É impossível pensar a história do marxismo e do socialismo sem a contribuição das mulheres e do feminismo.
Por um marxismo feminista
É impossível pensar a história do marxismo e do socialismo sem a contribuição das mulheres e do feminismo. Não só o debate sobre a opressão feminina é uma constante nesta tradição, presente desde o início (como muito bem demonstram passagens hoje bastante conhecidas da obra de Marx, Engels e Bebel sobre o tema), como o protagonismo das mulheres se provou repetidas e sucessivas vezes fundamental para a ampliação e avanço da teoria marxista, do movimento operário e suas formas de organização, em inúmeras ocasiões históricas e revolucionárias desde o século XIX.[1] Ainda assim, muitos dos grandes livros que pretendem narrar a história, as principais personagens e os eventos marcantes do marxismo infelizmente insistem em não dar o devido destaque ou fazer jus ao lugar e o papel do pensamento e da política feminista no processo de constituição histórica desta tradição. Isso se materializa no próprio ofuscamento ou apagamento de uma série de figuras importantes da memória teórica e política do movimento operário, a ponto de muitas mulheres (dirigentes, ativistas, intelectuais e formuladoras) serem até hoje excetuadas da lista de seus principais “cânones”. Quando muito, são citadas nas notas de rodapé.
Sorte a nossa que resgatar a história e o papel dessas mulheres tem se tornado cada vez mais um ato inevitável e crucial. Além de representar um contraponto importante para uma série de versões “oficiais” que ainda povoam o imaginário de uma certa esquerda marxista, que persiste em recair no tremendo equívoco de reforçar a ideia de que esta tradição foi forjada e conformada quase que exclusivamente por cânones masculinos, retomar o lugar das mulheres é fundamental para reinterpretar não só a história do marxismo, como do próprio capitalismo e da luta contra ele.
Afinal, seria realmente possível, por exemplo, ler O manifesto comunista (1848) sem União operária (1843), obra de uma das pioneiras do encontro entre feminismo e marxismo, Flora Tristan, que, antes mesmo de Marx e Engels chegarem a propor a I Internacional, já advogava pela criação de uma organização internacional que unisse os trabalhadores e as trabalhadoras no mundo?[2] Ou ainda, é correto ler A situação da classe trabalhadora inglesa (1843) sem o seu Passeios em Londres (1840), livro no qual ela narra as condições de vida dos trabalhadores ingleses, a prostituição e as mazelas trazidas pelo desenvolvimento acelerado do capitalismo, relatando a situação de miséria que viviam operários, mulheres e crianças que trabalhavam na indústria têxtil e nas minas, em condições sub-humanas e com salários miseráveis? Como entender a primeira experiência revolucionária construída pela classe trabalhadora, a Comuna de Paris, sem o papel extraordinário que tiveram as mulheres socialistas e as mulheres trabalhadoras dos mais diversos ofícios (lavadeiras, costureiras, enfermeiras, educadoras), que atuaram não apenas nas tarefas de cuidado e no apoio dos combatentes das barricadas, mas na própria linha de frente das mobilizações, resolvendo o problema de abastecimento de alimentos (que foi bloqueado quando a Prússia sitiou Paris), organizando restaurantes cooperativos e formas de ajuda mútua e solidariedade, fazendo vigílias, dirigindo grupos de cooperação e de resistência da classe, queimando os símbolos opressores do Antigo Regime e monumentos imperialistas de Napoleão, enfim, dando, literalmente, sua vida em nome da revolução e desafiando todas as hierarquias de gênero que ainda se impunham na tradição socialista da I Internacional?[3] O que seria a Revolução Russa sem a luta das operárias e o feminismo socialista?[4] É possível entender os anos 1960 e 1970 sem Simone de Beauvoir, Angela Davis, Sheila Rowbotham, Juliet Mitchell, Silvia Federici, Mariarosa Dalla Costa, Heleieth Saffioti? E as lutas anticapitalistas que eclodiram no mundo após a crise econômica de 2008 – é possível pensá-los sem o feminismo? É possível construir saídas para o atual momento de pandemia e para o enfrentamento das políticas neoliberais e fascistas sem uma agenda feminista?[5]
Isso para citar apenas alguns exemplos que ilustram como reinterpretar a história do marxismo pelas lentes do feminismo sempre teve um significado profundo, além de ser uma tarefa que segue sendo crucial para os socialistas hoje. Pois a ausência dessa preocupação inevitavelmente contribui para que haja uma distorção sobre o próprio lugar do debate de gênero no marxismo, algo que é constantemente reproduzido e reposto nos círculos da esquerda, gerando grandes equívocos teóricos e políticos. Isso se faz evidente, sobretudo, no momento em que ainda existem aqueles que persistem em defender uma noção (falsamente) universal do sujeito revolucionário (entendido em sua forma abstrata, monolítica, industrial, fordista, masculina, branca e sindicalizada), sob o argumento de que o marxismo deveria se preocupar com a classe em detrimento de questões de gênero, raça, sexualidade, entendidas como meras questões “identitárias” ou culturais.[6] Ou seja, como se, enquanto teoria, o marxismo oferecesse antes de mais nada uma compreensão e descrição bastante útil sobre o capitalismo e seu funcionamento econômico, mas não teria absolutamente nada a dizer sobre a opressão das mulheres, da negritude, das LGBTs, de modo que, para entender estas questões, seria necessário recorrer a uma tradição feminista e antirracista à parte, de fato dedicada à análise das estruturas patriarcais, coloniais e racistas.
A luta das marxistas feministas hoje é justamente subverter tais noções e mostrar como as opressões de gênero, raça e sexualidade não representam um mero divisionismo ou assunto menor e parcial, mas algo essencial para a compreensão do próprio capitalismo e sua lógica de reprodução, de forma que não é possível entender o funcionamento desse sistema sem tais questões, e nem a opressão das mulheres, da negritude e das LGBTs sem uma perspectiva antissistêmica. Ou seja, à altura que estamos da crise capitalista, que todos os dias escancara seus desdobramentos mais evidentes sob setores feminizados, racializados, periféricos e informais da classe, não é mais possível sustentar uma perspectiva marxista que não seja ao mesmo tempo feminista, antirracista, pós-colonial, ecossocialista. E isso exige uma revolução historiográfica, epistemológica e política. Quer dizer, não basta apenas ampliarmos e incluirmos mais mulheres na lista de cânones desta tradição, mas sim, refundar sua história, algo que passa necessariamente por amadurecer teórica e politicamente a reflexão sobre o lugar do feminismo como um todo no interior da tradição marxista, de forma a reconstruir e criar novas bases para o conhecimento e para a ação.
Marxismo e feminismo em Rosa Luxemburgo
Rosa Luxemburgo representa uma figura um tanto singular nesse debate. Nas propostas de historiografia do marxismo, ela quase sempre é uma das únicas mulheres revolucionárias lembradas com certa unanimidade. A ampla tradução e acesso a sua obra, a recepção e impacto de seus escritos à nível internacional, o número de biografias escritas a seu respeito, bem como a presença quase obrigatória de sua imagem e de seu nome nos livros que narram a história do socialismo e da teoria marxista, a colocou nesse lugar de excepcionalidade. Além de grande dirigente e estudiosa das ideias marxistas, ela também ocupa um papel de destaque e de grande inspiração para as feministas marxistas, enquanto oradora, escritora, educadora, que ocupou altos cargos do partido e dividiu em pé de igualdade espaços de debate político e intelectual com homens como Lênin, Trotsky, Kautsky, Bernstein, rompendo e desafiando a própria regra do período, segundo a qual as mulheres deveriam se manter presas à esfera doméstica, carentes de direitos civis e políticos, alijadas de condições materiais e subjetivas para intervir na esfera pública.
Ainda assim, pode-se dizer que a relação de Rosa com o marxismo feminista é mais complexa e contraditória do que parece. Como muito bem aponta Isabel Loureiro (principal estudiosa, tradutora e intérprete de sua obra no Brasil), Rosa não era exatamente uma entusiasta das discussões feministas, diferentemente de Clara Zetkin – sua companheira e amiga, que se tornou, ela sim, representante “oficial” do feminismo socialista alemão da época, por seu destacado entusiasmo e atuação na organização das mulheres operárias na Alemanha e internacionalmente. Como muito bem relembra Loureiro, Rosa chega a ironizar em cartas e textos o quanto certas reivindicações feministas – como o “ingresso das mulheres nas universidades, andar de bicicleta, direito de voto para os parlamentos, ensinar floricultura e artesanato às meninas, debater sobre a melhor maneira de educar as crianças, usar roupas confortáveis, etc.” – eram fúteis e vazias.[7] Uma compreensão que na verdade reflete de maneira um tanto explicita uma certa identificação (bastante comum à época) do feminismo com os ideais liberais e burgueses, haja vista o quanto a reivindicação por igualdade, tal como pregada por Mary Wollstonecraft e Olympe de Gouges, era justamente derivada da Revolução Francesa e da extensão dos direitos de cidadania prometidos pela Carta de Direitos do Homem às Mulheres. Tais feministas deram início a toda uma linhagem do feminismo que passou a reivindicar a igualdade entre homens e mulheres, mas sem considerar a especificidade de classe e, portanto, ignorando o fato de que essa luta guardava um sentido bastante diferente para as mulheres trabalhadoras, cujas necessidades específicas não se restringiam ao direito à educação, à cultura, à carreira profissional plena, à propriedade e herança, mas às questões de justiça social e problemas como a miséria, fome, dupla e tripla jornada de trabalho, trabalho doméstico, prostituição, etc. Esse foi exatamente o motivo pelo qual o movimento operário por muito tempo simplesmente deixou de incorporar as pautas feministas (entendidas como burguesas), e que explica a insistência da própria Zetkin e de todo o feminismo socialista subsequente em diferenciar e definir o que seria o “feminismo proletário”, tendo em vista o quanto a reivindicação por emancipação feminina tinha um sentido completamente diferente para as mulheres trabalhadoras.[8]
Nesse ponto específico – a defesa das mulheres trabalhadoras – Rosa segue Clara Zetkin, mas ainda numa chave um tanto simplista, reforçando uma visão idealizada de que as operárias seriam “superiores” às burguesas, por não serem fúteis e terem se tornado independentes através do trabalho assalariado. Em seus escritos sobre o assunto, a mulher trabalhadora estaria muito mais próxima de seu próprio companheiro e marido, pelo fato de compartilharem da mesma realidade e igualmente sofrerem da exploração do trabalho, de forma que ela acaba advogando pela prioridade da classe sobre gênero, entendendo a questão da mulher como apenas um aspecto da questão social.[9] Ou seja, Rosa não desenvolve como tais questões na verdade não são apartadas e que não é possível pensar a emancipação da classe trabalhadora sem concomitantemente considerar o problema da desigualdade entre homens e mulheres – como já muito bem advogavam Flora Tristan e Eleanor Marx.[10] Além disso, encontra-se ausente dos escritos de Rosa reflexões sobre temas que foram centrais para o desenvolvimento do feminismo socialista, como a crítica à família, a questão da socialização e do apoio estatal às tarefas reprodutivas e do cuidado, o amor livre, amplamente debatidos entre as feministas russas.[11]
Assim, se fossemos partir exclusivamente de seus textos sobre a questão da mulher, não seria possível dizer que Rosa era uma feminista – isso significaria recair num grande anacronismo. Mas isso não é a mesma coisa que dizer que ela não tinha sensibilidade para a vida das mulheres trabalhadoras, ou que sua obra e vida não oferecem elementos e contribuições fundamentais para o pensamento e práticas feministas ainda hoje. Muito pelo contrário. A questão é que, para identificar isso, é importante não só reler Rosa à luz de seu próprio momento, mas sobretudo olhar para os lugares certos de sua obra. A verdade é que não são tanto os seus escritos sobre a questão da mulher que podem oferecer os melhores insights para as feministas, mas sobretudo suas contribuições no campo da economia política marxista.[12]
Em uma de suas grandes obras, A acumulação de capital, Rosa apresenta elementos e um enquadramento teórico muito mais favorável e produtivo para pensar o problema da opressão das mulheres. Nas décadas de 1970 e 1980, feministas importantes – como Maria Mies e Silvia Federici, por exemplo – inclusive partem justamente da incorporação e ampliação de uma das teses centrais de Rosa neste livro – o tema da acumulação primitiva – para pensar a emancipação feminina de uma maneira renovada. Elas basicamente partem da constatação de Rosa de que, o capital, para garantir seus processos de acumulação, depende não apenas da exploração do trabalho assalariado por meio da mais-valia, mas também da dominação, expropriação e destruição violenta e sucessiva de domínios geográficos exteriores, não-capitalistas, que são transformados em mercadoria e incorporados nos próprios moldes do sistema, num processo que deu origem à expansão imperialista.
As feministas ampliam essa análise, incluindo o trabalho doméstico não-remunerado das mulheres como mais um espaço (social) da acumulação do capital e extração de valor, isto é, como mais uma esfera que foi colonizada pelo capitalismo em seu processo de expansão, ao lado da natureza, das colônias, etc. Com isso, elas não só reforçam a ideia de que a expropriação é um elemento tão central quanto a exploração para a compreensão do funcionamento do capitalismo, como também dão visibilidade ao trabalho não remunerado desempenhado pelas mulheres no lar, mostrando o quanto ele beneficia igualmente o capitalista, ao garantir (de maneira indireta) seus lucros.[13] Além disso, o trabalho reprodutivo na verdade garantiria a própria condição de existência dos capitalistas, já que é este o trabalho responsável pela manutenção da vida e pela reprodução de toda a classe trabalhadora, a única “mercadoria especial” capaz de produzir valor por meio de sua força de trabalho.
Com isso, as feministas não apenas resgatam o legado de Rosa, como vão um pouco além dele, demonstrando como as mulheres na verdade estão no centro do ciclo de produção e reprodução do capital, não à margem dele, algo que acontece não só no momento em que elas gradativamente se inseriram nas próprias relações sociais capitalista por meio do trabalho formal e remunerado, mas também através do próprio trabalho (invisível), informal e não-pago que elas desempenham na esfera doméstica e no âmbito da família. Isso acaba contrariando, por sua vez, a própria visão expressa por Rosa em seus escritos sobre a questão feminina, mostrando o quanto classe e gênero, exploração e espoliação, estão muito mais próximos e conectados do que ela mesma poderia imaginar.
Como se sabe, Rosa também advogou pela união entre a luta das mulheres e a luta antirracista (a exemplo do que aconteceu nos Estados Unidos no período abolicionista, usando-o inclusive como contraponto ao feminismo burguês europeu de sua época), além do fato de que sua noção de que as massas apenas se libertam por meio de uma ação autônoma tornou-se uma ideia fundamental para o movimento feminista e para se pensar o problema da emancipação dos subalternos como um todo, na medida em que ajudou as mulheres a elaborar sobre a importância de sua própria luta e ação, entendendo o quanto a libertação feminina dependeria, antes de mais nada, de sua ação autônoma.[14] Além disso, outra contribuição fundamental de Rosa foi justamente o fato dela ter desempenhado uma leitura não dogmática da obra de Marx, a exemplo de seu livro A acumulação de capital.[15] E isso é um ponto de partida e um exemplo fundamental para as feministas, que, espelhadas em Rosa, continuam a contribuir para esse movimento de expansão crítica do marxismo, garantindo que o legado de Marx siga sendo constantemente resgatado, repensando e ampliado à luz de cada presente histórico, de forma a abrir novos caminhos para pensar o capitalismo e as formas de luta contra ele.
Por todos esses motivos, 150 anos após seu nascimento, Rosa Luxemburgo continua sendo essencial para o marxismo e o feminismo. Além de uma fonte importante para seguirmos atualizando o projeto socialista e sua teoria da sociedade a partir de reflexões marxistas-feministas, ela sem dúvida segue sendo um grande exemplo de mulher livre e independente, que lutou até o fim por uma sociedade justa e igualitária.
[1]Arruzza, Cinzia. Ligações perigosas: casamentos e divórcios entre marxismo e feminismo. São Paulo: Usina Editorial, 2019.
[2] Fundamental ressaltar o pioneirismo de Flora Tristan. Além de ter sido uma das primeiras a apontar para a ideia de união e coesão da classe trabalhadora no mundo e para a importância de se pensar a questão feminina e a igualdade entre os sexos (com destaque para o capítulo “Porque eu menciono as mulheres”), União operária chegou a ter uma tiragem de 10 mil exemplares (cinco vezes maior que a primeira edição do Manifesto comunista), a custo de muito trabalho da própria Flora, que de início foi altamente rejeitada e boicotada pelas editoras e jornais franceses, até que conseguiu a muito custo e trabalho militante autofinanciar a impressão de seu manifesto, que foi distribuído entre grupos e associações de operários pela França.
[3] Cox, Judy. Terremoto de gênero: as mulheres socialistas e a Comuna de Paris. Marxismo feminista, 2021, Disponível em: https://marxismofeminista.com/2021/03/19/terremoto-de-genero-as-mulheres-socialistas-e-a-comuna-de-paris/?fbclid=IwAR0aT3C0UUttMYjenghuXWZvhN09pHmsrkb7yKDLZGBpdAPvw-AIGiRlFv8
[4] Marcelino, Giovanna. 8 de março, revolução russa e o protagonismo das mulheres. Revista Movimento, 2017. Disponível em: https://movimentorevista.com.br/2017/03/8-de-marco-revolucao-russa-feminismo-mulheres/
[5] Marcelino, Giovanna. Capitalismo, reprodução social e uma agenda feminista para a crise. Revista Movimento, 2020. Disponível em: https://movimentorevista.com.br/2020/05/capitalismo-reproducao-social-e-uma-agenda-feminista-para-a-crise/
[6] Bhattacharya, Tithi. O que é a teoria da reprodução social? Outubro, n. 32, 2019.
[7] Loureiro, Isabel. Rosa Luxemburgo e o feminismo. Marxismo feminista, 2020. Disponível em: https://marxismofeminista.com/2020/08/24/rosa-luxemburgo-e-o-feminismo/#_ftnref5
[8] Zetkin, Clara. Apenas junto com as mulheres proletárias o socialismo será vitorioso. MIA, 2012. Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/zetkin/1896/10/16.htm
[9] Ver “A proletária” e “Direito de voto das mulheres e luta de classes”. Em: Luxemburgo, Rosa. Rosa Luxemburgo: Textos escolhidos I. São Paulo, Editora UNESP, 2017 e “Senhoras e mulheres”. Gazeta Ludowa, n. 48, 1904. Disponível em: https://frl.rosalux.org.br/senhoras-e-mulheres/
[10] Marx, Eleanor & Aveling, Edward. A questão da mulher do ponto de vista socialista. Marxismo feminista, 2021. Disponível em: https://marxismofeminista.com/2021/01/16/a-questao-da-mulher-de-um-ponto-de-vista-socialista-eleanor-marx-e-edward-aveling/
[11] Schneider, G. (org.). A Revolução das Mulheres: emancipação feminina na Rússia soviética. São Paulo: Boitempo, 2017.
[12] Lise Vogel, em Marxism and the oppression of women, expressa uma opinião muito parecida, ao constatar que a melhor fonte para a compreensão da opressão das mulheres não estaria no discurso explícito que Marx, Engels e a tradição socialista desenvolveram sobre esta questão, mas naqueles insights teóricos mais gerais que versam sobre a organização social da força de trabalho e do capital. Assim, na proposta de Vogel, as feministas deveriam deslocar sua atenção da ideia vaga de “questão da mulher” presente nos textos da tradição socialista para o exame dos escritos de economia política do Marx (especialmente seus escritos sobre a reprodução da força de trabalho), que representariam um dos campos mais frutíferos para compreender a opressão das mulheres e a forma como ela estrutura e é estruturada pelo sistema capitalista.
[13] Isso acontece pois o salário pago aos homens trabalhadores indiretamente inclui em sua conta também o trabalho doméstico feito pelas mulheres, tornando a dominação patriarcal muito eficaz, pois o salário confere poder ao homem como provedor da casa, ao mesmo tempo em faz com que o trabalho das mulheres não seja visto como trabalho, mas como “amor” e assistência, de forma a garantir que o homem possa dominar e controlar o corpo das mulheres dentro da família.
[14] Loureiro, Isabel. Rosa Luxemburgo e o feminismo. Marxismo feminista, 2020. Disponível em: https://marxismofeminista.com/2020/08/24/rosa-luxemburgo-e-o-feminismo/#_ftnref5
[15] Lukács, G. “Rosa Luxemburgo como marxista”. Em: História e consciência de classe: estudos sobre a dialética marxista. São Paulo: Martins Fontes, 2012.