco, como nós fazemos no mundo inteiro, então estamos aqui para os ouvir. Queremos ouvir todos vocês, nós queremos de fato saber o que está acontecendo, a verdadeira história”, explicou no malocão.
As lideranças explicaram a organização social, os projetos e a cultura, mas também pediram principalmente a proteção territorial. Apresentaram suas preocupações em relação aos presentes e futuras gerações, como apresentou, Ivete Cruz, do povo Wapichana, liderança histórica do movimento de mulheres indígenas de Roraima, sobre os riscos de invasões, poluição do meio ambiente e até a própria existência da futura geração, principalmente, da atual: as crianças.
“Queremos ouvir todos vocês, nós queremos de fato saber o que está acontecendo, a verdadeira história”
“Hoje vocês estão vendo que nós existimos, somos Wapichanas, vocês estão vendo a nossa tradição. Nossos filhos precisam conhecer as nossas matas, para isso é preciso preservar, estamos preocupados com as nossas águas. Esse nosso lavrado que vocês estão vendo, tem invasores de olho, vão só trazer veneno, vai acabar com os nossos pássaros que cantam pra gente. Temos os nossos conhecimentos tradicionais, a medicina tradicional. Estou preocupada com as crianças. Os políticos vêm aqui só pra enganar a gente. Quero poder continuar plantando mandioca. Acreditamos na nossa cultura”.
Outro líder tradicional e originário da comunidade, Antônio Farias, Wapichana, 70 anos, pediu paz, respeito e por um território livre. “Precisamos viver livre, não queremos desmatamento, queremos respeito, precisamos do apoio da ONU. A terra é pequena, plantamos banana, mandioca, produzimos aqui. Tenho 70 anos ainda, trabalho na minha roça. Aquele que é de um, é de todos, precisamos da terra também. Nós queremos paz”.
“Precisamos viver livre, não queremos desmatamento, queremos respeito, precisamos do apoio da ONU”
A assessora Internacional do MPI, Nayra Kaxuyana, que mediou a agenda com o CIR, considerou importante a visita da representante da ONU em uma comunidade. “A missão foi programada para isso, ela entender, conhecer e ter uma ideia das comunidades indígenas não só de Roraima, mas do Brasil”.
No momento oportuno, o coordenador do Departamento Jurídico do CIR, Junior Niccacio pontuou o contexto geral das violações de direitos em Roraima e entregou o Protocolo de Consulta da região Serra da Lua.
“A missão foi programada para isso, ela entender, conhecer e ter uma ideia das comunidades indígenas não só de Roraima, mas do Brasil”
Vivência tradicional
De origem queniana, Alice também pôde vivenciar os costumes tradicionais dos Macuxi e Wapichana, principalmente Wapichana, fronteiriços com a Guiana, habituados com a terceira língua, o inglês e a primeira, Wapichana. Depois do encontro no malocão, Wairinu visitou algumas famílias na comunidade e presenciou o cotidiano.
Na casa de farinha, Nderitu teve a oportunidade de compartilhar com as mulheres Wapichana, a experiência da produção de farinha. Ao lado das lideranças, a representante da ONU não se contentou em apenas observar as mulheres, mas também a experimentar o saber tradicional do preparo da farinha, um dos principais alimentos da culinária indígena.
“Ao lado das lideranças, a representante da ONU não se contentou em apenas observar as mulheres e experimentou o saber tradicional do preparo da farinha”
Conheceu o artesanato Wapichana e Macuxi, além de chegar na fronteira entre Brasil e Guiana através do rio Tacutu, por onde Alice deixou seu rastro de memória e vivência coletiva no território ancestral Manoá-Pium, celebrada logo na chegada, com cantos e danças tradicionais Wapichana, como o “Mari Mari e Wa Kunaikian, que significam alegria e felicidade.
Após agenda em Roraima, a Assessora e sua comitiva seguiram para acompanhar a situação dos Guarani Kaiowá, no Mato Grosso do Sul.