Nadya Araújo Guimarães recebeu a homenagem por suas contribuições ao campo do “cuidado” durante o 47º Encontro Anual da Anpocs, em Campinas
Neste ano, Nadya Guimarães foi premiada ao lado de outras duas mulheres, cada uma delas representando uma das três áreas clássicas das ciências sociais. A cerimônia de premiação aconteceu durante o 47º Encontro Anual da Anpocs, realizado nesta semana em Campinas.
Na cerimônia, a reconhecida socióloga Helena Hirata destacou a contribuição de Nadya à sociologia a partir da elaboração de conceitos e categorias como o “circuito de cuidado” e o cuidado como profissão, obrigação ou ajuda.
“Eu conheci a Nadya nos idos de 1980, em um seminário que organizei na USP sobre processos de trabalho com especialistas de todo o Brasil sobre esse tema. Ela veio da Bahia para enriquecer esse seminário com as pesquisas sobre o pólo petroquímico de Camaçari e a questão das identidades operárias”, contou Helena, que também lembrou da parceria das duas pesquisadoras em trabalhos e cursos sobre temas como desemprego e divisão sexual do trabalho.
Nadya disse sentir-se honrada em receber o Prêmio Anpocs de Excelência Acadêmica Antônio Flávio Pierucci em Sociologia, cujo nome homenageia seu falecido colega no Departamento de Sociologia da FFLCH. A docente dedicou o prêmio a seus orientadores: Glaucio Ary Dillon Soares, Barbara Freitag e Ruy Mauro Marini.
“Uma trajetória se constrói de escolhas. Escolhas que são e que devem ser individualmente assumidas em suas boas e em suas más consequências. Entretanto, se as escolhas são solitárias, a possibilidade de chegar até elas é sempre partilhada”, disse a homenageada na categoria da sociologia. “Com frequência, apenas nos damos conta, depois, que perseguimos caminhos porque admiramos pessoas que antes o trilharam, ou admiramos o seu modo de trilhá-los, o seu modo de ser, e nele nos espelhamos. Assim, ao receber esse prêmio, eu gostaria de partilhá-lo com algumas dessas pessoas que foram, e continuam sendo, os meus faróis”, completou.
Especialista em sociologia econômica e do trabalho, Nadya Guimarães atuou no movimento estudantil de Salvador durante a juventude e migrou da história para as ciências sociais na graduação. É mestre em Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB) e doutora na mesma área pela Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM). Fez pós-doutorado no Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos. Lecionou na UnB e na Universidade Federal da Bahia (UFBA), ingressando como docente na USP em 2002.
Atualmente, é professora titular sênior da FFLCH e pesquisadora do Cebrap, onde coordena a equipe brasileira do projeto Who Cares?, que se propõe a contribuir com a construção das políticas de cuidado pós-pandemia. Publicou os livros Trabalho flexível, empregos precários?, vencedor do prêmio Jabuti em 2009, e Caminhos Cruzados: Estratégias de Empresas e Trajetórias de Trabalhadores, fruto de sua tese de livre docência.
Mulheres da antropologia e da ciência política
No evento, também foram homenageadas a antropóloga Beatriz Góis Dantas, professora emérita da Universidade Federal de Sergipe (UFS), e a cientista política Evelina Dagnino, professora titular colaboradora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Homenageada com o Prêmio Anpocs de Excelência Acadêmica Gilberto Velho em Antropologia, Beatriz Góis Dantas começou sua carreira acadêmica na década de 1960 e participou da criação dos programas de pós-graduação da UFS. Fez contribuições à pesquisa e docência em temas como folclore, cultura popular, religiões afro-brasileiras e relações étnico-raciais.
“Foi a primeira pessoa que eu conheci que recusou que seu mestrado aqui na Unicamp fosse imediatamente transformado em doutorado. E essa recusa até hoje eu tenho dificuldade de entender”, disse Manuela Carneiro da Cunha, professora da FFLCH, que apresentou a pesquisadora premiada na categoria da antropologia.
Um dos trabalhos mais impactantes de Beatriz trata do conflito fundiário em torno das terras dos indígenas Xocó. A pesquisa da professora sergipana fundamentou a argumentação da Comissão Pró-Índio em defesa dos direitos dos povos originários e deu origem ao livro Terra dos índios Xocó: estudos e documentos, em coautoria com Dalmo Dallari. Manuela lembrou também que pesquisas de Beatriz inspiraram a fundação do Núcleo de História Indígena e do Indigenismo da USP, em 1986.
Por sua vez, a homenageada com o Prêmio Anpocs de Excelência Acadêmica Gildo Marçal Brandão em Ciência Política tem sua trajetória marcada pelo compromisso com a construção da democracia no Brasil e a crítica a uma visão essencialista da sociedade civil como um polo virtuoso que seria contraposto a um Estado autoritário e corrupto. Como lembrou Luciana Tatagiba, professora da Unicamp que foi orientanda de Evelina Dagnino na pós-graduação, tal posicionamento está no cerne do conceito de “projeto político”, cunhado pela docente premiada na categoria da ciência política para explicar como as ideias políticas que motivam a ação coletiva e as decisões estatais perpassam tanto a sociedade civil quanto os políticos e a burocracia – o que implica em reconhecer que existem democratas e autoritários tanto na sociedade civil quanto em cargos estatais.
Formada em jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Evelina fez mestrado em ciência política na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e doutorado na mesma área na Universidade Stanford, nos Estados Unidos. Na época, pesou na decisão de estudar no exterior o fato de ter sido presa pela ditadura militar. De volta ao Brasil, a docente influenciou profundamente o programa de pós-graduação em ciência política da Unicamp. Suas obras tiveram impacto internacional importante, algumas delas tendo sido publicadas em mais de 20 países.
“Quero repartir esse prêmio com meus ex-alunos e alunas, meus ex-orientandos e orientadas e também os meus parceiros de pesquisa em vários lugares do mundo, que foram muito importantes na minha trajetória intelectual e pessoal”, disse Evelina ao agradecer à Anpocs pela homenagem.
Confira o vídeo da cerimônia completa no Youtube.
fonte: https://jornal.usp.br/diversidade/professora-da-usp-recebe-premio-de-excelencia-academica-em-sociologia/