Mãe relata que já fez diversas denúncias, no entanto, não é ouvida pelos Poderes. "A vida da minha filha virou um pesadelo", diz ela
Metrópoles
Arquivo pessoal/Vivian Pacheco
Goiânia – Desamparo da Justiça, é esse o sentimento descrito pela biológa goiana Vivian Maria Pacheco, de 40 anos. Mãe de duas meninas, de 13 e 7 anos, ela relata falta de providências tanto da polícia, quanto da própria Justiça, após reiteradas denúncias contra o pai da filha mais nova.
“A Justiça odeia as mulheres. Quando uma mãe faz uma denúncia de abuso na delegacia, ao invés de ser ouvida e acolhida, ela sofre com o descaso, comigo foi assim, nada foi avaliado. Se não vou a delegacia e não denuncio o que está acontecendo com a minha filha, estou sendo omissa, mas se falo, não sou ouvida e sou, de certa forma, ridicularizada e sofro sanções por isso”, afirma Vivian.
De acordo com a mulher, a criança vem sendo vítima de alienação parental por parte do pai, o farmacêutico Jairo Almeida Júnior. A mãe suspeita que o pai abusou sexualmente da garota por causa do comportamento da criança. Vivian acusa Jairo de ter exposto a filha a situações vexatórias e constrangedoras, como cenas de sexo. Ela também afirma que o pai colocou a menina para dormir com pessoas nuas. Segundo ela, mesmo com reiteradas denúncias confirmadas pela própria garota, não foram tomadas as providências legais.
Ao Metrópoles a bióloga relatou que, na tentativa de proteger a criança, que tem a guarda compartilhada, não devolve a menina há cerca de dois meses. A justificativa da mãe é de que a filha sente pânico e repulsa ao ver o pai, que, por sua vez, conseguiu na Justiça um mandado de busca e apreensão para rever a filha.
Veja um vídeo encaminhado ao portal, da tentativa do pai de buscar a criança na escola:
Briga antiga
Conforme o relato de Vivian, ela e Jairo se conheceram em 2014 e mantiveram uma união estável por dois anos. O casal se separou em 2016, quando a filha tinha apenas seis meses de idade. Segundo ela, logo após a separação, entrou com uma ação judicial de guarda e alimentos. Na época, a criança residia com a mãe. O pai fazia visitas supervisionadas aos finais de semana, situação que durou até 2018.
“Em 2018, eu senti necessidade de voltar a trabalhar, já estava há cinco anos em dedicação total as minhas filhas. Eu era concursada e pedi exoneração do cargo para ficar com ela, precisava me atualizar. Esse lapso temporal é devastador para a carreira profissional de qualquer pessoa, então eu me apliquei para um mestrado em Portugal, na minha área de formação e fui fazer esse curso, que tinha duração de 18 meses”, conta ela.
Segundo Vivian, em 2018, ela e Jairo tinham uma relação amigável e fecharam um acordo de que o pai ficaria temporariamente cuidando da filha no período de estudos da mãe. “Fiz 9 meses do curso, regressei a Goiânia, fiquei 3 meses aqui, a minha filha ficou comigo e com a minha família. Em 2019, quando voltei para fazer o segundo ano curricular, começaram os impasses e a alienação. O Jairo e a família dele me acusavam de abandono”, afirma a bióloga.
“Vivemos cotidianamente o machismo estrutural. Eu não estava abandonando a minha filha, estava buscando melhores condições de vida. Na nossa sociedade, se uma mãe deixa uma filha aos cuidados do pai é abandono, mas o inverso é comum e o pai ainda aparece como presente”, lamenta.
De acordo com a mulher, durante todo em que esteve fora do país, fazia questão de se manter presente na vida da criança, no entanto começaram a surgir restrições. “A partir de 2019, começaram as primeiras situações. Eu tinha dificuldade de falar com ela, o pai estabelecia horários complicados em relação ao fuso horário, colocava empecílios para que a gente tivesse contato. Entrei com uma outra ação para regulamentar esse contato. Quando voltei novamente para Goiânia, eles estavam morando em Itumbiara [cidade a cerca de 210 km da capital goiana], com uma distância significativamente menor, mas as dificuldades continuavam, em razão das imposições dele”, conta.
Vivian relatou ao Metrópoles, que o homem criava situações, sem fundamento judicial algum, para impedir a relação entre ela e a filha, mesmo a guarda da criança sendo compartilhada nesse momento. “Para que eu buscasse ela na escola, precisava que alguém da confiança dele fosse lá tirar uma foto da minha filha, antes dela ser entregue a mim, precisava da autorização do diretor da instituição para que eu buscasse. E a situação foi piorando. De 2020 para cá, ela mesmo [a filha] falava que não podia atender, que era vigiada”.
A mãe conta ainda que a criança era levada a lugares inapropriados e não ficava sob os cuidados do pai. “A mãe dele é proprietária de um motel em Itumbiara. Ele viajava e deixava e menina com ela, ela era levada para esse espaço. Ela relatava brigas entre o pai e a namorada dele. Por isso, entre com um novo processo de guarda unilateral, o que piorou a situação, porque ele acirrou as restrições e isso “.
Denúncias
Em 2023, segundo Vivian, a situação se agravou. “A minha filha me relatou que presenciou uma cena de sexo do pai com uma pessoa desconhecida, em um lugar desconhecido, pelas características seria um hotel ou um motel e ela teve que dormir com eles. Mesmo sem saber usar o termo sexo, ela simulou os movimentos para descrever a cena. Ao tomar conhecimento disso, fui até a delegacia fiz um boletim de ocorrência, mas nada foi feito, não houve um inquérito”, detalhou ela.
“Por não ter nenhuma ação da polícia, fiz uma denúncia sobre essa conduta no Ministério Público. E o pior, nesses momento, a minha filha já tinha feito novos relatos de que a situação se repetiu por mais de uma vez. Eu a levei para avaliação psicológica e foi constatado, por meio dos testes aplicados, que a Alice sofreu com voyeurismo, e que o pai teve comportamento omisso e punitivo”, diz a mãe.
Depois disso, a mãe se recusou a entregar a filha ao pai. “Ela [a filha] está comigo desde meados de março. Como eu não a entreguei, ele [o pai] entrou com um mandado de busca e apreensão, que foi concedido sem que o contexto fosse analisado. Para proteger a minha filha, eu procurava não estar em casa nos horários possíveis de ser encontrada pelo oficial de Justiça, porque a minha filha estava com pânico do pai”, ressalta Vivian.
“Em uma dessas situações, eu cheguei a ser detida com a minha filha mais velha, ficamos uma tarde toda detidas, porque eu não quis dizer a escola em que a minha filha estava. Vou responder criminalmente por não ter dado essa informação, mas estava protegendo a minha filha, que está fragilizada, traumatizada e vivendo um pesadelo. Estamos sofrendo uma perseguição. Ele divulgou a nossa foto nas redes sociais dizendo que a filha estava desaparecida, sendo eu tinha total ciência de que ela estava comigo. Fui ridicularizada”, diz ela.
Ainda de acordo com a bióloga, os processos correm muito lentamente. “O MP pediu para ouvir a minha filha, mas o juiz ainda deferiu, não houve audiência. Nessa semana em que ele tentou buscá-la por mais de uma vez, ela ofereceu muita resistência, ela se nega a se aproximar dele. Estão sendo dias terríveis”, completou.
Vivian conta ainda que tem sofrido sanções judiciais. Segundo ela, teve os cartões e a conta bloqueada, o passaporte e a CNH suspensas, além de multa. “Não estamos sendo ouvidas. Estou sofrendo medidas coercitivas para que ela volte para a casa do Jairo. Foi aplicada um multa de R$ 1.000 por dia, tudo foi bloqueado, cheguei a viver uma situação de falta de segurança alimentar mesmo, porque não foi permitido nem que eu retirasse o básico da conta para a nossa sobrevivência, minha e das minhas filhas”, finalizou.
O Metrópoles entrou em contato com Jairo Júnior e com a defesa dele, que informou apenas que o processo corre em segredo de Justiça. “Existe um processo que corre em segredo de justiça e sobre esse assunto ou qualquer outro relacionado ao Jairo e a filha dele será ‘falado/respondido’ apenas dentro desse processo para as autoridades judiciais”, disse a advogada dele, Maiara Prado.
Alienação parental
A situação de Vivian não é a única. O perfil Coletivo Mães na Luta, com mais de 40 mil seguidores nas redes sociais, expõe situações de mulheres que denunciaram violências sofridas pelos filhos e foram acusadas de alienação parental.
Nos últimos meses, a apresentadora Titi Muller chamou a atenção para a situação. Após viver uma situação de silenciamento com o ex-marido, o músico Tomás, Bertoni, ela encoraja mães a denunciarem e fala sobre a lei da Alienação Parental, também conhecida como Lei da mordaça, há que impede mães de denunciarem violência contra si ou contra seus filhos.
fonte: https://www.metropoles.com/brasil/a-justica-odeia-as-mulheres-diz-mae-que-luta-pela-guarda-da-filha