Pesquisa apontou que cabelos de mulheres negras têm 2,5 vezes mais chances de serem percebidos como ‘não profissionais’. Vendedora ouviu que tranças estavam ‘mais para feira hippie’.
Agência Patrícia Galvão
“Tem que mandar um e-mail com fotos para a supervisora autorizar que coloque tranças”. A vendedora Gessica Justino ouviu a frase acima dita pelo gerente da loja de telefonia da qual era funcionária, após contar que pensava em mudar o penteado.
Era a segunda vez que ela pretendia usar tranças naquele local de trabalho. Um ano antes, a carioca adotou os dreads e acabou sendo constrangida pela supervisora diante de cerca de 20 pessoas, em uma reunião.
A mulher disse que aquele cabelo “não era padrão da empresa” e que parecia “mais um cabelo para uma feira hippie“. “Se quiser estar aqui, tem que se adequar a um padrão”, afirmou.
“Existe uma régua [invisível] no mercado de trabalho sobre qual é o padrão do cabelo profissional, que exclui mulheres de cabelos cacheados ou crespos”, diz a especialista em diversidade e inclusão em empresas Luana Genót.
A advogada em direito antidiscriminatório Luana Pereira explica que casos como esse são vistos como discriminação por conta da raça, etnia ou religião e podem ser considerados racismo.
Quando a situação é vivida dentro da empresa, a recomendação da especialista é que a vítima busque a Justiça do Trabalho (veja mais orientações ao fim da reportagem).
Foi o que Gessica fez: em 2011, ela entrou com uma ação por danos morais no Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro. Depois de seis anos, a vendedora ganhou o processo em primeira instância e a empresa não recorreu.
Gessica afirma que, embora tenha sido “ferida” pelo preconceito, saiu “fortalecida para as próximas jornadas”.
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