Às vésperas do Dia Internacional da Mulher, o jornal Correio Braziliense joga luz naquelas que travam a luta diária para criar os filhos sem o apoio paterno, passando valores e abrindo mão das próprias vontades para garantir um futuro melhor para a família
Ser mãe solo é assumir a criação dos filhos, um desafio árduo e prazeroso para muitas mulheres que lidam com todas as responsabilidades, tanto financeiras quanto afetivas. Jogar luz nessas pessoas que muitas vezes abrem mão das próprias vontades para se dedicarem aos cuidados de uma criança é imprescindível em qualquer data do ano, principalmente no Dia Internacional da Mulher, celebrado neste próximo dia 8.
Se criar um filho, para muitos, é o maior desafio que alguém pode enfrentar na vida, imagine ser responsável, sozinha, por três. É o caso de Cristiane Ferreira Santana, 48. Atualmente, a moradora do assentamento Miguel Lobato, próximo a Planaltina, tem mais sossego porque todos já são adultos e ela já é avó do pequeno Pedro, de 3 anos. Mas não se esquece do que passou. "É algo que só os mais fortes conseguem encarar, mas não é impossível", assegura a técnica em enfermagem.
Quando se fala de maternidade solo, é inevitável mencionar as renúncias. "Tive que deixar de sair e me divertir várias vezes. Concluí o ensino médio apenas aos 30 anos. O diploma em técnica de enfermagem foi aos 41", conta Cristiane, que nunca abandonou o sonho de ter uma graduação. Hoje, ela trabalha como cuidadora de idosos, mas, no passado, tirava do trabalho doméstico o sustento dos filhos, ainda pequenos. "Eu pagava uma moça para cuidar deles. Quando ela não podia, levava os pequenos para o serviço", recorda.
Segundo Cristiane, o maior desafio foi ensinar o certo e o errado. No entanto, ela garante que eles não lhe deram trabalho. "Todos foram criados na base dos princípios cristãos", relata. Carregar toda essa carga sozinha teve os seus custos. "A mais velha, que hoje tem 32 anos, teve que começar a trabalhar mais cedo, antes dos 15, como menor aprendiz no Conjunto Nacional, para ajudar em casa".
A cuidadora não tem embaraço para falar de onde mora com os dois filhos mais novos, um rapaz de 24 e uma moça de 22. "Aqui em casa é bem simples, barraco de madeira mesmo, mas é nosso. Morei a vida inteira de aluguel e agora estamos em processo de regularização do nosso cantinho", orgulha-se. "No 8 de março, desejo às mulheres que procurem força dentro de si. Para as que eu conheço, desejo um dia de beleza, com direito a cabelo, pele, sapato, roupa e sorriso bonitos. A mulher valoriza muito isso, mas muitas não têm condições, ou só conseguem se arrumar mais em datas especiais, como no Natal. Eu mesma gostaria de um dia de beleza", revela.
Correria
Ao passo que Cristiane já se encontra em uma fase mais sossegada, com os filhos crescidos, Aline Vieira da Silva, 29, ainda está segurando a barra de criar três meninos, de 13, 9 e 6 anos, e uma menina de 8. O pai do mais velho não aparece desde que ele tinha 5 anos. O dos três mais novos renunciou das obrigações paternas há três anos. Hoje, Aline mora com os quatro em Santa Maria.
Uma das grandes dificuldades enfrentadas pela mãe é equilibrar a rotina de forma que ela consiga trabalhar e dar a atenção necessária aos pequenos. "A avó (mãe de Aline) ajuda a cuidar deles quando ela vem para Brasília. Ela mora em Niquelândia (GO). Quando ela não está, tenho que deixá-los com minha irmã ou sozinhos. Não consigo pagar uma cuidadora para isso. Para o serviço, geralmente é cobrado R$ 150 e minha diária é de R$ 60", lamenta Aline.
Para garantir o sustento da prole, Aline trabalha como vendedora em uma distribuidora no Jardim Céu Azul, no Entorno, durante a noite. Às vezes ela chega em casa de madrugada. O filho mais velho estuda de tarde e os três mais novos pela manhã. "Eu tento ao máximo não levá-los para o meu serviço, porque é um ambiente onde tem muita bebida alcoólica, o que não é saudável para eles. No entanto, muitas vezes é a única opção".
Da memória, ela puxa os episódios em que o filho de 9 anos teve que ir ao hospital, por causa da bronquiolite. "Quando um adoece, é muito difícil dar atenção para ele e cuidar dos outros ao mesmo tempo. Quando levo os irmãos comigo para o hospital, eles são barrados na entrada", conta Aline, que já foi artesã e trabalhou na construção civil para botar o pão na mesa. Como vendedora, ela ainda sonha em engatar a carreira na área de marketing digital. "O que eu desejo para as mulheres é mais igualdade, mas não só no trabalho, mas na divisão de tarefas dentro de casa. A mãe também precisa descansar", desabafa.
Moradora do Setor O, em Ceilândia, Maria Madalena Dias Pereira, 49, trabalha diariamente para dar o melhor para o filho Isac Dias, 16, desde que o pai do adolescente faleceu há seis anos. "Ser mãe solo foi muito difícil e assustador para mim", comenta a manicure. Ela conta que sofreu com crises de ansiedade e depressão, mas que atualmente vive mais tranquila e focada. "Preocupação do dia a dia de dar o melhor para o filho", ressalta.
Além de Isac, Madalena também é mãe de Vitória, de 26 anos, que veio de Minas Gerais para morar com a mãe e estudar. A manicure se define como uma mulher trabalhadora e esforçada. "Meu maior desafio de criar meu filho solo foi o de não ter tido apoio da família e um suporte. Eu fiquei totalmente sozinha, mas Deus me ajuda e estou de pé", destaca. O sonho de Madalena é ver os filhos formados.
Conceito ultrapassado
Muito utilizada, há tempos atrás, a expressão "mãe solteira" caiu em desuso e não se reflete nas mães que são as únicas responsáveis pelos filhos. No conceito ultrapassado, o termo associava a maternidade a um estado civil e não acolhe a pluralidade de situações envolvendo "ser mãe'. Portanto, atualmente, usa-se "mãe solo".
Apoio às mães
Muito utilizada, há tempos atrás, a expressão "mãe solteira" caiu em desuso e não se reflete nas mães que são as únicas responsáveis pelos filhos. No conceito ultrapassado, o termo associava a maternidade a um estado civil e não acolhe a pluralidade de situações envolvendo "ser mãe'. Portanto, atualmente, usa-se "mãe solo".
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