"As propostas sinodais relativas ao papel das mulheres na Igreja Católica encontraram uma considerável oposição. A instituição resiste à mudança, citando visões antropológicas e teológicas ultrapassadas".
A opinião é de Isabelle de Gaulmyn, editora-sênior do La Croix e ex-vaticanista. O artigo foi publicado por La Croix International, 01-11-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o artigo.
Decididamente, as coisas continuam estagnadas para as mulheres na Igreja Católica! Não é de surpreender, e não sem uma certa consternação, que os participantes na assembleia sinodal sobre reforma eclesial, que acaba de concluir sua primeira sessão, tenham manifestado a maior oposição às propostas relativas ao papel das mulheres...
Estamos em 2023, e as mulheres ocupam cargos de responsabilidade política, econômica e judicial. Mas, na Igreja, o progresso continua lento! Foi apenas em 2021 que as mulheres – 50 anos depois dos homens – foram reconhecidas como capazes de exercer os ministérios de leitora e acólita, ou seja, poderem ler e servir ao altar na missa. Quanto ao Sínodo, ele cuidadosamente evitou tomar uma posição sobre o acesso das mulheres ao diaconato permanente, algo que é possível aos homens desde 1964.
No entanto, devemos dar crédito à assembleia – e isto não é pouca coisa – por colocar o papel das mulheres na Igreja na vanguarda das questões urgentes a serem abordadas em seu relatório final. Mas ainda estamos surpresas ao constatar que, para alguns de seus membros, o acesso das mulheres ao diaconato seria “uma fonte de perigosa confusão antropológica”. Que confusão e que antropologia?
Isso vai ao cerne da profunda resistência à mudança. Para alguns, existe uma “natureza feminina”, que não teria a vocação de representar a figura universal do ser humano, que estaria reservada aos homens. Em suma, as mulheres são diferentes. São gentis, emotivas, generosas, sensíveis... Enfim, as mulheres não são realmente homens, e é exatamente isso que tranquiliza os homens! Nunca ouvi um líder da Igreja falar sobre “especificidade masculina”.
Um lugar designado para mulheres
Mas, para as mulheres, por outro lado, quantas vezes nos falam, muitas vezes até em termos lisonjeiros, das nossas qualidades específicas, que geralmente têm a ver com a maternidade, quer se tenha ou não filhos. Até o Papa Francisco afirmou isso recentemente. “As mulheres do povo santo e fiel de Deus são um reflexo da Igreja. A Igreja é feminina, é noiva, é mãe”, disse ele à assembleia sinodal no dia 25 de outubro.
Isso faz parte de uma teologia muito citada que associa o feminino, usando uma referência mariana, à identidade mística da Igreja. Em contraste, o princípio petrino é equiparado ao poder, à autoridade e à razão eclesiásticos. Essa teologia traz as marcas de uma antropologia antiquada. A Igreja considera as mulheres como mães em primeiro lugar e depois como fiéis? Ou a mulher é fiel porque é mãe?
Enquanto mantivermos esse ponto de vista antropológico, que atribui às mulheres um lugar definido, as coisas permanecerão como estão. No entanto, a assembleia sinodal reafirmou vigorosamente que todos os batizados e batizadas são iguais em dignidade. Além disso, e este é um importante passo à frente, pela primeira vez o papa nomeou 70 membros não bispos, incluindo homens e mulheres leigos, para participarem com igual direito a voto. Essa é a saída para o impasse atual.
Se a nossa pertença e missão na Igreja derivam do batismo, então não há nenhum espaço para relegar o poder sagrado a alguns (clérigos), com base em uma antropologia ultrapassada. A Igreja é o lugar de “todos, todos, todos”, para retomar outra insistência do Papa Francisco.
Uma Igreja organizada em torno de uma igualdade baseada no batismo? Mais do que adaptações destinadas a permitir esta ou aquela função às mulheres, isso exige uma verdadeira revolução. Que não é outra senão aquela introduzida pelo Evangelho, que levou São Paulo a dizer aos Gálatas (3,27-28): “Não há mais homem nem mulher”. E isso foi há cerca de 2.000 anos!
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