Quase lá: Meninas estão menstruando cada vez mais cedo em diversas partes do mundo

Paulo Saldiva diz que “há tempos os cientistas têm informações de que poluentes, alimentos e recipientes plásticos podem conter contaminantes chamados de disruptores endócrinos”

Jornal da USP Publicado: 31/07/2024

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Menstruação precoce pode resultar em mais problemas de saúde em mulheres mais jovens – Fotomontagem Jornal da USP com imagens de: Freepik
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Há algumas décadas verificou-se, a partir de evidências científicas, que alguns contaminantes presentes em alimentos, recipientes de plástico e poluentes atmosféricos podem causar alterações nos níveis de hormônios sexuais. Nos Estados Unidos estima-se que as meninas nascidas no início de 2000 começaram a menstruar por volta dos 11 anos, assim como acontece no Brasil. Já na China, a idade é ainda menor, por volta dos 7, 8 anos. 

Paulo Saldiva – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
 
 

“Essa menarca, ou primeira menstruação antecipada, pode levar a problemas de saúde como câncer de mama, que tem ocorrido cada vez mais em mulheres jovens”, destaca Paulo Saldiva, professor titular do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP. Ele cita que “existem estudos de maior porte apontando que algumas doenças, alguns efeitos fisiológicos dos nossos hormônios sexuais podem estar com seu relógio alterado. Estudos conduzidos na Ásia apontam que a idade da menarca vem ocorrendo antes do tempo, é como se o relógio da maturação sexual estivesse correndo mais depressa”.

Contaminantes

Essa menarca precoce tem como resultado mulheres mais jovens apresentando câncer de mama, em alguns casos, mais agressivos. Vale lembrar que esse tipo de câncer possui hormônios receptores para hormônios sexuais, inclusive estrógeno. “É como se nesse cenário químico, nesse produto de novos compostos que inalamos, ingerimos, seja por alimentos ou por água, nós estejamos recebendo como se fosse uma suplementação de estrógeno, como se fosse um comprimido de estrógeno. Como a gente faz, por exemplo, em algumas circunstâncias para combater os sintomas da menopausa”, explica o professor Saldiva. Ele também lembra que estamos expostos a muitos produtos químicos e seria necessário uma mudança na saúde coletiva, reforçando a produção de alimentos mais saudáveis, livres de compostos químicos que são utilizados para várias finalidades e também para usarmos combustível que não sejam de origem fóssil.

Segundo o médico, “nosso tempo é de muita exposição a novos agentes e vai ser muito difícil se descobrirmos efeitos tardios, inconvenientes, décadas depois”. Há tempos os cientistas têm informações de que poluentes, alimentos e recipientes plásticos podem conter contaminantes chamados de disruptores endócrinos, que interferem com alguns hormônios, principalmente o estrógeno. 

Estimulação

Leila Salomão – Foto: Sites USP

 

Leila Tardivo, professora do Instituto de Psicologia da USP, acrescenta que tem ocorrido um excesso de estimulação e pressão social que estaria contribuindo para uma menstruação antecipada. Leila complementa que, com esse excesso de estimulação, a criança brinca menos. A própria sexualidade exacerbada e a pressão social acabam levando à diminuição da idade da menarca. Isso atesta as mudanças pelas quais a humanidade vem passando.   

“De fato é preocupante porque as consequências não são boas, do ponto de vista físico. Por exemplo, diminui o crescimento, há uma exposição maior e um risco maior de gravidez precoce. Se a criança não é um adolescente pode se envolver sexualmente sofrendo até abusos sexuais. Então há riscos grandes e ao mesmo tempo uma diminuição na idade de concepção. Então pode vir uma menopausa precoce” explica a psicóloga. Ela ainda destaca que alguns médicos, preocupados com o crescimento ósseo, buscam retardar essa menstruação precoce com o uso de medicamentos.


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fonte: https://jornal.usp.br/noticias/meninas-estao-menstruando-cada-vez-mais-cedo-em-diversas-partes-do-mundo/

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