Com 22 anos, Ana Júlia Ribeiro é a parlamentar mais jovem a assumir a Assembleia Legislativa do Paraná e do Partido dos Trabalhadores. Conversamos com a estudante de Direito e Filosofia sobre sua trajetória política desde a Primavera Secundarista, o golpe de 2016 até o atual momento onde a renovação da esquerda começa a romper os muros e ameaçar as velhas oligarquias.
No começo, uma liderança do movimento estudantil. Agora, deputada estadual. Em 2022, Ana Júlia Ribeiro, uma jovem militante socialista e estudante de Direito e Filosofia, se elegeu deputada pelo estado do Paraná, com cinquenta mil votos.
Entrevistamos a mais nova representante da geração Z no Parlamento brasileiro para falarmos sobre as eleições, suas percepções da atual conjuntura política brasileira e o futuro da esquerda no país.
A trajetória política da parlamentar começou durante a Primavera Secundarista, movimento iniciado em 2016 de ocupações em escolas secundaristas contra a precarização estudantil e o golpe contra Dilma Rousseff. Desde então, ela acompanha diversos movimentos sociais e seguiu com a linha de ativismo pela educação.
JB
Como uma jovem militante da esquerda disputando a política eleitoral — sobretudo no Paraná, um estado com atuação forte da direita e no qual o bolsonarismo tem capilaridade — como foi disputar essa eleição? E qual o significado da sua vitória?
AJR
A disputa não foi fácil — tanto por questões pessoais, quanto por questões políticas. Infelizmente, o estado do Paraná atualmente possui um viés político muito à direita, com forte influência do bolsonarismo. É um local onde a juventude costuma apenas ter espaço na sociedade quando é herdeira de algo, seja capital financeiro ou político.
A surpresa é que na eleição de 2022 conseguimos eleger novos nomes e quadros no campo progressista. Mas não é fácil ser uma militante jovem de esquerda nessa atmosfera ideológica. Sofri com muita perseguição e xingamentos, mas aprendi a lidar com isso durante o processo.
Em 2021, vivíamos uma política totalmente polarizada. No Paraná, pertencemos a uma minoria. Durante a metade de 2022, passamos por um momento muito difícil politicamente, onde um de nossos companheiros, o militante e dirigente do PT no estado, Marcelo Arruda, foi brutalmente assassinado por um bolsonarista. Isso amedrontou e assustou a base militante da esquerda, além de todos os simpatizantes do partido.
O assassinato de Arruda criou um cenário desafiador. Não dava para saber ao certo se a campanha ia bem ou não, era difícil avaliar a real dimensão do tamanho da campanha. Sentíamos um medo constante de sair na rua para atividades de campanha, e notei um sentimento de preocupação com a equipe trabalhando conosco.
Desde a minha primeira campanha como vereadora, decidimos fazer uma batalha de posicionamento explícito: é uma campanha classista, de viés classista. Repeti isso em todos os espaços, sempre que possível, e até mesmo em locais muito conservadores que fui. Foi uma luta de renovação política, concentrada na questão de classe, além de transição geracional.
Trouxe sempre a imagem de Lula, agora presidente eleito, além do legado do PT nas lutas sociais. Há uma certa facilidade para abordar essas questões com outros campos da sociedade, justamente por ser jovem e não ter um desgaste acumulado com a polarização política. Por isso, consigo chegar em vários espaços, até mesmo naqueles em que o PT possui uma maior dificuldade em alcançar, mas nunca deixo de falar sobre o que o partido defende historicamente.
Sobre a vitória, admito que fiquei surpresa com o resultado. Trabalhamos e nos esforçamos muito para consegui-la, elaborando a campanha de maneira propositiva e ideológica. Nesse contexto, as ocupações secundaristas de 2016 são muito importantes, já que são o começo de minha trajetória política.
No estado do Paraná, a Primavera explodiu: foram 850 escolas ocupadas em meio a um cenário de polarização delicado. Apesar da tentativa da direita em demonizar os movimentos sociais, reafirmamos as pautas e usamos a mensagem de “uma nova primavera”, partindo da ideia das primaveras revolucionárias.
Notamos uma insatisfação geral com a política no estado, algo que favorece o surgimento de novos quadros. Precisamos de uma transição no nosso meio progressista, transição esta que não pode ser hereditária — de pai para filho, de herdeiro para herdeiro —, mas uma que valorize princípios, pautas e histórias de luta, que, ao mesmo tempo, se renovam e abarcam novas pautas.
Trabalhamos muito para ganhar em um cenário de profunda desigualdade, mas não esperávamos que fosse um sucesso tão grande, com uma votação tão expressiva. A ficha ainda não caiu totalmente, sobretudo por termos conseguido eleger uma bancada muito forte do partido, onde passamos de quatro para sete parlamentares eleitos — mostrando a vitalidade de uma esquerda que pode sempre se renovar.
JB
Àqueles fora do Paraná, o cenário político para muitos é o estado ser extremamente conservador. No entanto, a região possui um belo histórico de luta popular — o Movimento dos Sem Terra, por exemplo, nasceu justamente no Paraná. Agora, o estado passa por um importante processo de renovação geracional na política progressista, elegendo alguns novos parlamentares de esquerda para o Congresso.
Você se entende como parte de um processo de reorganização da esquerda brasileira?
AJR
Com certeza.
Em 2022, conseguimos eleger uma bancada muito forte que dialoga com a juventude trabalhadora, com pessoas como Renato Freitas e a Carol Dartora, ambos participando desse processo de renovação. É apenas o começo do que pretendemos com a transição geracional, sobretudo para que a construção partidária dos últimos quarenta anos não deixe de existir — até porque se não há novas pessoas para passar o legado, inevitavelmente esse legado deixa de existir, em algum momento.
Desde 2016, o Paraná participa desse processo. Após o golpe contra a Dilma, o estado começou um movimento contrário: a onda de ocupação escolares. Foram 1500 escolas ocupadas nacionalmente, 850 delas paranaenses.
“A Primavera Secundarista não era um movimento partidário e nunca foi, mas havia uma pauta política muito bem definida: um enfrentamento ao governo Michel Temer. Óbvio que houve algo diferente aqui, despontou, e criou lideranças fortes.”
Fora isso, a presidenta do PT nacional, Gleisi Hoffmann, tem um papel de destaque na política partidária brasileira. Nas eleições municipais de 2020 em Curitiba elegemos 3 vereadores: a professora Josete, Renato Freitas, um militante da periferia de Curitiba, e Carol Dartora, a primeira mulher negra na câmara de vereadores de Curitiba. Há várias explicações para essa mudança no cenário político.
Existe um vácuo na política estadual, e as pessoas estão procurando desesperadamente por algo diferente. Dá para sentir esse desejo por renovação, que abrace a pauta de classe, de gênero e raça. Por esse motivo, é preciso conseguir equilibrar essas propostas, sem dizer que só uma delas é importante e as outras não.
Há também, claro, um desgaste dos nossos quadros tradicionais. Isso é normal na política, e imagino que seja até mais acelerado no campo progressista, porque somos, ou deveríamos ser, os anti sistêmicos de verdade. Somos os contra-hegemônicos, sempre se batendo com as injustiças e desigualdades estabelecidas.
Por esses motivos, além de outros, a política agora abarca uma nova geração de jovens que querem abraçar outras pautas e precisa de outros representantes. Essa necessidade abre espaço para essa renovação. O principal, apesar das dificuldades, é que as pessoas querem ter esperança na política. Geralmente, goste-se ou não, a esperança vem de algo novo, diferente, inusitado, algo mais experimental. E isso só a juventude pode fazer.
JB
Você participou ativamente do processo de ocupação das escolas, que se alastrou como um incêndio no Paraná, mobilizando muita gente e formando uma nova geração de militantes. Houve algum momento em que você parou e pensou: meu lado é o da classe trabalhadora, sou socialista?
AJR
Sim, mas antes mesmo das ocupações.
Já bem cedo identifiquei como queria me posicionar politicamente. A minha posição seria nesse projeto político, e isso sempre esteve claro para mim que o meu projeto político era o da classe trabalhadora. Nunca houve um momento de dúvida em relação a isso. Sempre soube meu espaço na sociedade. Ao lado daqueles que vivem e sobrevivem pelo esforço e pelo fruto do suor da exploração do seu trabalho.
O momento das ocupações mudou a minha vida, tanto pessoalmente quanto politicamente. Antes dos protestos, era uma pessoa com outra perspectiva, gostava de debater política e tinha vontade de me envolver no assunto, mas acabava não me envolvendo em nada. Levava um cotidiano em que pesquisava muito sobre movimentos sociais e pensava que um dia participaria, mas apenas quando estivesse na faculdade.
Quando as ocupações começaram, tinha muito receio. Pensava que meus colegas de escola não iam querer participar do movimento, e não me via como uma liderança. Mas, inevitavelmente, comecei a passar nas salas de aula, pautando a nova Reforma do Ensino Médio e dando aulas sobre as mudanças na legislação.
Passei a mobilizar os estudantes e, quando me dei conta, estava envolvida. Foi uma mudança drástica, uma vez que deixei de ser uma adolescente, não tive essa etapa da minha vida. Gostaria de ter aproveitado mais essa fase.
Pela força e tamanho do movimento, exigia uma maturidade e responsabilidade política que, naquele momento, não sabia se tinha. Mas, acreditaram em mim. Renunciei ao restante da vida para responder àquilo que acreditava — que era o tamanho do movimento e a dedicação que isso exigia. Isso me colocou em outro patamar.
Estar na política me trouxe uma responsabilidade muito maior do que colegas da mesma idade. Sempre tive a firmeza de tentar ao máximo e responder à altura do que me era demandado, porque tinha a compreensão de que não dizia respeito apenas a mim, mas algo muito maior.
As ocupações secundaristas trouxeram um processo de formação muito forte para os estudantes que participaram do movimento, justamente pelo tamanho da responsabilidade e a conjuntura política de 2016. Era um debate muito mais profundo sobre educação e foi um processo de aprendizado, de militância política, de atuação no espaço público, que maravilhou todos.
Durante essa campanha eleitoral fui surpreendida, porque encontrei muitos dos que ocuparam escolas falando que aquele momento os ajudou a definir sua graduação, ou que definiu seu interesse pela política.
As ocupações também mobilizaram muitos jovens no interior do Paraná. Observamos durante nossa caminhada como a Primavera das ocupações criou pequenas sementes de esperança e de como isso era uma lembrança forte na vida de muitos.
JB
Você é de uma nova geração política forjada à quente na retomada das lutas de massas e nos enfrentamentos de rua. Há também a resistência contra o golpe de 2016 e após isso contra as gestões de Michel Temer e Jair Bolsonaro. É uma geração atualmente, também constata a necessidade de ocupar espaços institucionais. O que você pensa sobre a transição do movimento militante para a política eleitoral-partidária? Além disso, qual é o papel de um militante socialista no Parlamento brasileiro?
AJR
Concordo com sua análise. Fui forjada a quente, me vi na necessidade de disputar as instituições — e acredito que precisamos disputar! Não podemos cair na história que o voto não muda nada, porque a política institucional é um espaço de representação do povo e um espaço do pensamento político. É algo muito curioso a atuação de um militante socialista no Parlamento, e acredito que descobrirei mais sobre isso nos próximos meses, quando assumir o cargo parlamentar.
É preciso atuar na política institucional sabendo a sua história, de onde você veio, como um parlamentar que também é militante. É necessário recuperar essa característica do Legislativo, e deve ser uma tarefa prioritária para os socialistas, uma vez que, para nós, é interessante a política participativa.
Além disso, acredito ser necessário a humildade de reconhecer que não é o parlamentar que vai pautar os movimentos sociais. No entanto, como congressista, é preciso reconhecer que não será você que pautará os movimentos sociais e tomará a frente deles. Não pode, e não será, você que dirá o que eles vão ou não fazer. Tenho muito cuidado em relação a isso. É preciso também entender que a atuação legislativa é de desafio. É o desafio de levar pautas para frente, conversar com outros parlamentares e diminuir danos. Quero e busco conduzir um mandato combativo e atuante, que coloque os dedos na ferida, mas também serei propositiva.
Só podemos fazer isso se mobilizarmos as nossas bases de maneira forte o suficiente para tal, de forma que acompanhem os processos, façam pressão popular e debatam pautas, tornando-as mais concretas. O Parlamento se move conforme as demandas populares.
Minha tarefa é bater de porta em porta, nem que seja para escutar um não. Essa é a tarefa que me foi passada, então isso é o que farei. É a minha responsabilidade. Não podemos desassociar a atividade legislativa de uma atuação combativa e socialista, e isso para mim importa bastante. Como uma representante do povo no Parlamento, os erros nas políticas públicas também são nossa responsabilidade, por fazermos parte da instituição.
É preciso ter esse exercício e certamente é difícil, porque a política parlamentar é algo muito maior do que o individual, do que a Ana Júlia ou minhas vontades pessoais. Será um desafio compreender toda essa conjuntura, mas assumo o compromisso de ir da maneira mais combativa e dedicada possível para fazer o que for necessário para que pautas importantes avancem.
JB
Quais serão as principais bandeiras do seu mandato parlamentar?
AJR
Minha principal pauta sempre foi a educação pública e ela será a principal pauta do mandato também. Sempre defendi um projeto de educação pública emancipadora, laica, gratuita e equitativa, socialmente referenciada. Uma educação crítica, que prepare para o mercado de trabalho, mas que prepare principalmente para o desenvolvimento humano cidadão das pessoas, que trabalhe a integralidade das pessoas. Essa é a educação pública que acredito, defendo. Ao falar de educação pública, falo de orçamento, concepção de Estado. É pensarmos a sociedade que queremos.
A distribuição de renda tem que ser uma tarefa da escola pública, tem que ser prioritário, não tem como. Não tem como eu falar de uma sociedade mais igualitária sem passar por um debate muito amplo de acesso e permanência na escola, de ter essas pautas debatidas.
Por melhor que seja a educação privada que você esteja, a educação pública é melhor, porque a educação pública está preocupada com o desenvolvimento da sociedade. A educação pública está preocupada não apenas como você chega lá, mas como todos vão chegar lá. Ela quer e deve dar as mesmas oportunidades para todo mundo, não importa qual o sobrenome.
A falta de acesso a uma educação pública e de qualidade grita, aos olhos da população, que alguns são dispensáveis, já que não devem ter acesso ao mínimo. Ao mesmo tempo que o ensino público pode ser muito inclusivo, também pode ser excludente.
Por isso vejo como necessário debater qual a concepção de educação pública que o Estado defende. Não há como haver uma educação emancipadora e amplamente acessível sem o papel estatal, isso não será feito pela iniciativa privada no Brasil. Se há por trás da educação o benefício da filantropia ou do benefício econômico, de marca, já não é pela emancipação do povo, mas pelo ganho pessoal de alguém.
No fim, o que desejo é uma sociedade socialista, e esse fim apenas é alcançável através da educação pública, porque ela é a única ferramenta possível e capaz de estar presente na vida de todos.
“Os processos de trabalho nos formam, nos dão consciência, mas a educação faz muito mais que isso. Ela traz a concretude.”
Pensando no estado do Paraná, a situação da educação pública é aberrante. O governo do estado já está atuando na implementação da reforma do ensino médio, um absurdo por si só. Com a implementação do ensino técnico profissionalizante o governo está na prática terceirizando a competência das escolhas públicas para instituições privadas.
Uma instituição privada fez uma parceria com o governo do estado para gravarem aulas, que são transmitidas na sala de aula por meio de televisões. Para o público geral, isso talvez não pareça um enorme problema, mas é uma terceirização dos professores. Nesse projeto, o mais perverso é que ele rouba o acesso à educação. Por quê? Porque não há acesso à educação se não existe o direito à dúvida, de questionar e receber uma segunda explicação, de haver um diálogo.
JB
Ao nível global, observamos um processo de crise do sistema político e neoliberalismo, enquanto a emergência da extrema direita é um sintoma dessa crise. No entanto, parece que a extrema direita consegue capitalizar mais da crise do sistema do que a esquerda, que seria, em suas palavras, os verdadeiros anti-sistema.
Em sua experiência vivenciando um processo de politização em meio a essa crise política, você conseguiu importantes vitórias. O que você acredita que falta na estratégia da esquerda brasileira — ou até mundial — no sentido de conseguir avançar sua própria alternativa, em vez de ficar a reboque, quase que reagindo ao avanço da direita.
AJR
Todos queremos saber a resposta dessa pergunta.
Concordo com a análise. Somos os verdadeiros anti-sistema e, nesse momento, não conseguimos capitalizar esse sentimento de revolta e insatisfação. Não sei como responder a essa pergunta, mas também tenho alguns questionamentos acerca do problema. Até que ponto as nossas flexibilizações ajudaram e nos atrapalharam?
As pessoas nascem no capitalismo e isso é toda a vida delas, por completo. Vão para a escola, trabalham, e a lógica capitalista se encontra até em suas relações sociais, na igreja. É isso o tempo inteiro, e se torna impossível idealizar uma vida fora disso. É assustador. De certa maneira, acredito também que nós não conseguimos apresentar, muitas vezes, a complexidade do problema para essas pessoas.
“Compreendo que a direita sempre foi o setor dominante. Eles amenizaram seu discurso ao longo das décadas, sobretudo por haver um apelo social maior para que isso fosse feito, mas não deixaram de ser dominantes em nenhum momento.”
O capitalismo é tudo — ele é econômico, social, cultural e familiar —, e não possuímos um sistema completo para apresentar como alternativa, porque também não tivemos a possibilidade de exercer esse sistema. Pelo capitalismo ser onipresente, se torna difícil para alguns compreender que algo a mais seria possível e alcançável. Não conseguimos traduzir esses sentimentos direito e nem implementar caminhos alternativos.
Isso reforça muito o discurso da extrema direita, uma vez que eles têm uma pauta forte naquilo que é palpável, da vida cotidiana. Eles usam exemplos cotidianos para criar conspirações e lógicas inexistentes, como a falácia da meritocracia — porque às vezes você trabalha e seu vizinho não, e existe um sentimento de superioridade em se comparar com o outro. Às vezes esses exemplos são de um a cada cem milhões, mas não importa.
A extrema direita trabalha com coisas muito sensíveis e simples de serem compreendidas. Ao longo dos anos, a direita brasileira fez questão de deixar muito claro que eles não fazem política, e apenas estão debatendo o cotidiano e a “realidade” — o que, para eles, não é política. Esse discurso faz com que as pessoas não compreendam que seu cotidiano é política.
É sempre tudo muito complexo, um jogo de Davi contra Golias. No contexto da história brasileira, nós não temos uma memória coletiva muito forte de sermos revolucionários. Isso dificulta a atuação do nosso corpo, tornando complicado explicar e compreender o motivo do poder do capitalismo. Do lado oposto, a extrema direita consegue captar o povo a partir de discursos de ódio em momentos de crise.
JB
Desde o começo da nossa conversa, você definiu sua candidatura como classista, mencionou termos de luta de classes e se posicionou como uma socialista. Nossa última edição da revista impressa se chama “Socialismo do nosso tempo”, e visa pensar qual é o caminho de construção de poder da classe trabalhadora, do campo, dos explorados, oprimidos, das classes subalternas para construir, poder e caminhar para outra sociedade. Minha pergunta final é o que você observa como o futuro do nosso campo?
AJR
Observo a luta de classes é o elemento fundamento do socialismo. Para mim, é indiscutível que ao ser socialista, essa deve ser sua principal matriz. Percebo como prioritário ser prioritariamente classista e inserir isso em debates sobre gênero, racismo, meio-ambiente e pensar conjuntamente um projeto socio-econômico mais sustentável para o planeta.
Acredito que para o socialismo no nosso tempo, é necessário que nós nos modernizemos e alcancemos essas outras pautas — que também são cruciais. Para avançar nesses debates, precisamos tocar nas realidades das pessoas, e vejo o recorte de classe um caminho possível. Mas para isso, é necessário atualizar nosso discurso sobre classe.
O liberalismo já está debatendo essas pautas sociais, que deveriam ser lideradas por nós. Agora, por exemplo, as empresas que devem estar na liderança da revolução ecológica — todo o discurso de créditos de carbono como a solução para a emergência climática. É chocante como esse ponto foi desassociado do debate classista e assimilado ao empresariado. Não podemos nos dar ao luxo de deixar de debater o que está presente na vida dos trabalhadores.
Sobre o autor
é professor da Universidade Federal do ABC e diretor de desenvolvimento da Jacobin Brasil.
fonte: https://jacobin.com.br/2023/02/das-ocupacoes-nas-escolas-ao-parlamento/