Feitas por mulheres, e para mulheres, as aulas de Karatê buscam desenvolver movimentos de ataque, defesa pessoal e, sobretudo, a saúde mental
Centro de Práticas Esportivas da USP reúne mulheres na primeira turma de Karatê feminino da Universidade - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Camilly Rosaboni
O Centro de Práticas Esportivas (Cepê) da USP reúne mulheres e cria a primeira turma de Karatê especialmente voltada ao público feminino. Os organizadores perceberam uma alta demanda para o curso, sobretudo pela presença numerosa de mulheres em aulas mistas de Karatê. “Nós oferecemos o curso feminino e logo recebemos um grande número de alunas que só estavam esperando uma oportunidade”, conta Paschoal Tambucci, supervisor do curso de Karatê e professor de Defesa Pessoal e Judô no Cepê.
A modalidade feminina de Karatê possibilitou a inclusão de mais mulheres no esporte e permitiu um cenário de acolhimento e representatividade. Atualmente, o curso está com 30 alunas matriculadas, mas ainda é possível se inscrever diretamente com os professores nos horários das aulas: às segundas e quartas-feiras, das 12 às 13 horas, na Cidade Universitária, em São Paulo.
Rosângela Veríssimo - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
“Eu saio das aulas me sentindo empoderada”, afirma Rosângela Veríssimo, técnica administrativa da Escola Politécnica (Poli) da USP e participante do curso de Karatê Feminino. “As turmas mistas são mais difíceis, você sai um pouco mais roxa e parece que os alunos sempre querem te ensinar”, brinca ela.
Amanda Pereira - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
“O fato de ser uma turma feminina me incentivou muito mais a participar”, afirma Amanda Pereira, aluna do curso de Karatê Feminino e de graduação na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. “A gente cria uma comunidade de fato”, complementa.
O curso de Karatê Feminino, de mulheres para mulheres, foi idealizado em uma parceria entre Cepê, Japan Karatê Association do Brasil (JKA-BR) e Federação Paulista de Karatê Tradicional (FPKT). As professoras que ministram o curso são: Adriana Avagliano, representante administrativa do FPKT, e Bruna Queiroga, pesquisadora da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP.
Empoderamento feminino
Apesar das artes marciais serem conhecidas historicamente como masculinas, as mulheres vêm ganhando cada vez mais espaço nas práticas esportivas. Segundo dados do International Brazilian Jiu-Jitsu Federation (IBJJF), em 2021, houve um crescimento representativo de mulheres nas artes marciais, sobretudo no jiu-jitsu, apresentando uma diferença de quase 20% de participação feminina em relação ao ano anterior. No Cepê, a modalidade feminina foi criada devido ao grande número de mulheres em busca do curso.
Bruna acredita que o programa voltado ao público feminino sirva para desmistificar a ideia de que artes marciais são apenas para homens. “Eu estou fazendo a minha parte”, diz ela. A professora conta que seu objetivo é tornar as aulas confortáveis, de modo que auxiliem a autoconfiança das alunas, para que elas continuem a praticar artes marciais.
Bruna Queiroga - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Quando eu pesquiso sobre karatê na internet, só encontro homens falando sobre outros homens, então o fato de eu ter uma sensei, faixa preta, me ensinando é muito empoderador."
As aulas possuem um momento específico para trabalhar a expressividade feminina, por meio do grito, o Kiai. “É a oportunidade de colocar para fora e treinar a voz para que a mulher consiga fazer denúncias e reclamações, o que, muitas vezes, pode ser difícil para ela, porque isso exige uma força interna”, explica Bruna.
“O Kiai é de arrepiar”, conta Amanda. “A gente espera que, no final do curso, nós todas estejamos fazendo o Kiai como um coro, para externalizar a força feminina”, almeja a aluna da FFLCH.
Desenvolvimento pessoal
O foco do karatê não é ensinar seus praticantes a se defender em caso de risco, mas inevitavelmente acaba ajudando com suas técnicas de combate. “A parte de defesa pessoal é o último objetivo, mas você precisa estar preparado. O karatê ajuda nesse processo por trabalhar a percepção, alguns movimentos de ataque e principalmente a preparação mental”, pontua Bruna.
As aulas sempre iniciam com momentos de meditação para trabalhar especialmente o desenvolvimento mental. “Nós procuramos trabalhar com emoções, sensações e autopercepções das alunas”, diz Bruna. “Se o seu psicológico não estiver controlado, você não vai saber o que fazer em uma situação de risco”, complementa.
A aluna Rosângela conta sobre sua experiência de renovação pessoal a cada aula. “O curso vem sendo uma salvação para mim. Eu entro no tatame e esqueço os problemas”, conta. Amanda concorda e diz que as aulas ajudam a controlar a ansiedade e depressão, “é o melhor momento do dia”.
Além do empoderamento e das noções de defesa pessoal, as aulas contam com momentos de meditação - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Turmas mistas
Apesar das vantagens das turmas separadas, é possível enxergar aspectos importantes em turmas formadas por homens e mulheres. “A pessoa que vai fazer o curso, não vai estar fechada com o tipo de público no dia a dia. Ela precisa ter uma noção de quem são os outros”, observa Tambucci. “Nosso objetivo também é preparar a aluna para estar confortável e confiante em ambientes mistos”, reforça Bruna.
Tambucci explica que o ideal seria trazer turmas iniciais que sejam separadas, para os alunos e alunas ganharem confiança e, em seguida, misturá-las, pois assim haveria um novo grau de dificuldade a ser superado. “Eu percebo que as pessoas que permanecem após as modalidades iniciais, vão evoluindo de tal forma que, em níveis mais avançados, buscam homens e mulheres mais fortes para testar suas habilidades”, conta o professor do Cepê.
Serviço:
Karatê Feminino – inscrições presenciais
Segundas e quartas, das 12 às 13 horas
Centro de Práticas Esportivas da USP
Praça 02, Prof. Rubião Meira, 61 – Cidade Universitária, São Paulo
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