Veja como foi a caminhada de Edina Alves, Leila Cruz e Neuza Back até o torneio organizado pela Fifa. As três estarão em campo no comando da partida entre Austrália e Irlanda
Com a bola nos pés, a Seleção Brasileira vai entrar em campo apenas na segunda-feira. Porém, o protagonismo tupiniquim na Copa do Mundo começa, de fato, nesta quinta-feira (20/7) terá um toque de Distrito Federal e vai premiar três trajetórias de muita perseverança. Escolhidas para representar a arbitragem do país na competição, o trio formado pela árbitra Edina Alves e as auxiliares Neuza Inês Back e Leila Moreira da Cruz — natural de Luziânia (GO) e vinculada ao quadro candango — vai mediar o segundo jogo do torneio, entre a anfitriã Austrália e a Irlanda, às 7h, no Estádio Olímpico de Sydney.
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No caso de Leila, a partida também vai marcar o pontapé inicial da trajetória pessoal em Copas do Mundo. Neuza e Edina são mais experientes nos torneios organizados pela Fifa. A dupla esteve presente no Mundial feminino de 2019, na França, e no masculino de 2022, no Catar. Entrosada pela presença conjunta em jogos da Série A do Campeonato Brasileiro, da Copa América e da edição das mulheres da Libertadores da América, a equipe brasileira embarcou junta para a Austrália e colocará o nome na história do torneio com a escolha para arbitrar a estreia de uma das anfitriãs da competição de 2022.
Primeira árbitra do Distrito Federal a ostentar o cobiçado distintivo da Fifa, Leila vai realizar um sonho cultivado em vários estágios. Quando era mais nova, a goiana de Luziânia desbravava os gramados como jogadora. Depois, já formada em Educação Física, ingressou na arbitragem a convite de um amigo. Concluiu o curso obrigatório de nove meses em 2013. No ano seguinte, passou a auxiliar jogos do Campeonato Candango, nos quais conheceu as mais diversas mazelas da profissão.
A postura séria, vista até hoje em campo, foi utilizada como antídoto para se desvencilhar das mais diversas brincadeiras e provocações de quem estranhava ver uma mulher no cargo máximo de autoridade no gramado. "É um esporte muito masculino e grosseiro. Então, o fato de sermos mulheres nunca fica de fora das piadas", contou Leila em entrevista ao Correio, em 2014. Na época, a auxiliar tinha 25 anos. A perseverança na função a fez chegar ao quadro da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), em 2015, e ao da Fifa, em 2019.
Passado um novo ciclo de quatro anos na carreira nos campos e na vida, Leila Moreira da Cruz vai escrever os passos mais relevantes na profissão nas próximas semanas graças a oportunidade de estar em evidência no mundo da bola durante a participação no torneio internacional da Fifa, no qual somente mulheres farão parte do quadro de 33 árbitras e 55 bandeirinhas escaladas em todas as 64 partidas. "É a minha primeira vez em uma Copa do Mundo. Quando chegou o convite, foi uma alegria que eu não consigo nem explicar. Eu pulei, eu gritei, foi muito emocionante", celebrou a árbitra do DF, em entrevista ao site da CBF, em abril.
Da divisão de um apê ao Mundial
As demais representantes do Brasil na Copa do Mundo vão viver na Austrália e na Nova Zelândia mais uma aventura de uma amizade de 15 anos. Parceiras de longo tempo, Edina Alves e Neuza Inês Back compartilham uma história recheada de semelhanças fortalecidas pela divisão de um apartamento, em Jundiaí (SP), e, agora, estendida aos gramados da Austrália e da Nova Zelândia. Amigas desde 2008, quando participaram de um jogo em Santa Catarina, vão escrever, juntas, mais um capítulo na história vitoriosa.
Primeira árbitra a dirigir um clássico entre Corinthians e Palmeiras, responsável por quebrar um tabu de 14 anos sem mulheres na elite do futebol brasileiro e presente no primeiro trio de arbitragem do país em um Mundial Feminino, em 2019, Edina Alves teve o incentivo de um amigo para migrar das quadras de basquete, onde era ala-armadora, aos gramados do futebol e se tornar a principal juíza central do país. A trajetória, porém, só foi possível graças a um desapego.
Edina terminou a formação de arbitragem em 2001. Em 2007, virou bandeirinha do quadro da CBF e ganhou o brasão da Fifa em 2016. Porém, sem tanto espaço na federação do Paraná e com o sonho de ser árbitra central, decidiu recomeçar em São Paulo desde as categorias de base. Perseverante, manteve o objetivo firme e, agora, vai à segunda Copa feminina da carreira. De tão comprometida com os objetivos, a árbitra teve papel preponderante na caminhada da amiga com quem vai dividir os jogos.
Primeira árbitra do Brasil a entrar em campo em uma partida do Mundial masculino de 2022, Neuza Inês Back teve o incentivo de Edina para abdicar do quadro de Santa Catarina, por onde apitou por 10 anos, e se mudar para São Paulo em busca de mais oportunidades nos campos. Com receio de se afastar da família, encontrou na amiga o aconchego necessário para evoluir na carreira profissional.
A segunda Copa do Mundo da carreira surge no horizonte como um prêmio e com pressão menor. "A expectativa está muito legal. Estou muito feliz. Acredito que nessa vou conseguir desfrutar um pouquinho mais, com um pouco menos de frio na barriga, por já saber como funciona a competição", explicou a árbitra. Com clima leve e companheirismo, o trio brasileiro começa a trajetória na Austrália e na Nova Zelândia com todos os ingredientes necessários para voltarem ao país com o nome ainda mais concretizado na história.